Olhar de repórter: 'Adeus a Adílio é o contraditório da vida depois de tantas glórias'
O Flamengo se despediu do primeiro de seus 11 heróis titulares no título do Mundial de 1981. Nesta terça-feira (6), Adílio foi velado na Gávea com a presença de campeões mundiais rubro-negros, nomes históricos do clube, torcedores e familiares. Um dia triste, marcado pelo luto daqueles que são os super-heróis de todo o rubro-negro e de torcedores que foram dar o último adeus ao ídolo. O dissabor da vida, o contraditório depois de tantas glórias e conquistas.
Logo na chegada, Andrade e Zinho às lágrimas
Os portões da Gávea foram abertos para imprensa por volta de 10h e, ao entrar no Ginásio Helio Maurício, já a primeira cena marcante da manhã. Zinho, que estreou na vaga de Adílio e foi campeão do Carioca com o ídolo em 86, muito emocionado olhava para o amigo no caixão- coberto com bandeira do Flamengo- e o deu um beijo de adeus na testa.
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Andrade também foi um dos primeiros a chegar. Um dos ídolos de 1981 mais próximos de minha geração, pelo título brasileiro de 2009, emocionou ao falar do amigo com quem dividiu 15 anos de clube e toda uma vida com os olhos marejados. “Confundiam nossos nomes na rua… agora não sei como vai ser isso”, disse o Camisa ‘6’ que fez história ao lado de Adílio no meio-campo do melhor Flamengo da história.
Além de Andrade, marcaram presença do time titular no título Mundial: Raul, Leandro, Mozer, Júnior, Zico e Nunes. Os maiores estavam ali, todos presentes para a despedida de um irmão e, todos, naturalmente tomados pela tristeza do luto. Uma cena que choca quem está acostumado a ver e escutar esses nomes que tantas alegrias nos deram, nós rubro-negros.
Um perda dolorosa para a família rubro-negra
O choro, a emoção, a saudade… tudo isso também explica o porquê aquele time está entre os melhores da história do futebol, algo citado inclusive por Zico. Muitos destes foram revelados no Flamengo, crias da Gávea, uma vida lado a lado, dentro e fora dos gramados. E, assim, mais do que atletas, mais do que companheiros, uma verdadeira família.
Raul e Nunes, assim como os outros jogadores que chegaram ao Flamengo vindos de clubes fora do Rio, chegaram na Gávea depois dos outros colegas do time de 81. E, curiosamente, os dois tiveram reação muito parecida diante de Adílio. Ambos ficaram parados e olhando para Adílio…como se não acreditassem no que estavam vendo.
A incredulidade. Era isso que impactava a todos os presentes, não só os ex-jogadores. Muitos dos torcedores que entravam no local e podiam passar próximos ao caixão tinham olhares incrédulos e não sabiam como agir no adeus do ídolo. Um dos torcedores rubro-negros passou mal e, inclusive, precisou de ajuda para deixar o ginásio.
A maioria desses torcedores se despede de um dos seus 11 super-heróis, tristes pelo adeus a uma pessoa que os fizeram viver os melhores momentos da vida. E Adílio foi um exímio jogador, um dos melhores de sua geração e história do Flamengo, não à toa fez 617 jogos e marcou 129 gols com o Manto Sagrado.
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Mas algo mais chama a atenção. Ao falarem sobre ele, os seus ex-companheiros focaram em exaltar sua personalidade e humildade com todos no dia a dia. Ainda que fossem questionados sobre o campo, fizeram questão de citar a boa pessoa que o amigo sempre foi.
“A gente vivenciou grandes sucessos. E a grande formula do sucesso era essa relação que tínhamos fora, de amizade, confiança, segurança, ajuda. O meio-campo funcionava dentro do campo dessa maneira, quando um não estava bem o outro corria para ele. Tem todo esse lado humano, a gente sabe a vida dele como foi. Como conseguiu chegar aqui. É um negócio que nos encantava também”, disse Zico.
Uma cobertura difícil de captar imagens. Para um rubro-negro a sensação era a mesma daqueles que comentavam nas publicações, é de uma tristeza sem igual assistir aos seus ídolos chorando e desolados.
Realizei uma cobertura de evento em homenagem e com a presença de um animado Leandro, em janeiro, e vê-lo chorando copiosamente ao lado de Bebeto – também muito emocionado – enquanto olhava para o amigo foi um momento de muita tristeza.
Lágrimas tomam conta de torcedores
Após a cerimônia religiosa, que aconteceu cerca de duas horas após a abertura do velório ao público, os presentes realizaram uma salva de palmas, cantaram hino do Flamengo e gritaram nome de Adílio como se fosse no Maracanã. Momento que fez alguns daqueles torcedores que seguiam na arquibancada do Helio Maurício desabarem.
Foi nessa hora que um dos torcedores, enquanto cantava o nome de seu ídolo, gritou a pleno pulmões: ‘Muito obrigado Adílio, você me fez muito feliz’. Um cena emocionante, pois deu para sentir a sinceridade nas palavras do torcedor e a dor pela despedida.
Pouco depois, um outro rubro-negro começou a gritar o nome de Adílio sozinho, após todos já terem cantado.
Mas, as cenas que mais me marcaram durante as pouco mais de quatro horas de cobertura foram os pais que foram acompanhados de seus filhos. O momento desencadeou memórias de idas ao Maracanã com meu pai, que aqueles que ali estavam certamente viveram e ouviram as mesmas histórias do passado de títulos e os grandes jogadores rubro-negros.
Naquele momento, os filhos estavam ali para servirem de apoio para os pais desolados pela perda de uma pessoa que foi parte importante de sua história também. Deixando o ginásio chorando e abraçados, como nos dias de glória, mas, desta vez, por um motivo doloroso.
Mais um de muitos exemplos de como o esporte ultrapassa com folga as barreiras da competição e influencia as pessoas. Adílio foi um dos responsáveis pela alegria de milhões de torcedores por quase uma década, algo que jamais acabará. Adílio e eterno, como é eterno o time de 81.
Títulos de Adílio no Flamengo
- 3x Campeão Brasileiro (80, 82 e 83)
- 1x Libertadores (1981)
- 1x Mundial de Clubes (1981)
- 5x Campeonato Carioca (78, 79, 79 especial, 81 e 86)
Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pelo Flamengo, vôlei e esportes olímpicos.