Zico pesa 10 toneladas

03/03/2015, 00:40
Orra, é Mengo!
Por Gerrinson. R. de Andrade (Twitter: @GerriRodrian) - Do Blog Orra, é Mengo!

Nem Zeus, nem Zozó, nem Zuzu. Zico.

Torcedor é até tudo igual, mas é evidente que cada time tem lá suas particularidades, o que acaba formando a identidade da torcida. O corintiano tem aqueles 23 anos encalacrados. E mesmo um torcedor jovem acaba mimetizando uma autoafirmação bem própria, dos mais velhos, da "cultura", dos "memes". Cada time e torcida, ao longo de 100 anos, vivenciando de tudo, vai ganhando e perdendo um punhado de trejeitos.

Pensemos no Flamengo. Tem o maior ídolo que um time brasileiro já teve. Zico é o mais respeitado jogador brasileiro, homem raro na genialidade e na honestidade. Nem Pelé é unanimidade. São-paulino com Rogério Ceni é uns 44%. E olhe lá.

Não é ganhar Libertadores e Mundial e erguer troféu e brilhar nas estatísticas. É ter um momento de Máquina do Mundo, um êxtase prolongado e profundo, uma droga forte e desgraçadamente boa.

"A droga agora é outra, é o time", diz o triste saudosista. O rubro-negro é aquele que viveu em harém, com duzentas panicats, e hoje tem que se virar nas coxas da tísica. É chorar de alegria quando o Nixon acerta um chute. É vibrar atônito quando Márcio Araújo consegue o desarme.

A tísica põe batom, põe rouge e fio dental, o sujeito até gosta, mas fecha os olhos é pra se lembrar das 200 panicats.

Com traços tão fortes, poucas torcidas são tão insatisfeitas e irritadiças como a do Flamengo, capaz de vaiar o time quando está ganhando, capaz de vaiar estreante, capaz de vaiar capitão erguendo a taça.

Talvez este seja o preço a se pagar por se ter um Zeus, um cabra que mereça indiscutivelmente o título de herói. Assim, o flamenguista tem um exemplo elevado demais.

Diante de Zico, somos todos uns fracotes.

Quão menos pesado é alimentar fantasia por um Neto, um Ronaldo, um Edmundo, exemplos bem mais terrestres, gente comum, daquele tipo que a gente vê toda hora - por aí.

Orra, é Mengo!


Tags:
Partilha
Gerri Rodrian
Autor

Paulista de Osasco, nascido em 1974, casado. Formado em Letras na USP, dramaturgo, profissional da área multimídia e servidor público federal. Rubro-negro desde 1980.