Não existe ressurreição sem uma história épica por trás. O que estamos assistindo é o possível renascimento do gigante rubro-negro no cenário internacional e, portanto, não haveria de ser menos dramático do que se desenha.
A partida contra o Junior foi mais uma amostra de como esse time atual gosta de nos maltratar. Após uma exibição revigorante contra o ressacado Corinthians, entramos na partida de quinta-feira com uma ligeira sensação que assim, quem sabe, talvez, de leve, estivéssemos engrenando. Nem que fosse ultra-tardiamente para as últimas 6 partidas do ano.
Ledo engano. Nosso esquadrão voltou a entregar o que vem nos arruinando a saúde durante o ano. Uma ineficiência desesperadora, um temporal de bolas alçadas a área em busca de atacantes que, curiosamente, estão longe de ser especialistas no quesito bola aérea.
E o quadro piorou. Muito. Diego Alves, a flama que insistia em incendiar essa eterna lenha molhada que são esses caras, caiu avariado logo no começo.
Suspensão no tempo-espaço.
Corações pararam de bater.
Eu apenas me perguntava se aquilo era mesmo vida real ou se estava na Matrix.
Ver Muralha entrando em campo me afundou no sofá.
Parecia uma cena do meu pior pesadelo.
Não deu tempo nem de amaldiçoar a má fortuna.
54 segundos depois a bola já entrava na nossa meta.
Não se trata mais de questionar a competência do maluco. Existe uma coisa chamada “sorte de campeão” e essa, amigas e amigos, definitivamente não acompanha esse arqueiro que teme a bola.
Mas, para nosso alívio, a contenda era no Maracanã. E o Maracanã tem alma que nem uma reforma padrão FIFA e uma administração Odebrecht serão capazes de arruinar.
Depois de uma primeira etapa desastrosa, onde parecia que tudo em que acreditamos não passara de uma vã ilusão, retornamos para o segundo tempo com cara de Flamengo. Postura de Flamengo. Coragem de Flamengo.
Um Flamengo bem mais ou menos, é verdade. Um Flamengo anos luz do que deveria ser por sua grandeza genética. Mas, ainda assim, Flamengo. E isso muitas vezes basta.
Bastou.
Juan, nosso mestre dos magos. Nossa torcida em campo. Nossa lembrança de como todos que vestem vermelho e preto deveriam ser. Foi ele que testou a bola contra a rede com uma fúria ancestral. O fogo se alastrou pelas arquibancadas de tal forma que os hermanos de Barranquilla se acovardaram. Sabiam que não seriam mais capazes de nos segurar.
Até que em um momento de mágica Vizeu demonstrou o que um centro-avante deve fazer ao fuzilar a meta em um golaço daqueles que ficam na memória das grandes conquistas.
O magro resultado nos deixou com uma pequena vantagem. O que para nós é imenso já que sabemos muito bem que não sabemos administrar grandes vantagens.
Temos o empate a nosso favor e nada além disso. Magnífico.
Na partida de volta, eles terão que se arriscar. E pra jogar, tem que deixar jogar. Portanto, venham com tudo, Junior. E deixa os garotos brincar.
Minha confiança só não é maior do que meu receio.
Sei que muitos acreditam em Destino. Que veem na sádica brincadeira do imponderável de nos privar do talento do maior goleiro do Brasil hoje uma oportunidade para Muralha se redimir. “Os humilhados serão exaltados”. Acho bonita essa fé. Mas a minha foi por terra na final da Copa do Brasil. Para piorar, a insegurança que o Alex demonstrou no pouquíssimo que foi exigido na partida de quinta-feira deixa claro e cristalino que não podemos mais arriscar.
Tenho apenas um mantra que repetirei até o fim do ano: somos César + 10.
Torço para que Rueda comungue da mesma Igreja.
César deu demonstrações nas categorias de base de ter enorme talento. Nas poucas vezes que teve oportunidade no nosso esquadrão profissional também não decepcionou. César sabe pegar pênalti. Ou ao menos tentar. Por ora, é o que temos e em quem devemos apostar.
Dito isso, vamos em frente. Temos uma taça para conquistar.
Pedro Henrique Neschling nasceu no Rio de Janeiro, em 1982, já com uma camisa do Flamengo pendurada na porta do quarto na maternidade. Desde que estreou profissionalmente em 2001, alterna-se com sucesso nas funções de ator, diretor, roteirista e dramaturgo em peças, filmes, novelas e seriados. É autor do romance “Gigantes” (Editora Paralela/Companhia das Letras - 2015). Siga-o no Twitter: @pedroneschling
Imagens destacadas no post e nas redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
Pedro Henrique Neschling nasceu no Rio de Janeiro, em 1982, já com uma camisa do Flamengo pendurada na porta do quarto na maternidade. Desde que estreou profissionalmente em 2001, alterna-se com sucesso nas funções de ator, diretor, roteirista e dramat...