Alguns hobbies tive na vida, mas nenhum deles se aproxima do misto de emoções proporcionado pelo Flamengo. Aliás, nem mesmo podem ser comparados, pois ser Flamengo não é hobby, mas cumprimento de missão.
Dentre os primeiros brinquedos, lá estava o ursinho rubro-negro. Entre as primeiras roupas, sua camisa se fez segunda pele. Entre os endereços da vida, o Maracanã é casa imutável.
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Com a bola no pé, ainda menino, sonhei em ser Zico. Quando a tive nas mãos para fazer escolhas, arremessei com convicção, disposto a repetir Marcelinho na mais bela cesta de três. Se a vida trouxe obstáculos, saltei como Rebeca Andrade. E quem é que nunca precisou remar para alcançar um objetivo?
Pode-se concluir que o torcedor rubro-negro é um ser obstinado por natureza. Uma vez desafiado, parece querer provar — não aos outros, mas a ele mesmo — que o seu clube é capaz. E não só acredita, como participa do processo, sendo ele próprio — o torcedor — um a mais dentro do campo, da quadra ou da água. Daí a explicação para tantos títulos “fáceis” perdidos, por excesso de confiança, e tantas façanhas inigualáveis protagonizadas.
Um dia, quando contarem a história do esporte mundial, não poderão ignorar o Flamengo. Nem mesmo se os autores da obra forem tricolores, vascaínos ou botafoguenses. Afinal, quem mais do que o Flamengo povoa a mente dos torcedores rivais, causando um misto de raiva, inveja e — quiçá — admiração oculta? Se todo brasileiro não foi Flamengo por um dia, como declarou Nelson Rodrigues, ao menos desejou ser.
Felizes de nós, rubro-negros, por termos o Mais Querido para chamar de nosso. Pudesse voltar ao momento do parto, não chorava; gritava “Mengo!”.