Zé Ricardo era visto como bom técnico da base. Ganhou a Copinha montando um time sub-20 com bons valores e competitivo. O técnico, então, ficou prestigiado. Era comum os elogios e o desejo que se aprimorasse na carreira fazendo cursos da UEFA e sendo auxiliar técnico de treinador consagrado. Voltaria ao Flamengo para fazer carreira como treinador.
Mas o destino geralmente dá dribles seguidos em qualquer planejamento ou ideia. Parece proposital. Muricy, contratado, não vinha bem como técnico até pela carência de zagueiros e pela ousadia de se reinventar como treinador de time mais voltado ao ataque. Não estava dando certo. Flamengo sofria um vexame após o outro em campo. A torcida estressada, fez até o zagueiro Wallace sair correndo do clube quando virou o foco principal da revolta. Então, Muricy adoeceu. Flamengo colocou Zé Ricardo como técnico interino até a contratação de técnico definitivo, que me parece que seria o Abel pela escolha de Rodrigo Caetano. A torcida ainda recalcada com ele desde 2003 após o episódio “Santo André” o renegou publicamente. Mas, neste ínterim, Zé Ricardo conseguiu dar uma equilibrada no time, o tornando menos ofensivo, fazendo Arão não avançar tanto como fazia com Muricy, e substituindo Cuellar por Marcio Araujo, para “cobrir os laterais”, segundo a versão corrente. Com a troca de goleiros, PV por Muralha, na época um bom goleiro, Flamengo deixou de tomar tantos gols de frango. E com a chegada de Rever e Vaz a zaga se acertou de vez. Com a vinda de Diego, Flamengo cresceu no campeonato brasileiro a ponto de chegar, em algum tempo, a disputar a primeira posição com Palmeiras embora nunca tenha conseguido.
Zé Ricardo recebeu a consagração de muitos torcedores. Mas o time, ainda assim, tinha uma característica peculiar. Não procurava “matar seus jogos”. Isto é, uma vez feita a vantagem, recuava para jogar em contra-ataque, se expondo perigosamente. Além disso, Zé Ricardo mantinha o costume de alongar as substituições necessárias, tornando-se, assim, previsível em virada de tempo.
Flamengo, então, com Zé Ricardo começou a mostrar indícios da falta de competitividade, ao ser eliminado de forma vergonhosa na Sul Americana pelo Palestino, jogando “em casa”, na saudosa Cariacica. Time mostrou paralisia coletiva a ponto de receber olé.
A torcida culpou as constantes viagens. “Atrapalham os jogadores”, disseram. A diretoria conseguiu então que os jogos fossem feitos no Maracanã, justamente na reta final. Sendo que as partidas mais espaçadas, jogando-se uma vez por semana, dando tempo para mais treinamentos. E aí o time estagnou de vez. Zé Ricardo não conseguiu fazer o time evoluir de forma alguma. Previsível, os demais times encontraram a formula de deter o Flamengo, principalmente fazendo marcação alta e contando com as seguidas falhas do Marcio Araujo, que por todo o tempo foi titular absoluto do Zé Ricardo, para desespero de boa parte da torcida.
Flamengo, então, de candidato a título chegou em terceiro lugar. Zé Ricardo não conseguiu “reinventar” o time na reta final. Sucumbiu às suas ideias arraigadas de composição, mantendo o time titular até o fim.
Mas vinha o ano de 2017. Libertadores, fortalecimento de elenco, torcida exigente de títulos relevantes. Não seria a hora de contratação de técnico experiente, de qualidade, vencedor até para Zé
Ricardo complementar sua formação de técnico, estudando nos cursos da UEFA e depois servindo como auxiliar técnico? Como um técnico ainda bem inexperiente no profissional conseguiria lidar com elenco de formação tão complexa com exigência enorme de performance?
Muito difícil, certo? Mas a diretoria não entendeu assim, e não sei se por planejamento ou comodismo resolveu apostar na continuidade. O que poderia ser ruim para todos se desse errado. E deu.
Zé Ricardo passou a trabalhar com o elenco fortalecido por mais reforços mantendo a base de seu time de 2016. Fazendo até declarações de “lealdade”, supostamente bem agradecido a estes jogadores o terem “ajudado”. Típico de técnico inexperiente ainda sem confiança em si próprio. Mantendo o chamado “mono-esquema”, que já irritava boa parcela da torcida ainda em 2016, procurava rodar os reforços de forma a torcer para que coubessem na camisa de força que instituiu na forma do time jogar.
Conseguiu o carioquinha, mas foi vexatório na Libertadores. Não conseguiu fazer nenhum ponto em jogos fora. Derrotado fragorosamente em todos, vendo o Atletico-PR se classificar em nossa chave. O time não evoluía. Não andava. Um elenco de bom nível cujo técnico tinha a teimosia em escalar jogadores de menor capacidade técnica, para poder encaixar na camisa de força.
Campeonato brasileiro. Corinthians, com um bom técnico no elenco, dispara em pontos. Flamengo, claudicante, jogando de forma previsível. Com jogadores contratados sendo amontoados em um esquema que não conseguiu dar liga e nem o técnico arrumar solução. Troca goleiro por outro, troca de novo. Falhas de marcação seguidas, volante insubstituível marcando presença jogo a jogo, ataque inoperante até pela característica já marcada de jogar com pivô.
Flamengo então perde do Vitória em casa. 2 a 0. E a diretoria, após muita pressão da torcida, resolve demitir o treinador.
E agora, temporada perdida, fazer o que? Contratar já treinador forte, experiente e vencedor já para tentar algo em torneio eliminatório que falta, e este treinador pela disponibilidade hoje só poderia ser estrangeiro, como Rueda? Ou a diretoria apostará na solução caseira, do técnico brasileiro que está sobrando mas é mais fácil para o departamento de futebol dialogar e controlar?
Infelizmente apostaria na segunda opção em se tratando do perfil desta gestão de futebol. Mas, vejamos.
Flávio H. de Souza escreve no Blog Pedrada Rubro-Negra. Siga-o no Twitter: @PedradaRN
Foto destacada nas redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
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