O Flamengo dos meias! Assim deve ficar conhecido o time que Tite está começando a preparar para a temporada de 2024. Com Arrascaeta, Gerson e Pulgar mais entrosados e acompanhados de Nicolás de la Cruz, um dos melhores meias atuando no continente, o rubro-negro tem demonstrado aproximações e o retorno das famigeradas tabelas, que tanto são exigidas por uma ala da torcida.
Como é característico de times de Tite, estes passes precisam ser rápidos, pois suas equipes geralmente possuem altas taxas de “PPM” (passes por minuto de posse de bola). Com essa velocidade, é mais difícil destas jogadas serem marcadas e mais fácil encontrar alguém livre.
➕ Estreia do Flamengo versão 2024 é de dinâmicas inéditas com Tite
A movimentação gerada por este meio é tamanha, que é comum ver Arrascaeta nos dois lados do campo e mesmo ver De La Cruz conduzir a bola até a margem esquerda do gramado. Tal movimentação gera espaços que precisam ser atacados, mas eles têm encontrado uma “barreira”.
O centroavante Pedro, que é um craque de bola, possui característica de um nove clássico cada dia mais raro no futebol mundial. E essa raridade não é à toa, pois os maiores centroavantes do mundo, como Kane e Haaland apresentam mais capacidade de movimentar-se e abrir espaços do que o camisa 9 da Gávea.
Pedro é um jogadoraço. De técnica refinada, que gosta de receber bolas no pé. E sua baixa movimentação está, digamos assim… fora de moda!
Esta característica pode ser essencial para times que se movimentem mais pelos corredores. Times que, de fato, sejam dos “pontinhas”, têm nos centroavantes clássicos uma verdadeira âncora que empurra a última linha de defesa do adversário para trás e ajuda a segurar a bola no ataque.
No entanto, a mesma característica que soluciona problemas em um modelo, pode criar problemas em outro. Uma vez que um time já atua muito por dentro e já possui maior retenção da bola por ali, precisa de espaços. Espaços para atacar em infiltração, ou jogadores de frente para atacá-los e assim receber passes em profundidade.
Veja na figura 1 como o Flamengo completamente por dentro fica entregue aos marcadores do Vasco.
Figura 1 – Flamengo aproxima seus jogadores, mas sem opções de ataque a profundidade, é entregue à boa marcação imposta pelo Vasco de Ramón Diaz
Este não será um problema novo para Pedro, que viveu verdadeiro drama (bem antes do fatídico soco na cara) durante a passagem do argentino Jorge Sampaoli. Com intenções diferentes das de Tite, a movimentação que hoje é cobrada já estava em falta, e o técnico preferia um atacante capaz de atacar a profundidade. Escolheu Gabigol e foi com ele até o fim. A péssima forma física do Camisa 10 em 2023 jogou contra, e a aposta acabou sendo frustrada.
Apesar do pênalti desperdiçado, o Gabriel Barbosa de 2024 parece diferente e já no jogo contra o Vasco participou com sua movimentação, da criação das duas únicas chances de gol do Flamengo na partida. A primeira delas foi finalizada por ele mesmo (mal finalizada), após linda enfiada de bola de De La Cruz. Enfiada essa que foi tentada enquanto Pedro estava em campo, conforme você pode ver nas figuras 2 e 3. Leia as legendas das imagens.
Figura 2 – Com Pedro na referência, defesa do Vasco é empurrada para trás e joga praticamente sobre a linha da grande área. Pedro espera a bola à frente da defesa e Arrascaeta tenta infiltrar, mas zagueiros ficam muito próximos.
Figura 3 – Com Gabriel e sem Pedro, em jogada quase idêntica de De La Cruz, a defesa do Vasco fica sem referência, sobe a sua linha deixando mais espaço nas costas para ataque à profundidade, além de espaçar-se mais e permitir passes por dentro.
Enquanto um não parece ter deficiências técnicas a serem resolvidas, mas parece combinar menos com o resto do time, o outro parece perfeito para a proposta (ao menos contra determinados adversários), mas não está tecnicamente nada bem.
Gabriel precisa fazer pouco para recuperar a confiança da torcida. Basta um passe cortado pela defesa cujo rebote dê em gol, como no penúltimo clássico ainda em 2023, que as redes sociais se enchem de amor por ele. Boa vontade conquistada em campo com gols históricos e decisões vencidas.
Porém, parece que mais será necessário para recuperar sua própria confiança. Gabriel parece com sua autoconfiança destruída e suas últimas cobranças de pênalti simbolizam isso. Mesmo sua “paradinha sem parar” já não é a mesma, tanto que o último pênalti por ele convertido foi no estilo “com raiva” diante do Coritiba.
Ainda é cedo para dizer que Gabriel merece a titularidade por seu desempenho técnico, mas já é possível dizer que os meias do Flamengo merecem essa mudança, para evoluir seu jogo e facilitar suas dinâmicas.
O quê fazer? Testar! É hora para isso…