Uma abstinência em preto e vermelho

03/01/2017, 15:50

Começa ali em meados de dezembro. O campeonato brasileiro acaba, depois de 38 rodadas que podem ter sido eletrizantes, terríveis ou apenas imensamente longas, dependendo do desempenho do seu time. Você está eufórico, triste ou apenas exausto, o que também varia de acordo com o desempenho do seu time, e precisa de um tempo pra comemorar, sofrer em paz, não ver um raio de um gramado por perto, nem se for do playground do seu prédio, também variando de acordo com o desempenho do seu time.

Na primeira semana é tranquilo. Sua noite de quarta-feira está livre, você pode ir ao cinema, sair com os amigos, quem sabe até dormir mais cedo, sensação gostosa de deitar onze da noite, na quinta acordou até renovado. No domingo o almoço de família começou três da tarde e você não apressou ninguém, não tirou celular do bolso, cinco horas tava ajudando a mãe com a louça, ela até agradeceu. Durante a noite nada de Fantástico, botou em dia aquele seriadinho que seu irmão vive recomendando, muito bom o seriado, você devia acompanhar mais.

Segunda-feira cedo começou. Ligou o computador do escritório, mas não tinha gols da rodada pra ver, deu uma lida de leve nas especulações, tentou não se envolver muito, sabe como é, tudo boato, vamos esperar pra ter certeza, muita coisa pode acontecer. Na tarde de terça bateu uma ansiedade que você não sabia descrever e que só foi aumentando até a noite de quarta, quando veio a sensação de vazio. Alguma coisa faltava na sua rotina, o seu meio de semana estava sem âncora, terça, quarta, quinta, os dias pareciam todos iguais já que em nenhum deles havia futebol.

Fim de semana a abstinência bateu e você começou a tentar procurar substitutos. Como um adolescente fumando orégano você se pegou assistindo um amistoso de amigos do Eri Johnson contra primos do Wesley Safadão, acompanhando jogo do campeonato inglês, vendo vídeo com as melhores jogadas do
Marcelo Cirino em 2016 – era um vídeo muito, mas muito, mas muito curto mesmo.

Na semana seguinte já estava de cabeça no noticiário de especulações, virou o ano pesquisando a biografia de cada futuro reforço, já sabe qual apelido de infância do meia do River Plate que só aquele blog turco anunciou que estava negociando com o Flamengo. Assistiu matéria sobre as férias do Vizeu, acompanhou o Mancuello no twitter, tava acordado vendo mesa redonda na hora que ventilaram o Schweinsteiger na Gávea e se perguntou se ele ia comer banco pro Márcio Araújo, já que costuma jogar de volante.

Essa semana tá ansioso porque começa copinha, disse que é porque gosta da competição, é importante o futebol de base, tem que garimpar esses talentos. Mas a verdade é que é mais do que isso.

Por mais que às vezes doa, por mais que às vezes desespere, por mais que às vezes você considere deixar de acompanhar, por mais que uma vez você já tenha atirado uma lata de cerveja na parede depois de uma jogada do Mugni e ela tenha voltado e batido em você, sem o Flamengo fica um vazio, fica um buraco. Na semana, na rotina, no coração. Buraco esse que só é preenchido quando você vê aquele time entrando no campo, aqueles caras correndo atrás daquela bola, aquela camisa preta e vermelha ali, diante dos seus olhos. Porque como mais do que nunca ficou claro, com tudo que aconteceu ano passado, futebol nunca é só futebol, futebol é sempre uma parte da vida de quem ama futebol. E o Flamengo então, esse consegue ser uma parte maior ainda.

Fora que tem esse Vinícius na Copa São Paulo que todo mundo tá falando bem, moleque tem 16 anos, se bobear a gente nem precisa contratar o Marinho, mete o garoto em campo mesmo.

João Luis Jr.
Twitter: @joaoluisjr

 
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