Alerta de opinião impopular: Marcos Braz é o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter
Sim, o título foi apenas para chamar a sua atenção, apesar de o autor genuinamente acreditar nisto. O problema está além do que é discutido atualmente. Acho que com um título polêmico desses é preciso começar colocando os pingos nos is. Temos que lembrar antes de mais nada que o cargo de vice-presidente de Futebol, ocupado atualmente por Marcos Braz, é de natureza amadora, logo, sem remuneração.
Dessa forma, é irreal pedir o já famigerado #ForaBraz nas redes sociais se estiver sonhando com nomes profissionais e consagrados do mercado.
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O maior problema do Flamengo não está no fato do Marcos Braz estar à frente da vice-presidência amadora de futebol do clube, mas sim nesta se sobressair à atuação do dirigente não estatutário contratado e remunerado pelo Rubro-Negro. Vale lembrar que a esse impõe-se as mesmas obrigações, vedações e responsabilidades dos poderes do clube, conforme definido pelo estatuto.
Repito o que disse no título polêmico deste texto: Marcos Braz é o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter. Só que ele jamais poderia ter a importância que tem nas decisões que deveriam ser tomadas por profissionais da área. Marcos Braz é o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter, mas esse é um cargo que deveria ter influência próxima a zero, se não, propriamente nenhuma. Logo, o erro vem de cima do Braz. Vem de Rodolfo Landim que faz o clube construir seu futuro preso a amarras do passado. Um passado não tão distante, onde Marcos Braz, Eurico Miranda, Andrés Sanchez e outros figurões como esses eram exaltados como grandes gestores.
A era do amadorismo passou, ou pelo menos deveria ter passado
Não cabe mais entregar um departamento que gera, aproximadamente, R$ 1 bilhão anualmente na mão de dirigentes amadores, sem estudo e sem capacitação. O Departamento de Futebol do Flamengo deveria ser gerido pelos melhores profissionais disponíveis para trabalhar no mercado sul-americano e não pelo melhor vice-presidente de Futebol disponível no quadro social do Clube de Regatas do Flamengo.
O Flamengo para prosperar ainda mais, precisa se preparar cada vez mais, ou talvez começar a se preparar como jamais fez. Alguns irão argumentar que isso ocorreu durante o quase um ano que Jorge Jesus foi o nosso treinador, mas não era algo feito, preparado, planejado e executado pelo clube, mas sim pelo técnico português. O resultado não deixa dúvidas. Enquanto o Mister aqui esteve, glórias, organização, eficiência e um trabalho extremamente elogiado.
Após a saída dele, muitos tiros no escuro, técnicos dos mais variados estilos, profissionais com currículos abaixo do esperado sendo contratados e a “fuga de cérebros” que nos fez perder tantos profissionais para clubes bem menos relevantes no cenário nacional e continental neste momento, estes com o agravante de terem ainda um orçamento bastante inferior ao rubro-negro.
Qual a visão que o Flamengo tem hoje para o seu Departamento de Futebol? Como um clube contrata Abel Braga, Jorge Jesus, Domenèc Torrent, Rogério Ceni, Renato Gaúcho, Paulo Sousa, Dorival Júnior e Vitor Pereira para exercer o mesmo cargo se todos são completamente diferentes entre si? A maior crítica aqui neste texto não está nem na gigantesca lista de treinadores que passaram pelo clube desde 2019, mas sim na completa aleatoriedade que a compõe.
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Quais foram os motivos que levaram o Flamengo a contratar Vitor Pereira?
Aqui vamos fazer o exercício sem julgarmos se Dorival Júnior deveria ter permanecido ou não após o último ano. Apenas buscaremos entender o que foi enxergado no comandante escolhido.
Para isso, vamos olhar para o trabalho mais recente do atual treinador rubro-negro, o único do português em terras sul-americanas. Antes de mais nada, precisamos desmistificar uma coisa: o Corinthians de 2022 tinha um bom elenco e esperava-se uma briga na parte de cima da tabela. Como podemos ver nestes dois especiais produzidos pelo ge, no dia 8 de abril de 2022, onde (1) classifica o elenco corinthiano como o 4º melhor do país e (2) indica que o Corinthians pode surpreender, estando ranqueado em 5º na briga pelo título brasileiro.
