É triste ver, ler, ouvir sobre as cenas que aconteceram na última quinta-feira, quando o Flamengo enfrentou o Boavista no Maracanã.
Luiz Filho (Twitter: @lavfilho)
Mais uma vez os torcedores foram tratados como gado pelos RESPONSÁVEIS PELO EVENTO. E não importa se a carga era de 500, 15 mil, de 30 mil ou de 200 mil pagantes, a torcida deve ser tratada com o máximo de respeito ela está ali para ajudar e é CONSUMIDORA do produto ofertado, está pagando pelo “espetáculo, não pode entrar com 40 minutos do primeiro tempo. Filas gigantescas para a compra de ingressos, acesso interno dificultado pelos 15 mil ingressos a ser vendido em 2hs, coisa que o Consórcio disse ser impossível conseguir vender.
Como assim? Na década de 1990 se vendia muito mais com as 4 bilheterias abertas, não com bilheterias fechadas. A cultura do “chegar em cima do jogo” também pode ser diminuída, mesmo com engarrafamentos, horário não tão bom e outros fatores. Se o ingresso fosse à distância, com facilidade? Fosse eu dirigente tentaria urgentemente rever os contratos de venda e fabricação de ingressos, se possível melhorar o contato entre os torcedores e o clube.
Para os jogos no Maracanã, caberia uma revisão no contrato ou uma pressão, cobrança para que mudanças sejam feitas. Elas não me parecem complexas, muito menos onerosas. Pelo contrário. Desde que sejam tratadas como investimento, fidelização dos clientes, da torcida que comparece aos jogos para apoiar o time, na boa e “na ruim”. Tudo passa primeiramente pela comercialização dos ingressos. Palmeiras e Botafogo venderão suas entradas em casas lotéricas, a partir do sistema de casas lotéricas da Caixa Econômica Federal, que por sinal é patrocinadora máster do clube e não patrocina nem a Palmeiras, nem a Botafogo.
https://www.youtube.com/watch?v=_0sF3YuPnQg
A parceria dos rivais se dará pela empresa que comercializa os ingressos dos clubes. O Flamengo também é parceiro, penso que deva entrar numa segunda fase do projeto. Vejo como algo normal, já que o Palmeiras tem seu estádio novo e o Botafogo uma demanda menor no RJ. A anormalidade, a meu ver, se dá na forma em que a parceria foi formada. Faz tempo que digo que algo deveria ser executado no sentido de se vender ingressos em casas lotéricas. Se não me engano, postei sobre o assunto em 2012, repeti em 2013 e 2014 e tão logo o Flamengo assinou sua parceria com a Caixa.
Como é “comum” no futebol brasileiro, precisou um intermediário para promover a “ousadia” de vender ingressos em casas lotéricas... (o Flamengo poderia ter fechado a parceria antes da empresa que vende seus ingressos, diretamente), nenhum clube agiu isoladamente. Passando deste “problema”, a venda dos ingressos por CPF, em qualquer lugar do Brasil, daria suporte ao clube para planejar pacotes de ingressos e vendas antecipadas, de certo modo, democratizando o acesso, como créditos de telefones celulares.
Para funcionar plenamente, bastaria o clube utilizar uma plataforma disponível, que parece pouco utilizada até o momento, o Cadastro Rubro-Negro. Foram mais de 800 mil Rubro-Negros cadastrados, incluindo os mais de 65 mil Sócios torcedores (contando os inativos). O torcedor cadastrado ganharia um cartão torcedor, como o que já existe para o sócio torcedor, como os do sistema de transportes, o “bilhete único”. O “cartão ingresso” dá acesso direto, reduzindo exponencialmente o cambismo, já que a compra seria praticada através do CPF, partindo diretamente do próprio cadastro.
Basicamente, todo torcedor do Flamengo que queira entrar em um estádio de futebol para torcer pelo clube teria de portar seu cartão, com seus dados já cadastrados no clube. Ajudaria, entre outras ações, em casos de polícia também. Neste sistema seria possível a conferência por amostragem, assim quem fosse pego com um cartão de alguém (o cartão serviria como uma “identidade do cidadão rubro-negro”), estaria impedido de assistir ao jogo, sendo entregue ao JECRIM, denunciado por falsidade ideológica e crime contra a economia popular (cambismo). Caso o portador queira repassar o bilhete a um irmão, familiar, amigo, outrem, por exemplo, terá de avisar com no mínimo 48hs de antecedência da partida. Na revenda do ingresso o clube ganharia uma porcentagem do valor repassado e o dono da entrada reduziria o prejuízo pelo ingresso comprado e reutilizado. Seria uma maneira de evitar fraudes na entrada e cadeiras vazias.
O Flamengo tem amplo conhecimento do sistema que ponho em questão, porque já o pratica, na entrada da sede social, onde só é permitida a passagem de sócios com suas carteirinhas. E o detalhe que faria toda a diferença contra fraudes: ao passar o cartão na roleta de entrada, aparece a foto do associado (como ocorre nas portarias da Gávea), portanto só entrará no estádio o dono do cartão-ingresso.
Caso o Clube deseje tratar o aspecto do cadastro e do relacionamento com o torcedor, trazendo facilidades e evitando problemas, pensando em novas práticas de facilitação como investimento, e não como custo, só enxergo vantagens para adoção desse sistema. Atualmente com a tecnologia utilizada em sistemas de cartões, como o RioCard, em consonância com o cadastro Rubro-negro, poderia se disponibilizar e enviar para os já cadastrados ou recadastrados 1 milhão de cartões, tranquilamente. Cartões não são caros, mesmo que se cobre na primeira fase (cadastro e entrega) custa menos de UM REAL, que poderia ser cobrado do próprio torcedor, inclusive. Quem se negaria a pagar por seu cartão?
Os mecanismos estão por aí, é só querer acabar com a farra dos ingressos, estádios vazios e aproximar-se de sua torcida, seu consumidor. Para que fazer o torcedor sofrer e o clube perder dinheiro achando que tudo é custo, nada é investimento? Evita filas, ativa o cadastro, ativa patrocinadores, atrai novas fontes de receitas, produz comodidade ao torcedor/consumidor, as recargas se dariam por CPF/cartão, reduziriam fraudes quase “zerando” o cambismo. Isso sem falar em Sócio Torcedor, já que esta “solução” não seria para ele e certamente aproximaria o torcedor comum do programa de ST. É só trabalhar com os dados que se tem para avançar no ST.
Ressalvo que não é fácil, porém é preciso um pouco mais de “boa vontade”, ousadia. Não consegui pensar em outra coisa que não fosse a famosa música de Zé Ramalho, principalmente depois de relatos sobre o funcionamento dos trens, na volta, depois do mesmo jogo. Mas isso daria uma outra música, ops, outro post.