O desafio de Nenê e Ganso juntos contra um adversário como o Fla, que circula a bola e faz uma pressão absurda na marcação sobre o adversário
Controle total. Não há outra forma de descrever o Fla-Flu de domingo. O placar ficou em 2×0, mas na prática houve um time que mandou no jogo o tempo todo. Agora, com dez pontos de vantagem, Jorge Jesus volta suas atenções para a Libertadores.
O plano do Flamengo era simples: sufocar com intensidade máxima nos primeiros minutos para tentar construir o placar e conseguir diminuir o ritmo para se poupar um pouco com a bola no restante do jogo. Mais ou menos o que foi feito contra o Emelec no Maracanã.
Deu quase tudo certo. Em 3 minutos e 20 segundos, o Fluminense não tocou na bola NENHUMA VEZ no campo de ataque. Conseguiu roubar a bola três vezes, mas não ficou com ela por mais de três segundos. Além disso, cedeu dois laterais e rebateu três bolas.
A única coisa que deu errado no plano do Flamengo foi não ter conseguido fazer o segundo gol. Isso manteve algum nível de tensão no jogo por mais tempo que o necessário.
O Fla foi a campo com seu 4-4-2, tendo Piris no lugar de Arão e Filipe Luís voltando na lateral-esquerda. Vitinho segue – cada vez mais à vontade – na vaga de Arrascaeta. Só no fim do jogo mudou para o 4-2-3-1, com BH pela direita, Everton centralizado e Reinier na esquerda.
Para entender esse domínio completo, é preciso entender algumas características do Flu. Aparentemente Marcão precisa ter Ganso e Nenê juntos, e a montagem da equipe parte daí. Como os dois não recompõem rápido na marcação, ele precisa de atacantes rápidos que voltem bastante.
Com isso, o Fluminense é um híbrido entre 4-4-2 e 4-2-2-2, tendo seus atacantes marcando bem recuados (acompanhando os laterais adversários até o fim) e entrando em diagonal quando o time atacava.
Isso significa que Yoni e Wellington Nem têm muito, muito campo para cobrir, enquanto Nenê e Ganso comandam os movimentos de marcação lá na frente e se aproximam do meio-campo para armar o jogo quando o time retoma a bola.
Os volantes Allan e Daniel, apesar da qualidade com a bola, não são bons marcadores. Com isso, o quarteto central quase não dá combate. É impressionante como o Fluminense não impõe resistência nenhuma enquanto o adversário tenta girar a bola.
Realmente é um grande desafio escalar Nenê e Ganso juntos contra um adversário como o Flamengo, que circula muito bem a bola e faz uma pressão absurda na marcação sobre o adversário. Um problema quase insolúvel. Nenhuma solução do Fluminense passou por aí.
O Flu tem outra característica que deixou o jogo interessante. O grande legado de Diniz: uma boa saída de bola. É um dos times que melhor sai tocando e usa muitas variações. O principal: não tem medo de arriscar.
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Como Yoni e Nem precisam de espaço para correr em campo aberto, o time precisa atrair o adversário para a pressão, abrindo espaços lá na frente. Sem isso, não consegue levar perigo contra ninguém. Mata o torcedor do coração, mas é uma estratégia legítima e consciente.
Acuado e encolhido pela pressão rubro-negra, o time das Laranjeiras quase não conseguiu sair tocando. Tentou de tudo: sair por dentro, por fora, usando mais jogadores ou menos, virando o jogo de um lateral pro outro… Não deu certo.
A marcação pressão do Flamengo é de outro mundo! É até engraçado relembrar o primeiro Fla-Flu do ano, ainda no carioca, quando o Flamengo não tinha NENHUM plano para marcar a saída de bola do Fluminense para além de “aperta lá na frente, Gabriel!”
Finalmente, saiu o segundo. Repare na jogada completa. O Flamengo está todo na frente para um escanteio. Bruno Henrique se esforça e intercepta o passe de Ganso. Gerson se enrola no meio de três adversários, mas vinte segundos depois aparece completamente sozinho pela direita.
Sinceramente, não explodi de alegria com o gol de Gerson. Olhei para o @RodrigoMagacho e, acredito eu, tivemos o mesmo pensamento: dever cumprido. O Flamengo massacrou, fez os três pontos e abriu dez. Agora já pode pensar no Grêmio! Foco total na Libertadores!
PS: na verdade o primeiro anúncio da superioridade rubro-negra foi logo na saída de bola, quando o Fluminense pediu para trocar de lado e atacar para a sua torcida no primeiro tempo. Não foi o primeiro clássico em que isso aconteceu. Sinal dos tempos…
Escrevo as análises táticas do MRN porque futebol se estuda sim! De vez em quando peço licença para escrever sobre outros assuntos também.