Onde tem Flamengo? Precisamos saber sempre responder a essa pergunta

26/02/2018, 08:43
Atualizado: 04/02/2025

Confrades Flamengos,

É inevitável esse sentimento, e pela primeira vez, acredito, o tenho com relação ao futebol: o de que o ano só começa para valer na segunda-feira pós-semana de Carnaval. Com efeito, aconteceu de tudo na semana: Flamengo conquistou a Taça Guanabara (que não é um título, apenas uma comenda), depois tivemos uma boa exibição contra o Madureira e de quebra vimos o Vasco sofrendo e vencendo o Seu Jorge nos pênaltis - e pasme, depois de levar de quatro a zero estavam zoando na internet.

Isso de ver o Vasco zoando a gente depois de perder de quatro me lembra um pouco aquela velha piada de português (sou contra, mas vá lá): “Eu disse a um brasileiro burro no avião que eu era gay e não é que o brasileiro burro acreditou e veio me comendo o voo inteiro? Ora pois pois!”. O Vasco realmente nos diverte. É como o portuga a zoar o brasileiro burro. Bom, desejo boa sorte num grupo com Cruzeiro, Racing e Universidad. Nosso grupo é o da morte. O grupo do Vasco é o da morte mas que aleija antes.

No blog: Sobre moscas e ressentimentos

E eis que na quinta-feira ficamos sabendo que o Flamengo recorreu à Conmebol da condenação a dois jogos sem torcida pela Libertadores, uma condenação dolorosa e, a meu ver, desproporcional. O Flamengo espera, assim, que até terça saia uma absolvição e, assim, ainda possa vender ingressos para o jogo contra o River Plate. (Nota do Editor: A Conmebol decidiu pela manutenção da punição).

Na minha modesta opinião, tal pensamento não se coaduna com uma gestão que até hoje é indiscutivelmente a melhor, administrativamente falando, que o Flamengo já teve (não estou falando de títulos). Pensar em vender no mesmo dia do jogo ingressos para um Flamengo x River é querer, mais uma vez, criar filas, tumultos, correria e além do mais é flertar com a falta de planejamento - principalmente na segurança. Ora, estamos em um estado sob intervenção, a PM está trabalhando tal e qual menino do dique tentando tapar furo, e o Flamengo não sabe se vai fazer o maior clássico da Libertadores na quarta? Como será feito? Telefonando para o comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios, o major Sílvio, de madrugada, e dizendo “olha, suspende férias, folgas e muda a escala, vamos precisar do pessoal aí”? É assim?

Uma gestão do nível da que tem o Flamengo já cria um plano de contingência logo depois da sentença. Entra logo com o recurso, orienta torcedores a pensar alternativas de apoiar o time, planeja ações para todos os cenários, e está pronto para, com o aprendizado do fato que provocou a punição, não permitir que o acaso estrague tudo. Isto é o que eu espero da gestão rubro-negra, sempre.

Já comentei, alhures, que o Flamengo precisa decidir como se posiciona diante do Estadual, mormente deste Estadual em que volta e meia ficaremos sem o Maracanã (contra o Madureira, jogamos no Engenhão porque mr Phil Collins cantaria no dia seguinte e seu palco teria de ser montado). Porém, mandar um jogo do Estadual precisa ter o foco de que vamos jogar a Libertadores. Não podemos, de forma alguma, achar que é interessante mandar um jogo em Volta Redonda, sabendo que teremos viagens de avião pela frente. Submeter o time a três horas de ônibus e ao risco da febre amarela (espero que estejam todos vacinados) é um desgaste desnecessário e aviltante. Imaginemos, por exemplo, que tivéssemos jogado no Raulino contra o Madureira? Possivelmente o time dormiria em Volta Redonda (ou encararia a Dutra à noite, com risco da violência e do tráfego) e teria a quinta para descansar, a sexta para um breve treino antes de embarcar para o Fla-Flu em Cuiabá.

Seria uma ideia das mais esdrúxulas, submeter o time a este cansaço de uma viagem de ônibus no meio dessa maratona toda, ainda que o elenco possibilite trocas e revezamentos. Com efeito, escrevo bem antes do Fla-Flu, e me parece que este será disputado pela garotada - o que talvez seja realmente a melhor medida, num cenário em que o primeiro turno já foi conquistado e não há muito o que fazer. É óbvio que não podemos simplesmente chutar o balde - defendo que o Flamengo, como é clube que será milenar, deve preservar os bons resultados para a posteridade. E já temos uma quantidade suficiente de escores desagradáveis, principalmente naquele período entre 2002 e 2006, quando Luiz Roberto berrava gols de Coritiba, Atlético Paranaense, Paraná Clube e Criciúma com uma frequencia tenebrosa - e entusiasmo idem.

Esta situação - não saber onde vai ser o jogo - à qual retorno é tão coerente com a gestão atual quanto seria uma máquina de escrever para fazer memorandos dentro do escritório do Google. É uma gambiarra inadmissível. O Flamengo de hoje precisa saber onde vai jogar a última rodada do Brasileirão em dezembro. Precisa saber onde jogaremos a final da Libertadores. Precisa já ter compradas as passagens para o local onde será o Mundial de Clubes. Não tem cabimento um clube do nível em que estamos “descobrir” uma semana antes que jogará com o Madureira às 19h30 no Engenhão (ainda que seja melhor que se atirar para Volta Redonda, com todo respeito aos meus amigos de lá).

É uma questão de governança. É bom para o consumidor (o torcedor), é bom para os funcionários, é bom para os jogadores. Se planejam, executam, cumprem a missão. E, acima de tudo, vencem.

Um bom domingo para vocês.

Imagem destacada no post e redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo.


Gustavo de Almeida é jornalista desde 1993, com atuação nas áreas de Política, Cidades, Segurança Pública e Esportes. É formado em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense. Foi editor de Cidade do Jornal do Brasil, onde ganhou os prêmios Ibero-Americano de Imprensa Unicef/Agência EFE (2005) e Prêmio IGE da Fundação Lehmann (2006). Passou pela revista ISTOÉ, pelo jornal esportivo LANCE! e também pelos diários populares O DIA, A Notícia e EXTRA. Trabalhou como assessor de imprensa em campanhas de à Prefeitura do Rio e em duas campanhas para presidente de clubes de futebol. É pós-graduado (MBA) em Marketing e Comunicação Empresarial pela Universidade Veiga de Almeida. Atualmente, escreve livros como ghost-writer e faz consultorias da área de política, além de estar trabalhando em um roteiro de cinema.


 

 


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