Se o plano era se foder, o planejamento deu certo 

25/04/2024, 09:37
LA PAZ, BOLÍVIA - 24 DE ABRIL: Bruno Henrique do Flamengo chuta a bola contra Renzo Orihuela do Bolívar durante a partida do grupo E da Copa CONMEBOL Libertadores entre Bolívar e Flamengo no Estádio Hernando Siles em 24 de abril de 2024 em La Paz, Bolívia

Isoladamente, no papel, a explicação faz sim sentido. Allan não poderia viajar pra Bolívia por conta dos traços falsêmicos que agravam seus problemas com a altitude. Léo Pereira teve um quadro viral. Cebolinha está com a panturrilha lesionada.

E Varela, Ayrton Lucas, Erick Pulgar, Arrascaeta e Pedro foram poupados de acordo com o planejamento da comissão técnica. Parece sensato, parece razoável, quando você ouve a palavra “planejamento” te vem até um senso de propósito e organização.

A questão é que, ainda que ter um plano normalmente seja melhor do que não ter plano nenhum, o simples fato de você ter um plano não garante, em nível algum, que esse plano seja necessariamente bom.

JOÃO LUIS JR: O jogo não foi bonito, mas o resultado esteve longe de ser ruim

E um exemplo claro disso foi a derrota do Flamengo para o Bolívar nesta quarta-feira, um resultado que não só quase zera nossas chances de classificar em primeiro do grupo como até mesmo coloca em risco nossa participação no mata-mata da Libertadores.

Porque sim, numa temporada longa, é claro que vai ser necessário dosar e poupar jogadores. Mas eles não deveriam ser poupados nos jogos menores e utilizados nos grandes? Faz algum sentido poupar na Libertadores pra usar, por exemplo, no Carioca? O jogo mais importante do grupo, contra o time mais forte, no campo mais complicado, não deveria ser o jogo pro qual guardamos nossos principais jogadores? Que planejamento é esse em que você se planeja pra não contar com seus titulares quando mais precisa deles?

Mas ainda que possamos dar vários exemplos de tudo que deu errado na derrota lamentável ocorrida em La Paz, desde a decisão de Tite de começar a partida com 3 zagueiros até as atuações bisonhas de diversos jogadores, nada descreve melhor os problemas do planejamento rubro-negro quanto a situação do lateral-direito Wesley.

O meio-campista do Flamengo Gerson e o atacante argentino do Bolívar, Patricio Rodriguez, brigam pela bola durante a partida de ida da fase de grupos da Copa Libertadores entre o Bolívar da Bolívia e o Flamengo do Brasil, no Estádio Hernando Siles, em La Paz, em 24 de abril de 2024.
Foto: Jorge Bernal / AFP por Getty Images

Sim, Wesley, um atleta que atuando no nível do mar, em plenas condições de saúde, numa temperatura amena e contando com uma torcida composta apenas por amigos e familiares entoando cânticos motivacionais, já teria imensas dificuldades para apresentar um bom futebol. Agora imagine Wesley, voltando de lesão, na altitude de La Paz, jogando num esquema tático com o qual não é familiarizado. 

O que se viu foi uma das mais trágicas exibições já realizadas por um lateral rubro-negro, num espetáculo lamentável de dribles sofridos, cruzamentos não cortados e lances em que Wesley não parecia estar enfrentando apenas o time adversário, mas sim a gravidade, a bola, a natureza ao seu redor e até mesmo seu próprio sistema nervoso.

Mais do que uma atuação ruim, Wesley ofereceu a cada um de nós a oportunidade de ver, em tempo real, como são criados os pesadelos que farão rubro-negros, daqui a décadas, levantarem suando frio durante a madrugada, balbuciando frases como “quem você tava marcando, maluco???”.

E por que Wesley estava lá? Porque alguém, em algum momento, decidiu que o Flamengo não precisava contratar um lateral-direito. Que mesmo com Varela longe de ser um craque e frequentemente servindo a seleção, a posição não precisava de reforços.

O resultado dessa decisão? Wesley, um dos jogadores mais questionados do elenco, titular numa partida decisiva, errando absolutamente tudo que tentou fazer, e sendo instrumental numa derrota que complica bastante nossa situação.

São decisões como essa, que subestimam problemas, que não levam em consideração a gravidade real dos problemas, que parecem confiar num planejamento dissociado da realidade, que levam a resultados como o desse meio de semana, onde podemos terminar a primeira metade da fase de grupos até mesmo fora das duas primeiras colocações. Ou seja, é importante sim ter um planejamento. Mas pra realmente funcionar, o planejamento precisa ser bem feito.