Há poucas horas, o Flamengo divulgou uma carta do zagueiro e ex-capitão Wallace, contestada liderança do elenco, em que ele pede para ser emprestado a outro clube. Entre os motivos elencados pela ruptura, o atleta cita o desgaste na relação entre as partes e como esse esgotamento respingava em seus companheiros.
As reações de torcida e imprensa foram imediatas. No Twitter, Wallace tornou-se trending topic, com parte numerosa da Nação celebrando a decisão, enquanto que no Facebook o assunto viralizou em questão de minutos; nos canais de televisão, sua saída foi manchete e pauta de debates acalorados. Opiniões à parte, o fim desse relacionamento, há pouco menos de 24 horas do início do Campeonato Brasileiro, expõe duramente duas questões das mais relevantes: 1) o Flamengo, uma vez mais, não teve planejamento algum, e 2) falta ao futebol rubro-negro uma grande liderança.
O insucesso no planejamento não é algo novo para os rubro-negros, mas dessa vez parece mais duro. Primeiro porque concluir que um plano fracassou por conta de um atleta mediano, expõe como o elenco é mal projetado no início da temporada; a saída de Wallace deixa o elenco profissional com apenas dois zagueiros no momento. Segundo porque os montadores de elenco do Mengão apostaram que um defensor questionável poderia ser titular indiscutível de um time que pensa (ou deveria pensar) grande, sem nunca considerar que PODERIA DAR MERDA. E hoje, sexta-feira 13, deu merda. O que mais impressiona é que quem chegou a esta conclusão foi ele e não algum dirigente do clube. Uma (mais uma!) decepção retumbante do departamento molambo.
Wallace dificilmente será um desfalque sentido no Flamengo. Como ele mesmo colocou, sua relação com a torcida estava bastante conturbada e o estado emocional comprometia nitidamente o seu rendimento. O bom sujeito, que desembarcou na Gávea para compor elenco, em 2013, foi campeão da Copa do Brasil ganhando moral junto à torcida pela serenidade, pela capacidade de articular uma resposta e por cumprir um papel do tamanho que lhe cabia, foi substituído - ninguém sabe ou lembra como nem porquê - por um personagem que precisava ser durão, mas se embananava a cada grande jogo. Ele parece um cara legal. E teria uma jornada longa na Gávea se fosse mantido em um papel do tamanho do seu futebol. Provavelmente se despediria com lembranças afetuosas da torcida, tão habituada a transformar sujeitos comuns em grandes heróis. Mas queriam que ele fosse a liderança de um time que, desde 2013, não é um time. Quando a bagunça rola solta numa equipe, as deficiências individuais tornam-se grandes demais para um personagem que busca se consolidar em uma posição em que foi artificialmente colocado. O capitão, que até outro dia compunha o elenco, agora tinha que responder pelas faltas de resultados e, pior, pelas graves falhas individuais que recorrentemente cometeu.
Sua partida deixa vaga a braçadeira de capitão (que deve ser ocupada por Juan, como já ocorreu no último jogo) e também um buraco entre as lideranças, tão raras, no futebol rubro-negro. Paulo Victor é questionado por seu rendimento, embora tenha muito tempo de casa; Guerrero e Mancuello carregam experiência, mas ainda não possuem identificação com o clube. Muricy, até agora, não deu sinais de que será essa figura. Sheik e Éverton poderiam ter representatividade, mas ninguém gostaria, em sã consciência, que um dele exercesse influência sobre o elenco. Urge uma liderança no Mais Querido. Resta saber se ela virá de mais uma tentativa de mercado do Rodrigo Caetano ou se nascerá de um elenco que, até hoje, não soube crescer com suas cicatrizes.