Análise: Como o Palmeiras de Abel Ferreira pode enfrentar o Flamengo?
Após vencer o São Paulo no último domingo (17) apresentando bom futebol, o Flamengo terá mais um grande desafio pelo Brasileirão nesta quarta-feira (20): o Palmeiras de Abel Ferreira.
Algoz rubro-negro na última Libertadores, o alviverde chega para enfrentar o Mengão num momento irregular: grandes atuações pelas Copas e um início de Brasileirão decepcionante.
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Entenda como o Palmeiras de Abel Ferreira ataca
Devido o histórico de grandes vitórias do clube nos últimos anos com pouca retenção de posse e se aproveitando muito dos contra-ataques, se criou uma impressão de que o Palmeiras de Abel Ferreira não sabe atuar em organização ofensiva.
Com a evolução no estudo sobre o futebol, existem diversas bibliografias que hoje buscam entender melhor as diversas estratégias que podem ser utilizadas no jogo. Dentro das possibilidades das equipes em organização ofensiva, uma forma de se portar com a bola e buscar a meta adversária muito comum é a de ataque posicional.
O ataque posicional é quando a equipe busca progredir com bola desde o goleiro, percorrendo com conexões mais curtas até chegar ao último terço adversário. E de fato, o Palmeiras não tem como principal característica esta forma de atacar seus adversários.
Nas situações em que o Palmeiras precisa trocar mais passes dentro do campo adversário, a equipe por muitas vezes se torna exposta aos contra-ataques adversários. Abel Ferreira ainda não tem tão bem estabelecido os mecanismos necessários para atacar adversários retendo muita posse de bola. Isso exige a ele a necessidade de expor sua equipe a atacar com muitos jogadores no último terço e expor sua equipe a ser atacada em transições ofensivas com poucos defensores para proteger a profundidade.
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Isso pôde ser relatado na derrota do Palmeiras na estreia do Brasileirão contra o Ceará por 3×2. Onde o resultado não ilustrou as possibilidades da equipe nordestina ter saído do Allianz Parque com uma goleada, dado as diversas chances perdidas no segundo tempo com amplo espaço para contra-atacar.
Contudo, essa impressão de que o Palmeiras somente ataca através das transições ofensivas vem muito do desconhecimento de um conceito importante no futebol atual: o de ataque rápido.
Os comandados de Abel Ferreira possuem dinâmicas para atacar nos momentos em que encontra um adversário postado à sua frente buscando rapidamente chegar ao último terço através de bolas longas: seja por passes rasteiros ou aéreos. De modo que consegue, através dessa forma de ataque, agredir seu adversário sem se expor tanto como nas investidas em ataque posicional.
Utilizando como padrão a saída de três, onde tanto Marcos Rocha quanto Piquerez podem se aproximar de Gustavo Gómez e Murilo, a equipe busca rapidamente acionar os ponteiros Dudu e Scarpa com passes partindo do trio. Essa dinâmica precisa de espaços às costas da linha adversária para que os extremos possam atacar a profundidade da linha defensiva adversária.
O Palmeiras busca atrair seu adversário para seu campo de defesa com passes buscando seus defensores e o goleiro Weverton. Com isso, seus adversários tendem a subir seu bloco de marcação e perder naturalmente a referência da bola, e os atacantes alviverdes podem ser mais facilmente acionados em profundidade.
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Danilo e Zé Rafael ditam organização defensiva de Abel Ferreira
Sem bola, o Palmeiras já atuou de diversas formas com Abel Ferreira. A equipe se notabilizou nos últimos anos por ceder poucos espaços ao seus adversários marcando em bloco médio/baixo. No qual os pontas precisam auxiliar os laterais no corredor lateral e eventualmente formarem uma linha de cinco ou até seis defensores.
O grande exemplo dessa forma de organização defensiva aconteceu na final do Mundial de Clubes contra o Chelsea, no qual o Palmeiras se defendeu na maior parte do tempo numa espécie de 6-2-2.
Porém, Abel Ferreira já demonstrou que também pode ser bastante agressivo sem bola e isso muito pela forma como dispõe seus volantes. Quando quer pressionar a saída adversária, o técnico português utiliza a dupla bem avançada. Com Rony mais a frente e próximo dos zagueiros, Danilo e Zé Rafael são encarregados de dificultar a construção adversária pelo corredor central, alternando subidas de pressão nos volantes rivais. Uma dinâmica análoga é feita com os pontas em cima dos laterais adversários.
Na vitória contra o São Paulo há três semanas, que garantiu o título paulista ao Palmeiras, essa dinâmica foi fundamental para a equipe gerar volume ofensivo. Num ritmo frenético, a equipe conseguia limitar as ações ofensivas são-paulinas e realizar ataques rápidos ou transições ofensivas buscando reverter a desvantagem construída no primeiro jogo da final.
Projeção para o duelo entre Flamengo x Palmeiras
Pensando pelas ideias de Abel Ferreira e confrontando-as com as do Mister Paulo Sousa, é possível projetar possibilidades para o duelo desta quarta (20). A primeira delas é a de um jogo de ataque e defesa, com um Flamengo sendo pouco constrangido em sua saída de bola, mas enfrentando um adversário baixando bastante suas linhas de marcação e majoritariamente atacando o Mais Querido em transições ofensivas.
Uma outra possibilidade consiste num Palmeiras mais agressivo na marcação, buscando dificultar a saída de bola rubro-negra e se aproveitar dos encaixes de Danilo e Zé Rafael para atacar o Flamengo já a partir do seu campo de ataque.
Seja qual for a ideia de Abel Ferreira, o Flamengo de Paulo Sousa deve buscar ser ainda mais vertical nos momentos com bola. Buscando rapidamente chegar à última linha pelas diagonais longas de David Luiz ou pelos passes verticais de Arão. Para acionar Everton Ribeiro e Arrascaeta em condições da dupla encontrar Gabi, Lázaro ou até Isla em profundidade.
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De modo a se defender do Palmeiras buscando entrar rapidamente em transições ofensivas, é possível imaginar mais uma vez João Gomes sendo o terceiro homem, mais próximo de Gabi e Arrascaeta. Isso tem como objetivo dificultar que a equipe paulista entre em ataque rápido e possibilita a chance contra-atacar acionando Gabi em desmarques de ruptura.
Outra alternativa, esta mais conservadora, consiste em Paulo Sousa buscar proteger mais a profundidade sem as subidas de João Gomes na primeira fase de construção adversária. Assim, a equipe possibilita que o Palmeiras entre em situações de bola descobertas com seu trio de zaga, mas teria que estar preparado para acionamentos em bolas longas do setor ofensivo alviverde.
Caso o técnico rubro-negro opte por essa formatação, o comportamento sem bola de Everton Ribeiro e Lázaro será essencial. A dupla precisará ajudará Isla e Filipe Luís a proteger os corredores laterais e não condicionarem Dudu e Scarpa a situações de duelo individual com os laterais rubro-negros. João Gomes e Thiago Maia também terão de tomar cuidado com os posicionamentos de Veiga buscando se libertar para ser acionado pelos ponteiros no último terço.
Enfim, as possibilidades são diversas nesse jogo que promete ser mais vez uma embate de ideias entre as duas principais equipes do país nos últimos cinco anos. Os planos de jogo são importantes, mas a execução dentro de campo dos atletas será o fator principal que ditará quem se sairá melhor em sua proposta nos 90 minutos.
SRN