Flamengo x Atlético-MG: relembre o confronto pelo Brasileirão de 1980

21/10/2024, 22:11
Nunes comemorando o gol da vitória do Flamengo contra o Atlético-MG, na final do Brasileirão de 1980.

Flamengo e Atlético-MG formam uma das maiores rivalidades interestaduais do Brasil. As equipes se enfrentarão mais uma vez em um confronto decisivo, desta vez na final da Copa do Brasil. O MRN irá relembrar em uma série de reportagens os duelos marcantes entre as equipes. A primeira delas é sobre a decisão do Brasileirão de 1980.

O Flamengo fez a melhor campanha na competição, por isso chegou à final precisando de dois empates ou uma vitória e uma derrota, desde que a diferença de gols fosse a mesma. O Rubro-Negro também jogaria a segunda partida no Maracanã.

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No primeiro jogo, no Mineirão, Zico foi desfalque para o Mais Querido, por conta de lesão muscular sofrida na semifinal, contra o Coritiba. Reinaldo aproveitou falha de Júnior para chutar forte de esquerda e fazer o gol do jogo, obrigando o Flamengo a vencer a segunda partida para ser campeão.

O lance que marcou a partida, para o Flamengo, foi a grave contusão de Rondinelli. O Deus da Raça levou um empurrão, soco ou cotovelada de Palhinha (existem diversas versões sobre o acontecido), batendo com a cabeça na trave. O defensor fraturou o maxilar e deixou o jogo com suspeita de concussão.

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Precisando vencer a partida para conquistar o Brasileirão pela primeira vez, o Flamengo contou com 154.355 pagantes (o então maior público da história do Brasileirão, até ser superado em 1983) para apoiar rumo ao inédito título. Manguito foi escalado para substituir Rondinelli. O Rubro-Negro estava mordido pela derrota e pelo que aconteceu com o defensor.

Logo aos sete minutos, o Mengão abriu o placar. O zagueiro Osmar, do Atlético, tentou sair jogando, mas acabou esticando demais. Andrade roubou e acionou Zico. O Camisa 10 da Gávea deu passe magistral para Nunes, que tocou na saída do goleiro João Leite, abrindo o placar. O time mineiro respondeu rápido, com Reinaldo fazendo o empate quase da linha de fundo. A bola desviou em Marinho e tirou o goleiro Raul do lance: 1 a 1.

A partida seguia equilibrada, com Zico sendo duramente marcado. Além da marcação implacável, muitas vezes desleal, como o lance em que Chicão quase quebrou a perna do Galinho, o alvinegro fazia bastante cera com o seu goleiro.

O Mengão tinha mais volume na partida, com o Atlético-MG aproveitando espaços e dando escapadas perigosas. Aos 41 da primeira etapa, Toninho levantou para a área, mas a defesa do Atlético despachou. No rebote, Júnior chutou, foi bloqueado, fez novo arremate e a bola encontrou Zico, dentro da área, marcado por três defensores. Quase caindo, o ídolo mandou para as redes, deixando o Maracanã em estado de êxtase.

Confusão e drama

A segunda etapa se manteve no mesmo ritmo do primeiro tempo, com muitas disputas físicas e gols. Aos 16 minutos, o Atlético-MG empatou com Reinaldo, que recebeu nas costas da zaga para finalizar de primeira. Raul tocou na bola, mas ela acabou entrando, trazendo tensão novamente para o Maracanã.

Reinaldo ficou revoltado após a marcação equivocada de impedimento, gerando uma enorme confusão. Apesar de ter condições no lance, o Camisa 9 do Atlético-MG se colocou na frente da bola, impedindo a reposição do Flamengo, depois chutando para atrapalhar ainda mais. O árbitro José de Aragão expulsou o atacante, o que desencadeou num caos em campo.

O técnico do time mineiro, Procópio Cardoso, junto com os atletas que estavam no banco, invadiram o gramado, paralisando a partida. Com isso, o treinador também foi expulso. Na crônica da partida, publicada pela revista Placar, estava o seguinte relato: “Reinaldo cai em campo – sente o músculo, faz cera, xinga a mãe do juiz. José de Assis Aragão revida: ‘Quebro a cara desse moleque. Tá expulso!’”. Toda a confusão esfriou o jogo, beneficiando o Atlético-MG, que estava conquistando o título com o resultado.

O artilheiro das decisões apareceu

Restando pouco menos de 10 minutos para acabar o tempo regulamentar, começava a consagração do “Artilheiro das decisões”. Nunes recebeu de Andrade, tentou cruzar, a bola bateu na defesa e voltou. O Camisa 9 fez linda jogada individual, driblando Silvestre e arrancando em direção à linha de fundo. João Leite tentou fechar o canto, mas o atacante chutou forte e colocou o Rubro-Negro em vantagem novamente.

Nos minutos finais, Chicão deu um pontapé em Tita, que fazia embaixadinhas buscando gastar o tempo. O jogador do Atlético-MG foi expulso direto. Em seguida, Palhinha bateu boca com o juiz, também recebendo o vermelho.

Mesmo com três a mais, o Flamengo sofreu um susto: o time trocava passes para trás, mas Pedrinho chegou de surpresa, roubando a bola e passando por Raul. Com o gol aberto, o jogador do Atlético-MG estava em ótimas condições para estragar a festa rubro-negra. Mas Andrade, com muita raça, chegou no exato momento do chute para bloquear.

Foi o último ato do grande duelo entre Flamengo e Atlético-MG, que garantiu a alegria da Nação, vendo o Mais Querido ser Campeão Brasileiro pela primeira vez. O gramado foi rapidamente invadido, com muitos atravessando ajoelhados, agradecendo e pagando promessas.


28/05/1980 – Atlético Mineiro 1 x 0 Flamengo
Local:
Mineirão, Belo Horizonte
Gol: Reinaldo (9’2T)
Flamengo: Raul, Carlos Alberto, Marinho, Rondinelli (Nélson) e Júnior; Andrade, Carpegiani e Tita; Reinaldo, Nunes (Anselmo) e Carlos Henrique.
Téc: Cláudio Coutinho
Atlético: João Leite, Orlando (Marcos Vinícius), Osmar, Luizinho e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho Gaúcho, Reinaldo e Éder.
Téc: Procópio Cardoso

01/06/1980 – Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 154.355 pagantes)
Gols: Nunes (7’1T), Reinaldo (8’1T), Zico (44’1T), Reinaldo (21’2T) e Nunes (37’2T)
Flamengo: Raul, Toninho, Marinho, Manguito e Júnior; Andrade, Carpegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio César (Carlos Alberto).
Téc: Cláudio Coutinho
Atlético: João Leite, Orlando (Silvestre), Osmar, Luizinho (Geraldo) e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho Gaúcho, Reinaldo e Éder.
Téc: Procópio Cardoso