Uma vitória titista, que teve consistência, mas também seu toque de arte
Adenor Leonardo Bachi é um homem que tem um plano. De vez em quando esse plano é irritante, às vezes esse plano não é tão ofensivo quanto gostaríamos, com grande frequência tu não entende o plano quando ele explica na coletiva.
Mas ninguém pode dizer que Tite, o homem que pegou um Flamengo em frangalhos após dois treinadores que pareciam querer apenas receber multa de rescisão, não tem ideias claras, firmes e consistentes quanto ao que quer do seu time.
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Veja a vitória de hoje, por exemplo, um 2×0 contra o Fluminense que deixou a equipe rubro-negra muito próxima de conquistar esse título – tão simbólico que o troféu talvez seja uma ideia e nem possua manifestação física – que é a Taça Guanabara.
Nos primeiros vinte minutos de jogo vimos um Flamengo absolutamente perdido em campo. A equipe não criava, não armava, perdia a posse de bola de maneira infantil e parecia ter treinado durante a semana assistindo um VT com os piores momentos do Flamengo de Ney Franco, com Rômulo, Jailton e Cristian, o time de coisa que nem deveria ser liberado para consumo humano.
Tite se desesperou? Não. Tite fez mudanças bruscas no time? Não fez. Tite, tal qual alguns treinadores com passagem pelo futebol carioca, entregou o cargo? Jamais.
Adenor chamou os jogadores de lado, Adenor conversou, Adenor organizou, e já na segunda metade do primeiro tempo o Flamengo começou a marcar melhor a saída, buscar mais oportunidades, o que pode não ter tornado os 45 minutos oficiais tão menos horríveis, mas ao menos gerou um equilíbrio das ações.
Mas foi no segundo tempo que, mais uma vez, o Titismo mostrou porque tirou um homem do Guarany de Garibaldi e levou ele até o banco de reservas do Flamengo. Isso porque mesmo diante da absoluta inoperância de Luiz Araújo e de Cebolinha, os dois pontas que no primeiro tempo participaram menos do jogo do que um pai ausente participa da vida da criança, Tite voltou com os dois do intervalo. Contra a lógica, contra o bom senso, até mesmo contra a saúde dos torcedores.
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O resultado? Uma boa participação de Luiz Araujo no lance do gol, talvez sua única na partida, logo antes do cruzamento de Varela, que Ayrton Lucas mandou para Pedro marcar. E claro, o gol de Cebolinha, que contou sim com a contribuição das artríticas mãos idosas do goleiro tricolor, mas nasceu de uma linda jogada onde Arrasca e Pedro deram passes de letra após a boa jogada de Delacruz, se aproveitando de um Fluminense tão apaixonado pelo futebol bonito que não quis impedir um gol tão plástico.
Obviamente ainda existe muito a melhorar. O Flamengo não pode ser dar ao luxo de entrar tão perdido em campo e todos os clássicos até agora se mostraram bem mais complicados na prática do que o desnível técnico entre as equipes indicava no papel. Tite tem no banco recursos que não vem sabendo usar e em alguns jogos pode sim ser mais vantajoso mexer do que se abraçar tanto com convicções.
Mas é fato que, mais uma vez, “o plano de Tite” levou o Flamengo à vitória, nos mantendo como o ataque mais positivo e a melhor defesa de um Carioca onde um dos grandes já está garantido fora das semifinais. Que o gaúcho consiga então manter seu plano em constante evolução, ciente de que os desafios vão sim crescer durante a temporada e vão exigir cada vez mais de um time que segue vencendo, mas ainda tem muito a melhorar.