Gustavo de Almeida: "Em caso de vitória, me permitirei abrir uma cerveja apenas, e elevar o copo com discrição e comedimento".
Não há como fugir disso – principalmente sabendo que estarei indo ao ar com esse texto no dia da insossa final da Taça Guanabara, torneio que já vencemos sei lá quantas vezes. Meu interesse pelo Flamengo x Boavista de logo mais pode ser comparado ao interesse pelo documentário sobre dragões de Komodo do Discovery Channel – ficarei zapeando entre os dois caso estejam no mesmo horário. E em caso de vitória, me permitirei abrir uma cerveja apenas, e elevar o copo com discrição e comedimento, saudando mais um título. Nada de gritos ou tremer e babar por causa de conquistas de taças que já deveriam vir com o nome do Flamengo impresso.
No blog: Quanto vale o show Flamengo?
Mas as reflexões rubro-negras da semana todas giraram em torno...do Botafogo. À parte a provocação do menino de 17 anos feita após o terceiro gol (depois de vários posts do twitter oficial do Botafogo fazendo referência à final da Sul-Americana, cumprimentando o Cruzeiro, etc), causou espécie o fato de o clube de General Severiano simplesmente passar recibo para o episódio, negando ao Flamengo o uso do Engenhão. O problema parece ter sido resolvido, prevaleceu o bom senso. Mas nas redes e mídias sociais era visível o desconforto, o desalento dos torcedores dos mais diversos clubes (todos condenáveis, como diz Arthur Muhlemberg), com a situação – estimulando o clube alvinegro a recusar de toda maneira abrigar a decisão da Taça Guanabara no estádio que ora está sob sua administração pelo instrumento legal da concessão pública. O alarido, o zumzumzum de vascaínos, tricolores e alvinegros buscando uma vingança de Pirro, me lembrou uma frase de Churchill muito acusada de etnocentrismo – mas que vai direto ao ponto: “Uganda é defendida por seus insetos”. O genial premier britânico foi direto ao ponto, mostrando que o problema não era exatamente a relação com o país, e sim as condições do mesmo.
Não vejo, com efeito, nenhum problema numa relação com Botafogo, Vasco e Fluminense, hoje em dia. O Flamengo se encontra, hoje e desde sempre, num patamar tão absurdamente acima, que não acredito mais em ressentimentos e rancores a nortear nossas relações – ainda que Nelson Rodrigues já tenha definido bem a relação entre Fla e Flu como “os irmãos Karamazov do futebol brasileiro”. Acredito haver algum charme nessa relação. Mas, de resto, que tipo de represálias o Flamengo pode adotar ou sofrer? “Ah o Flamengo não tem estádio”. Ora, o Flamengo tem qualquer estádio do mundo! No Brasil, basta o Flamengo pedir na internet que estádios em todo o país são oferecidos – quem é que não quer ganhar dinheiro com ingressos? Que mais vocês querem fazer contra o Flamengo. “Aimmm não vamos ceder o Henrique Dourado” é o tipo da frase que logo vira “Ih, chegaram os boletos, vende o Dourado logo”. Que mais?
Essa onda de rancor e ressentimento que começou com a história do Engenhão se prolongou até o jogo do Vasco – quando o jogador Paulinho fez um gol e torcedores da Euricolândia “comemoraram” xingando...o Vinícius Júnior!
Portanto, o que antes eu percebia como rivalidade, como uma rixa regional, começo a interpretar agora apenas como uma espécie de reação ressentida, uma espécie de complexo de inferioridade talvez relacionado com o que Freud definiu como “inveja do pênis”, sendo que talvez neste caso “pênis” possa ser trocado por “conta bancária” ou “torcida”. Há uma obsessão pelo Flamengo que chega a ser doentia. Algo que simplesente não vemos na nossa torcida – e olha que eu defendo que exista, em níveis controláveis, civilizados. E o que torna pior: entre as ações adotadas, tem de tudo, menos... vencer jogos. Basta ver há quanto tempo não perdemos uma peleja para um de nossos co-irmãos carioquinhas.
Chegamos, vimos, vencemos, praticamente em todas as últimas partidas. Quase nada nos incomoda. E olha que no passado, já incomodou muito: o Vasco de Roberto Dinamite, de Edmundo, o grande Botafogo de Garrincha, o Botafogo de Túlio, o Fluminense da Máquina e de Romerito (e, por que não, de Fred); no passado, não nos negavam estádios: talvez nos negassem alegrias.
E hoje?
Churchill talvez diria que nossos rivais são muito bem defendidos por seus insetos. Não à toa, os estádios no nosso Estadual estão às moscas.
Até domingo que vem.
Imagem destacada no post e redes sociais: Divulgação.
Gustavo de Almeida é jornalista desde 1993, com atuação nas áreas de Política, Cidades, Segurança Pública e Esportes. É formado em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense. Foi editor de Cidade do Jornal do Brasil, onde ganhou os prêmios Ibero-Americano de Imprensa Unicef/Agência EFE (2005) e Prêmio IGE da Fundação Lehmann (2006). Passou pela revista ISTOÉ, pelo jornal esportivo LANCE! e também pelos diários populares O DIA, A Notícia e EXTRA. Trabalhou como assessor de imprensa em campanhas de à Prefeitura do Rio e em duas campanhas para presidente de clubes de futebol. É pós-graduado (MBA) em Marketing e Comunicação Empresarial pela Universidade Veiga de Almeida. Atualmente, escreve livros como ghost-writer e faz consultorias da área de política, além de estar trabalhando em um roteiro de cinema.
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