Dito isso, o Corinthians ficou dentro das expectativas ao terminar o Campeonato Brasileiro na 4ª colocação. Olhando para o estilo de jogo do português, o Corinthians teve apenas o 10º melhor ataque da competição, o pior entre os classificados para a Libertadores deste ano, mas o número que mais chamou atenção foi o de finalizações. O alvinegro paulista, foi o 2º clube com menos finalizações por partida no Brasileirão 2022, a frente apenas do Goiás, com 10,9 finalizações por partida, de acordo com o Espião Estatístico do ge.
Além dos números, o estilo de jogo adotado por Vitor Pereira no Corinthians também precisa ser analisado. O treinador português se sentia mais à vontade escalando três volantes em terras paulistas, quando não três zagueiros, como fez na partida de volta da final da Copa do Brasil contra nós no Maracanã ou contra o Boca Juniors em La Bombonera, partida onde a equipe corinthiana finalizou apenas uma vez durante os 90 minutos.
Não me entendam mal quando disse que o trabalho ficou dentro das expectativas no Corinthians. Estar dentro do planejado é excelente, ainda mais quando o planejamento é traçado com metas realísticas. O trabalho de Vitor Pereira em 2022 foi bom, apenas não tirou leite de pedra como tentaram pintar. Tanto o português foi bem que o desejo no Parque São Jorge era pela permanência do treinador.
Mas será que com essas informações, mesmo considerando o bom trabalho, o Vitor Pereira era o nome ideal para o Flamengo? O que o Departamento de Futebol do Flamengo enxergou no Vitor Pereira para que ele pudesse comandar o nosso elenco na atual temporada? Se acreditam e/ou acreditavam no trabalho do português por qual motivo o elenco não foi modificado a fim de satisfazer o estilo mais confortável para o comandante trabalhar? Logo, aquele em que se espera que tenha maior familiaridade e capacidade de fazer o time funcionar em campo.
O que é inconcebível para mim é contratar um treinador que pensa X e entregar um elenco montado para jogar de forma Y. O Flamengo das glórias de 2019 que encantou o Brasil, o continente e talvez outras partes do mundo não será e nem deve ser eterno. Obviamente, alterações no estilo de jogo tão opressor serão necessárias até mesmo porque já foram feitas. O nosso time campeão mundial e multi-vencedor da década de 1980 não durou para sempre. Seja em peças, seja em estilo de jogo. Ninguém é, ou deveria ser, ingênuo o suficiente de acreditar que é só repetir 2019 que tudo irá funcionar. Jogadores saíram, jogadores envelheceram, jogadores chegaram, jogadores amadureceram. Muita coisa mudou e o campo precisa acompanhar.
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Mas até que ponto um rompimento com o modelo consagrado em 2019 é necessário? A opção por Vitor Pereira, assim como a feita anteriormente por Paulo Sousa, me parece ser um passo tomado nessa direção. Possivelmente e provavelmente decisão feita inconscientemente, dado que o estilo de contratação e esqueleto do time permaneceram similares aos de 2019, apesar das claras divergências de ideias de jogo dos treinadores com esse modelo.
Vitor Pereira e Paulo Sousa são treinadores que parecem ter sido escolhidos com apenas uma coisa sendo analisada: a nacionalidade. A busca incessante para que o Flamengo encontre novamente um português salvador da pátria, como foi Jorge Jesus para nós e como é Abel Ferreira para os palmeirenses. O campo, o mais importante, parece ter ficado de fora do processo seletivo comandado pelo amador Marcos Braz em suas viagens à Europa.
O que deve ser buscado? E mais importante: quem deve buscar?
Estou de acordo com a maior parte da opinião pública de que os treinadores europeus, em sua maioria esmagadora, tem bem mais capacitação que os brasileiros. Porém, o que é mais importante: um português independente de seu estilo de jogo ou um treinador que pense igual ao clube enxerga seu futuro seja qual for sua nacionalidade?
