É natural do ser humano ter suas preferências pessoais e isso não deveria ser problema para ninguém. Gostar ou não do jogador X, treinador Y ou dirigente Z é do jogo, errado seria se todos pensássemos da mesma forma, acabando com o senso crítico da sociedade e no nosso cosmos, da torcida flamenguista. Precisamos de defensores e haters dos jogadores, da continuidade de treinadores, das contratações, dos dirigentes, resumindo, de tudo que permeia o universo Flamengo. Sem essa diversidade de opiniões não seremos capazes de aprimorar nossas visões em prol de um bem comum para o nosso amado Rubro-Negro.
O problema é quando passamos a torcer para as nossas convicções acima do Flamengo. A nossa convicção do que acreditamos ser melhor para o Rubro-Negro não pode ser mais importante do que o próprio. E no meio desta crise sem precedentes na nossa história, infelizmente, é o que mais tenho observado.
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Fosse você fã ou hater do Vitor Pereira, o que deveria importar no fim das contas é o Flamengo. É incompreensível ver torcedores rubro-negros torcendo contra o time apenas para poder dizer “eu avisei”. O mesmo vale para os adoradores que confundem torcer para o Flamengo ganhar mesmo apresentando diversas fragilidades apenas para poderem falar que tinham razão ao invés de ficarem aliviados com o resultado positivo e serem capazes de criticar uma atuação ruim.
Seja você fã incondicional ou um defensor de uma reformulação profunda do elenco rubro-negro, o que deveria importar no fim das contas é o Flamengo. Não deveria ser aceitável ver torcedores felizes com erros cometidos por aqueles que acham que deveriam ir embora. E o mesmo vale para quem torce para que estes tenham um lampejo de bom momento no meio de uma partida razoável para ruim apenas para esfregar na cara do outro que aquele jogador ainda pode fazer algo de útil.
A nossa torcida parece ter se tornado refém das próprias convicções. Perdemos todos os títulos que disputamos nesses pouco mais de 100 dias de ano e estreamos com derrotas nas competições que se iniciaram. Mas não vejo as possíveis soluções sendo discutidas, apenas o ataque à opinião do outro. “Não era só trocar o treinador?”, “A culpa não era só do VP?”, “Tudo foi destruído, não dá pra cobrar nada dos jogadores agora!” e por aí vai.
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Esse vexame contra o Maringá veio para provar que temos estado mais preocupados em ter razão do que acharmos juntos um caminho para o Flamengo sair desse fundo do poço. Aqueles que defenderam o Vitor Pereira até o último jogo parecem mais preocupados em “defender o legado” do português. Aqueles que isentaram o elenco de culpas aparentam se importar em isolar a culpa deles na péssima atuação.
Por fim, somos incapazes de olhar para o todo. O Vitor Pereira fez, possivelmente, o pior trabalho de um treinador na história do Flamengo. Muitos jogadores não parecem estar compromissados, outros parecem estar longe da forma (física e/ou técnica) ideal e ainda têm aqueles que já mostraram que não possuem capacidade de integrar o elenco rubro-negro.
E no fim das contas, os grandes beneficiados com isso tudo são os ilustríssimos dirigentes do Clube de Regatas do Flamengo que não chegam a passar ilesos, mas saem com ferimentos leves desse grande embate que vai se tornando entre jogadores x comissão técnica.
A estrutura defeituosa da direção do Flamengo que nos levou ao fundo do poço. São eles os responsáveis pela contratação do Vitor Pereira. E aproveito para repetir o que disse no meu primeiro texto no MRN, que esta contratação não fazia sentido algum. Não digo isso avaliando os resultados alcançados no bom (não acho excelente) trabalho que fez no Corinthians, mas sim a partir do estilo de jogo empregado no time paulista. Contratamos o treinador que comandava o segundo time que menos finalizou no Campeonato Brasileiro de 2022. Por melhor que ele seja e arranque bons resultados dentro desse estilo, não será o nome ideal para um elenco forjado no ataque como é o nosso atual.
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São esses dirigentes que possuem extrema dificuldade em gerir o nosso elenco. Por melhor que ele seja, não precisávamos de reforços? Ainda mais com a saída de dois titulares. O nosso elenco (e nenhum do mundo será) não é perfeitamente montado. Sempre precisaremos de novos jogadores, em maior ou menor urgência. Será que não deveríamos ter negociado alguns outros? Tem gente que hoje é só custo para o Flamengo e o clube poderia se beneficiar com um empréstimo, mesmo que seja pagando os salários. Não vai ser mais caro do que se esconder nos treinamentos e ainda pode valer mais em caso de boas atuações. Alguns outros ainda ficam aqui ocupando espaço de jogadores que podem ser mais úteis.
Poderia ficar aqui listando várias outras áreas problemáticas do Flamengo para além de treinador e elenco que vão de mal a pior por conta da péssima gestão dos nossos dirigentes. E revisitando mais uma vez o meu primeiro texto aqui no MRN, isso é reflexo direto da estrutura amadora de um departamento que gera R$ 1 bilhão por ano.
No fim das contas, quem comanda tudo é um dirigente amador que ocupa este cargo pelo seu poder político no quadro social. Reitero o que disse, cada vez com menos convicção (e estou 100% aberto a que me convençam do contrário): Marcos Braz é o melhor vice-presidente de Futebol que o Flamengo poderia ter. Mas isso se dá apenas porque, na minha visão, não conseguiremos ter nenhum bom ocupante do cargo. Precisamos tirar a importância dessa cadeira e passar para um diretor executivo profissional, competente e capacitado. E nesse cenário, Marcos Braz passa longe de ser o melhor.
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Para encerrar, acho importante voltar ao tema central deste texto. Todos devemos ser livres para termos nossa opinião a respeito do Flamengo. Devemos ter sim os defensores de treinador, de jogador, de dirigente e por aí vai. Mas essa preferência não pode ser maior do que a paixão pelo clube. Devemos ter a humildade de admitir erros e construirmos juntos um futuro melhor para o rubro-negro. Além de termos a humildade sobre nossas opiniões, não devemos tratar tão belicamente a opinião do outro. Não é porque alguém defendia o Vitor Pereira ou o elenco que ele deveria ser tratado com desdém.
Por Felipe do Santos