Braz e Spindel dizem que até Jesus poupava e que ciência definirá prioridade
A coletiva para a apresentação do atacante Carlinhos acabou se transformando numa longa exposição de Marcos Braz e Bruno Spindel sobre os problemas de calendário do Flamengo e a necessidade de poupar jogadores defendida pelo técnico Tite. Na coletiva após o jogo contra o Palestino, Tite atribuiu à diretoria a decisão de priorizar a final do Campeonato Carioca e afirmou que teria que sentar com os dirigentes para decidir qual competição seria priorizada na temporada diante do duro calendário.
“O próprio calendário impõe algumas situações. Esse calendário irresponsável ao qual o Flamengo precisa se submeter, no qual nós vamos jogar 9 jogos numa Data Fifa na qual teremos seis, sete jogadores não estando à disposição. O Brasil é um país continental, a própria competição que a gente disputa, que é a Libertadores da América, tem muitas coisas que vão se impondo. Muitas coisas a ciência vai falar. A parte de fisiologia, fisioterapia, o departamento médico. Lógico que o Flamengo quer disputar sempre da melhor maneira e ganhar o que for disputar, mas nós faremos e ganharemos o que for possível”, afirmou o vice-presidente de Futebol Marcos Braz.
O dirigente disse que ainda não teve tempo de conversar sobre o assunto com Tite após a coletiva de quarta-feira. Mas disse que as decisões sobre escalação são “200% do treinador e da comissão técnica”.
Spindel confirma prioridade ao Carioca e cita exemplo do Palmeiras
Já o diretor de Futebol Bruno Spindel confirmou que houve uma decisão da diretoria de priorizar a conquista do Campeonato Carioca.
“A gente deixou muito claro desde o presidente, o Marcos, eu, que o Estadual era de fundamental importância para o Flamengo. É uma competição que a gente disputa, dos 6 anos da gestão do presidente Landim o Flamengo chegou na final em todos os 6, ganhou 4. E era fundamental que estivessem todos focados aí nessas finais. O Flamengo jogou sábado contra o Nova Iguaçu o primeiro jogo da final, ganhou de 3×0, do ponto de vista físico, o mental não precisa dizer, porque é uma final, a demanda mental é absurda. Do ponto de vista físico foi o jogo de maior demanda do grupo como um todo, em várias métricas, e vários atletas bateram recordes pessoais”, afirmou.
Ele explicou que não era possível esperar um rendimento de alto nível do Flamengo contra o Millonarios, em Bogotá, diante desta situação.
“No dia seguinte eles tiveram que se apresentar cedo aqui no CT, fizeram uma refeição rápida, foram para o aeroporto, viajamos todos para a Colômbia, uma viagem de seis horas, de porta à porta entre 10 e 11 horas, e dois dias depois o time estava jogando a 2.600 metros de altitude um jogo de estreia na Libertadores, duríssimo. Ninguém pode achar em sã consciência que uma viagem de 11 horas de porta à porta indo do nível do mar, de uma determinada temperatura, depois de um jogo do maior desgaste físico e mental que os jogadores vão render todos eles o máximo possível, sem tempo para descansar, treinar, preparar o jogo com uma viagem dessas no meio”, disse.
O dirigente citou ainda o exemplo do Palmeiras, que nos três últimos anos colocou 11 reservas para jogar a estreia na Libertadores entre as duas partidas finais do Campeonato Paulista.
CBF é quem prioriza Copa do Brasil ao Brasileiro, dizem dirigentes
Embora tenha frisado que “o calendário não vai tomar decisões pelo Flamengo”, Spindel disse que a própria CBF condicionou o planejamento do clube ao não paralisar o Campeonato Brasileiro nem aceitar a proposta de inverter o calendário marcando jogos da Copa do Brasil durante a Copa América.
“Essa escolha de priorizar a Copa do Brasil quem fez foi a CBF, não foi o Flamengo. O Flamengo em toda competição que entra entra para disputar e ser campeão. A CBF fez uma escolha não esportiva, mas uma escolha com olhar comercial. Do ponto de vista não faz sentido você tirar todos os atletas de seleção que no Campeonato Brasileiro devem ser 40 e desprestigiar o campeonato. A CBF rompeu o princípio da isonomia esportiva quando fez essa escolha. O Campeonato Brasileiro não tem isonomia esportiva. Ele é mais difícil e desequilibrado para os clubes que têm seus atletas convocados para as seleções”, queixou-se.
Marcos Braz afirmou que, neste momento, ainda não é possível definir qual será a prioridade do Flamengo na temporada.
“Não posso falar hoje o que vai ser prioridade. Hoje o Flamengo não tem prioridade, a prioridade do Flamengo hoje é no sentido do que disputar ganhar. Apenas a gente precisa de embasamento da ciência para ir tomando as decisões. E é esse sentido que o Tite falou, eu tenho certeza absoluta. Agora, o fato de a CBF nos tirar 8 ou 9 jogadores, 4 ou 5 titulares de um campeonato duríssimo, é a CBF que está priorizando, não é a gente que tem prioridade de absolutamente nada. Essa será a última vez que a gente vai falar de calendário aqui, porque depois que começa o campeonato parece ser desculpa”, afirmou.
Dupla cita números para provar que Jesus poupava time
Spindel disse que não é possível repetir o time quarta e domingo com o calendário apertado:
“São cerca de 80 jogos na temporada. É humanamente impossível para qualquer atleta de futebol jogar os 80 jogos no seu mais alto nível de rendimento. Se colocar um atleta para jogar os 80 jogos da temporada, o risco que você impõe ao atleta que ele se lesione, cause prejuízo à saúde dele, ao clube e ao torcedor é enorme. O Flamengo investiu para ter um elenco robusto com disputa em todas as posições. ”
Após um repórter comparar a fala de Tite com o trabalho de técnicos anteriores e afirmar que Jorge Jesus não gostava de poupar, os dirigentes rebateram. Primeiro, Braz retrucou:
“O Jesus não gostava de poupar, mas poupava. Só que vocês não falam que ele poupava”.
Na sequência, Spindel apresentou uma série de números, mostrando que estava preparado para a pergunta:
“O próprio Jorge em 2019 – isso é número, não é chute, não é nada. Eu não estou dizendo que ele não repetiu o time, mas se você pegar o time de quarta para domingo, de domingo para quarta, sempre o time do jogo seguinte contra o anterior, acho que ele não repetiu praticamente nenhum. Em média ele trocava 3 a 4 jogadores por partida. No jogo contra o Grêmio na terça antes da final da Libertadores ele trocou 9 jogadores e deixou os 9 no Rio de Janeiro preparando para a final da Libertadores”, afirmou, depois listando números de Rogério Ceni, Renato Gaúcho e Dorival Júnior também.
“Cada um tem uma estratégia, é óbvio que o que a gente tenta fazer é montar um elenco que tenha capacidade de enfrentar os desafios da temporada. O Flamengo entra para disputar todos os títulos, mas o que o Tite colocou e o que a gente coloca é que é humanamente impossível o que o imaginário popular coloca, que é sempre o mesmo time, porque não tem ser humano que aguente jogar 80 jogos na temporada sem que o seu rendimento caia ou ele se lesione.”