O problema mais uma vez está no comando do Departamento de Futebol do Flamengo. Apesar de ser o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter, será que Marcos Braz tem a capacidade de definir os rumos da pasta? Ele tem a capacidade, competência e conhecimento para tomar tais decisões? Será que ele sabe identificar as principais competências de um Gerente Técnico ou de um Olheiro-Chefe? A de um Psicólogo ele já fez questão de verbalizar que não enxerga necessidade.
O foco está na campanha errada
Enquanto não formos comandados por profissionais, não podemos cobrar resultados profissionais. Pedir #ForaBraz é uma perda de tempo, afinal, como já disse e provoquei algumas vezes ao longo deste texto, ele é o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter. Precisamos nos dedicar mais ao #ProfissionalismoJá, onde o Marcos Braz siga em seu cargo, mas de forma cada vez menos relevante nas decisões estratégicas do clube.
O Flamengo precisa definir os seus rumos. Precisa definir suas metas para todas as áreas que permeiam o futebol profissional. Precisa ter os melhores profissionais disponíveis no mercado sul-americano nestas áreas. Eu não enxergo problema algum, por exemplo, de termos contratado tantos atletas de um mesmo empresário. São bons jogadores.
O problema é a falta de confiança por trás do processo de indicação. Será que temos os melhores olheiros? Não só para o futebol profissional, mas também para as categorias de base. Será que estamos captando os melhores talentos? Me soa inaceitável um clube como o Flamengo com o poderio financeiro que tem perder atletas para rivais com as contas combalidas. Antes de pensarmos nas eternas promessas sul-americanas que enchem os olhos de grande parte da torcida que ama um jovem atleta fluente em espanhol, precisamos entender o motivo de não termos os melhores brasileiros.
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Para finalizar e para que não reste dúvidas, Marcos Braz é o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter, mas é inaceitável que Rodolfo Landim o deixe como o responsável pela gestão do Departamento de Futebol. Precisamos de um diretor não estatutário com competência e liberdade para definir os rumos da pasta. Com autonomia suficiente para, caso julgue necessário, reformular o elenco e ideias de jogo que nos levaram às glórias durante esta gestão. E caso opte por isso, que se comprometa com a mudança e não fique nesse meio do caminho onde o técnico pensa X e monta-se o elenco para Y, nem que isso nos custe ano(s) longe do favoritismo por títulos, na confiança de que a decisão irá se pagar no futuro.
Profissionais precisam tomar decisões a partir de conhecimentos adquiridos por estudo e especialização e não porque deu na telha de um dirigente amador, mesmo que este seja o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter.
Epílogo: Por que Marcos Braz é o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter?
Falei algumas vezes ao longo do texto sobre a minha opinião de que Marcos Braz é o melhor vice-presidente de Futebol que poderíamos ter. Mas em momento nenhum dei os motivos para este achismo.
Relembrando aqui que a natureza do cargo é amadora a ser exercida por um associado ao Clube de Regatas do Flamengo sem ser remunerado. Ou seja, não podemos sonhar com Leonardo, Marcelo Gallardo, José Boto e tantos outros nomes cobiçados pela torcida nas redes sociais para ser o homem-forte do nosso futebol neste cargo.
Falei em determinado momento do texto que a “era do amadorismo passou, ou pelo menos deveria ter passado”, mas todos sabemos que ela não se foi por completo, principalmente no futebol brasileiro como um todo. O Flamengo deveria ser vanguarda, como sempre foi, e dar o exemplo ao reduzir a importância de dirigentes amadores em seu processo decisório. Porém, figuras como Marcos Braz ainda são relevantes no nosso cenário.
Me parece inegável que o nosso dirigente amador possui bom trânsito no meio do futebol e querido por atletas e seus representantes. Sua presença, como uma carta para ajudar no processo de convencimento pode ser proveitosa de alguma forma. Mas ele precisa ser subordinado a alguém e não o tomador de decisão.
Além dessa virtude, Marcos Braz me parece ser hábil politicamente e não podemos negar a importância de termos boas relações com outros agentes políticos. Sejam estes da política que ocorre no mundo do futebol ou na “vida real”. E esta defesa não é de acordo com a posição política de Braz, mas sim na capacidade de se relacionar com todos.
A discussão entre ser político eleito e exercer cargo no Flamengo fica para outro momento mais oportuno.
Por Felipe dos Santos