Um clássico pra ensinar em quem Paulo Sousa não pode confiar

06/02/2022, 20:36
Diego Ribas Flamengo Fluminense

O começo do campeonato estadual está para a temporada mais ou menos como a época da faculdade está para a vida adulta: é um período de experimentações. Da mesma maneira que é no primeiro trabalho em grupo que você descobre quem vão ser seus amigos e na primeira choppada que você descobre se aguenta misturar cachaça e Itaipava, vai ser no começo do ano que o treinador vai descobrir com quais jogadores pode contar, quais adaptações podem funcionar, que atletas juntos em campo vão causar na equipe o mesmo efeito que Corote com Clight Zero causam num corpo humano na manhã seguinte.

E como ficou claro pela derrota constrangedora, pela atuação abaixo da crítica e pelo absoluto descontrole emocional da equipe rubro-negra, a partida de hoje, diante do Fluminense no Engenhão, gerou várias situações que podem tranquilamente ser comparadas ao uso de substâncias mais pesadas, no sentido de que não apenas não devem ser repetidos como, colocando em perspectiva, nem deveriam ter acontecido pela primeira vez.

Notas dos jogadores: Experimental, com falhas e sem romance: Fla de Paulo Sousa perde para Flu de Abel Braga no Cariocão

felipe-melo arrascaeta flamengo fluminense
Mais triste do que perder, só perder pra jogador calhorda. Foto: Gilvan de Souza / CRF

Diego Ribas titular da armação, por exemplo. Existe uma conexão emocional, existem boas lembranças, tem o feed impecável do Instagram, com crianças fofas, declarações de amor ao clube e mensagens motivacionais? Com certeza existe e ninguém pode negar que Diego é o camisa 10 com as melhores selfies do Brasil. Mas dentro de campo o que se vê é um jogador que prende demais a bola, atrasa jogadas, erra passes, falha na marcação e demonstra aos 37 anos níveis de descontrole emocional que fariam aquela criança chorona que chuta sua poltrona na ponte aérea pensar “eita, amigo, calma”.

Outro exemplo? Infelizmente Hugo Neneca. Porque é fácil gostar do Hugo. É um goleiro jovem, arrojado, que consegue fazer defesas importantes em jogadas inesperadas. Mas ao mesmo tempo é um goleiro inexperiente, confuso, que consegue ter suas mãos substituídas por dois grandes pedaços de bananada da Vovó de São Lourenço exatamente nos momentos mais críticos da partida, logo quando você estava pensando “ah, a gente não precisa de outro goleiro, olha aí o Nenec–gol do Fluminense, puta que pariu”.

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Mais triste do que perder, só perder pra jogador calhorda. Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

Isso sem falar em Isla, que entrou no final do segundo tempo e em poucos minutos conseguiu dar uma entregada bisonha seguida da falha que permitiu ao jogador tricolor cabecear na jogada do gol, um índice de aproveitamento reverso que poucos atletas conseguiriam obter e que fez a atuação de Rodinei parecer quase brilhante. Gustavo Henrique e Léo Pereira juntos num esquema com 3 zagueiros, é uma ideia saudável? Manter Pedro no banco e colocar Lázaro para buscar um empate na reta final da partida, faz mesmo sentido? Foram várias as experiências realizadas, foi grande o crédito dado, mas a sensação é que todas as experiências explodiram na nossa cara e todo o crédito foi usado apostando em “batata” no jogo do bicho.

A expectativa portanto é que as tentativas frustradas resultem em lições aprendidas. Que Diego seja afastado do elenco profissional e passe a atuar apenas como modelo e influencer, que Hugo Neneca recebe atenção psicológica ou apenas tenha ossos inseridos cirurgicamente em suas mãos, que Isla seja o quanto antes extraditado, que Marcos Braz volte de viagem com tudo de zagueiros que a Polícia Federal permitir que um clube importe.

Porque obviamente ainda é cedo para criticar, evidentemente ainda estamos no começo de um trabalho promissor, com toda certeza esse time precisa de mais tempo e merece mais crédito até que uma nova filosofia possa ser implementada. Mas não tem como negar que jornadas como a de hoje, em que tivemos que aguentar mais de uma hora e meia de um Flamengo confuso, com jogadores absolutamente sem condições de atuar em alto nível, foram quase tão ruins quanto aquela época no primeiro período de jornalismo em que a gente achou que realmente ia ficar bacana usando cavanhaque. Não ficou, realmente não ficou.