Assim como o elogio de mãe e o comentário de vendedor de loja enquanto você está provando roupa, a função do campeonato estadual é basicamente te iludir.
Goleada em cima de time da Série D enche torcedor de confiança, derrota bizarra contra equipe que nem divisão tem vai derrubar técnico que mal assumiu, atleta que acabou de chegar da Europa e não aguentou correr em partida realizada meio dia em Moça Bonita vai ter seu comprometimento questionado.
➕ Do mesmo autor: A sinistra e misteriosa janela de transferências do Flamengo
Isso porque por mais que a gente saiba que o Carioca é um torneio de baixo nível técnico, organizado por uma federação picareta, disputado em condições precárias, cuja premiação são “as amizades que fazemos pelo caminho”, é impossível resistir à tentação de tirar algumas conclusões, por mais obviamente precipitadas que elas sejam.
Então vamos às conclusões precipitadas que podemos tirar da goleada desta quarta-feira, em que o Flamengo atropelou o frágil Audax na Arena da Amazônia, por 4×0.
Primeiro é preciso reconhecer que as poucas coisas que funcionaram ano passado continuam funcionando esse ano. Pulgar segue essencial para o time, Arrascaeta mantém a qualidade de sempre, Cebolinha parece estar mesmo recuperando seu futebol, Pedro é um goleador nato. Nossa zaga titular segue sendo Léo Pereira e Fabrício Bruno, ainda que eles praticamente não tenham sido testados nessa partida.
Da mesma forma, é preciso admitir que as coisas que faltavam continuam, em grande parte, faltando nesse novo ano. Seguimos sem opções de articulação pelo meio de campo, ainda temos elenco um tanto quanto desequilibrado, Gabigol segue sem conseguir encontrar seu espaço no campo, já que não fica à frente o bastante para voltar a fazer gols e nem tem qualidade o bastante pra armar o jogo lá atrás.
Nas laterais a situação também segue complicada, já que Ayrton Lucas é um bom titular, mas não tem reservas, e na direita não se pode deixar que uma atuação mediana contra um time pequeno, com direito a um gol absolutamente na sorte, convença alguém de que o lamentável Varela merece mesmo a posição – ainda mais quando colocado ao lado de Luiz Araújo, outro atleta que tem muita vontade e disposição mas fez o teste psicotécnico e o resultado deu negativo.
O que temos então é uma versão um pouco mais descansada e disposta do Flamengo de 2023, na qual Tite pode incorporar reforços – onde De La Cruz se encaixa nesse meio-campo? como será que Allan pode contribuir? Matheus Gonçalves é uma opção? – mas pra qual ainda faltam muitas peças importantes se o time realmente quiser brigar por alguma coisa, indo desde laterais até atacantes, passando por ao menos mais um meia de criação.
Por isso, ainda que obviamente seja uma alegria ver de novo o Flamengo em campo, ainda mais vencendo com tanta autoridade, ainda é muito cedo pra tanto pra acreditar que vamos repetir da tragédia de 2023 quanto pra concluir que o ano de 2024 vai ser completamente diferente. Mas já temos, com toda certeza, base o bastante pra afirmar que o Flamengo precisa de mais peças, mesmo porque disso todos nós já sabíamos antes mesmo da equipe entrar em campo.