O sentimento de tristeza por conta da possível mudança de nome do Maracanã é explicado por vários motivos.
Dentre as diversas histórias que fazem do Estádio Mário Filho um palco sagrado do futebol mundial, uma envolve o Rei Pelé, que de longe, observa seu nome metido em polêmica por conta da suposta homenagem de alguns deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).
Há quase 42 anos, Edson Arantes do Nascimento vestiu as cores do Flamengo em pleno Maraca lotado.
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No dia 6 de abril de 1979, o maior jogador de futebol de todos os tempos entrou em campo usando a camisa 10 do Rubro-Negro, tudo isso por um motivo bem nobre.
O jogo amistoso contra o Atlético-MG tinha como intuito arrecadar dinheiro para as vítimas das chuvas que atingiram Minas Gerais, estado natal de Pelé, em janeiro e fevereiro daquele ano, deixando 246 mortos e milhares de desabrigados.
Com isso, além de apoiar uma causa importante, os 139.953 que pagaram ingresso, gerando uma renda de mais de 8 milhões de cruzeiros, poderiam também ver de perto o tricampeão do mundo pela Seleção.
Outro presente que essa multidão de sortudos recebeu, foi ver algo extremamente raro: Pelé vestindo a camisa de um time do Brasil sem ser o Santos. Entre o final dos anos 50 e a metade dos anos 70, esse era o sonho de torcedores de todas as equipes do país, algo que nunca aconteceu, já que o clube paulista sequer cogitou negociar o maior jogador de sua história nos anos em que ele estava no auge.
De Rei Pelé para Rei Z
Naquele jogo festivo, a grande estrela do show era convidado de honra. Com isso, Zico, maior ídolo da história do Flamengo, resolveu ceder sua camisa 10 para Pelé, entrando em campo com a 9.
Querendo “botar água no chopp” dos flamenguistas, o Atlético abriu o placar aos 21 minutos de jogo com um gol de Marcelo (Oliveira, hoje técnico).
Mesmo com 38 anos, um ano e meio após se aposentar do futebol vestindo a camisa do Cosmos, o Rei se mostrava em forma, com uma ótima movimentação e buscando tabelas com Zico e Tita.
Pênalti para o Flamengo, quem bate?
Aos 35 minutos, a torcida vibrou. O árbitro Walquir Pimentel marcou pênalti de Luisinho em cima de Tita. Imediatamente, todos os olhos se voltaram para Pelé, que teve a oportunidade de marcar um gol com a camisa do Flamengo.
Embalado pelo coro do Maracanã que gritava o nome do Rei, Zico chegou a entregar a bola para o eterno camisa 10 do Santos, que há 10 anos atrás, em novembro de 1969, marcou o gol de número 1000 na carreira, no mesmo estádio, contra o Vasco. No entanto, desta vez, Pelé não fez a vontade dos seus “súditos”, devolvendo a bola para o Galinho, que empatou a partida.
Sem Pelé, Fla dá show
Mesmo sem balançar as redes, Pelé deixou o amistoso no intervalo, sendo substituído por Luisinho das Arábias. Contudo, sem o maior craque de todos os tempos, o Fla subiu de produção. Na segunda etapa, o time da Gávea marcou mais quatro gols. Com dois de Zico, um de Luisinho e outro de Cláudio Adão, o Rubro-Negro deu números finais ao duelo: Flamengo 5 x 1 Atlético-MG.
Emocionado, o Rei agradeceu a presença do público, exaltando também a importância do futebol: “Uma honra muito grande e eu gostaria de agradecer esse povo que veio colaborar conosco nesta festa e eu estou tão emocionado, que realmente não tem palavras para agradecer, que só o futebol poderia dar tanta ajuda para aqueles que estão necessitados lá em Minas”, disse ele.
Confira os melhores momentos do duelo:
Em 2020, no aniversário de 80 anos do Rei Pelé, Zico publicou um vídeo em seu canal do YouTube, relembrando aquela partida histórica.
“A experiência foi fantástica. Ele realizando o desejo que todo mundo gostaria de poder jogar ao lado dele. Ele foi muito simpático, muito solícito, um dia e um evento importante para ajudar muita gente que tinha sofrido com a tragédia lá das enchentes”, disse Zico sobre a causa do jogo.
FICHA TÉCNICA
Flamengo 5 x 1 Atlético-MG
Data: 6 de abril de 1979
Local: Maracanã
Público: 139.953 pagantes
Renda: CR$ 8.781.290,00
Árbitro: Walquir Pimentel
Auxiliares: José Carlos Moura e Roberto Coelho
Gols: Marcelo (21 do primeiro tempo), Zico (35, 10 e 14 do segundo tempo), Luisinho (28) e Cláudio Adão (39)
Flamengo: Cantarelli, Toninho, Rondinelli (Nelson), Manguito e Júnior; Andrade, Carpegiani (Ramirez) e Pelé (Luisinho); Tita, Zico (Cláudio Adão) e Júlio César (Reinaldo). Técnico: Cláudio Coutinho
Atlético-MG: João Leite, Alves, Osmar, Luisinho e Hilton Bruniz; Toninho Cerezo, Marcelo (Carlinhos) e Paulo Isidoro; Serginho (Pedrinho), Dario e Ziza (Vilmar). Técnico: Procópio Cardoso
Bacharel em Jornalismo pela FACHA, e pós-graduando em Jornalismo Esportivo na UERJ. Mesmo com 24 anos, já posso dizer que fiz de tudo um pouco na comunicação. Atualmente trabalho na assessoria de imprensa da deputada Martha Rocha, e sou redator nos sit...