Nascemos para jogar pra frente. Torço para que o Abel lembre logo disso e deixe determinadas práticas timepequenenses de lado.
Por Pedro Henrique Neschling – Twitter: @PedroNeschling
Início de temporada é época de preparação e experimentações. Tudo que se sabe até agora é que não fazemos ideia do que vai ser lá na frente. Por exemplo: é evidente que De Arrascaeta veio para ser titular. No lugar de quem, arrisque seu palpite.
Quem souber com certeza se o Bruno Henrique vai deixar o Vitinho no banco ou vice-versa, por favor, me passe os números da mega-sena. Desse embate a única certeza que temos é que será muito mais prazeroso assisti-lo do que a eterna disputa entra Pará e Rodinei para ver que faz mais merda na lateral-direita.
No entanto uma coisa já é bastante clara em meio a tantas elucubrações: Abel, nosso comandante-em-chefe, tem um carinho especial por um volante. Quer dizer, por dois. Ou melhor, por três. Não teve um jogo ainda — tudo bem que só foram cinco — que ele não tenha terminado com três “cabeças-de-área” em campo.
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Sábado passado contra o Botafogo, nossa equipe sobrando em campo no 2º tempo, ele me saca o Diego para colocar Piris da Mota e larga o Arrascaeta no banco. Segundo o próprio foi coisa de “gato e rato já que o técnico deles tinha colocado o Pimpão e avançado a equipe”. Porra, na moral, se o Zé Ricardo lançar o Pimpão é suficiente para assustar o Abelão, imagina quando o time adversário tiver um atacante perigoso pra entrar? Certeza que o Gabigol vai terminar a partida de zagueiro.
Tem que ver isso aí, Abel. Eu juro que quero te entender. Estou aqui com a melhor das vontades querendo acreditar que você é o cara que veio botar ordem nesse time. Mas, poxa, me ajuda a te ajudar.
Entendo que futebol é imediatista pra burro e que qualquer semi-tropeço vira tempestade. A cada ano que passa o Estadual parece valer menos do que o nada que já valia, mas mesmo assim se der mole e empatar com o Botafogo vem logo todo mundo dizer que o “Flamengo milionário tá vacilando perto do valente alvinegro #crisenagávea”. Abel é experiente o suficiente para querer fechar a conta quando a partida está ganha e garantir a paz que precisa para implementar seu trabalho pra quando o momento da verdade realmente chegar.
Só que quando essa tática se torna recorrente — sim, ele terminou com três volantes contra o Bangu com um a menos — demonstra um padrão que assusta. Uma das coisa que mais me irrita no Flamengo nos últimos anos é a incapacidade de acabar com o jogo quando estamos vencendo. Parece que sempre quer dar chance para o adversário aprontar alguma mesmo com os caras dando pinta que já estão pensando onde vai ser o jantar depois que a partida acabar. Tenho certeza que essa recuada do Abel, pelo menos na cabeça dele, é pra acabar com isso.
Mas Flamengo não foi feito para jogar atrás apesar de Joel Santana durante muito tempo ter insistido no contrário dessa afirmação com algum relativo sucesso. Acontece que Papai Joel tinha no máximo um Torozinho à sua disposição, enquanto Abel tem alguns dos mais talentosos jogadores disponíveis no Brasil hoje.
Nascemos para jogar pra frente. E, se necessário for, prender a bola por lá para que o adversário não se inflame demais. Torço para que o Abel lembre logo disso e deixe determinadas práticas timepequenenses de lado, assumindo o DNA protagonista do Flamengo em sua indiscutível competente organização tática.
Claro que ganhar é bom. Mas ganhar sendo Flamengo é muito melhor.
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Alexandre Vidal / Flamengo
Pedro Henrique Neschling nasceu no Rio de Janeiro, em 1982, já com uma camisa do Flamengo pendurada na porta do quarto na maternidade. Desde que estreou profissionalmente em 2001, alterna-se com sucesso nas funções de ator, diretor, roteirista e dramat...