Tudo é complicado para um Flamengo que quer se complicar em tudo

04/05/2022, 22:30
arrascaeta talleres flamengo libertadores 2022

É totalmente plausível culpar as falhas individuais. William Arão, mais sozinho do que o eu-lírico da canção “Sozinho”, composta por Peninha e interpretada por Caetano Veloso, fez um gol contra que desafia qualquer tipo de explicação racional. Isla segue incapaz de pular acima da altura de uma folha de papel A4 e sendo surpreendido por absolutamente qualquer objeto ou pessoa que se mova.

Andreas Pereira abandonou o plano físico em novembro de 2021 e o que vemos hoje perambulando pelos campos é apenas uma alma sem vida. Rodinei atuando na ala esquerda parece mais uma pegadinha do João Kléber pra testar a reação do torcedor do que uma ideia que alguma pessoa de verdade teve no mundo real.

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Também é totalmente plausível culpar o coletivo. O Flamengo passou o primeiro tempo inteiro da partida contra o Talleres sem dar um mísero chute a gol, apresentou na defesa níveis de desorganização que fazem a apresentação de um trabalho de faculdade preparado na véspera por seis universitários bêbados parecer um musical da Broadway, viveu quase 50 minutos da mais pura e absoluta indigência técnica até que Arrascaeta perdesse a paciência e decidisse ele mesmo empatar a partida com um tirambaço de fora da área. Mais uma vez o Flamengo sem a bola era o retrato falado do caos feito na delegacia da bagunça e apenas o talento individual salvou a equipe.

Mais uma partida em que Arrasca carregou mais peso nas costas que peão de obra no Egito antigo
Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Você também pode culpar o departamento médico, claro, essa verdadeira Caverna do Dragão rubro-negra onde as pessoas entram, ficam por tempo indeterminado e, quando você pensa que elas vão sair, elas acabam voltando.

Você pode culpar a montagem do elenco, que permitiu que chegássemos em maio, numa partida de Libertadores, sem nenhum ala esquerdo em condições de jogar na ala esquerda e nenhum ala direito em condições de jogar na ala direita.

Você pode culpar Paulo Sousa que segue dando chances para um Andreas nada combativo, inventando improvisações que não parecem fazer sentido, que depois de pré-temporada e Campeonato Carioca, ainda parece muito longe de acertar o time.

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Ou seja, não faltam razões, explicações, motivos, problemas e culpados para a baixa qualidade do futebol rubro-negro. As falhas individuais são gritantes – que outro time até hoje fez 3 gols contras seguidos numa Libertadores? – a confusão tática é visível, os desfalques são inúmeros, as decisões equivocadas do técnico são variadas, os problemas do elenco não são novidade. O que falta, aparentemente, são soluções para isso tudo.

Se eles não podem jogar juntos então queijo minas não pode ser consumido com goiabada também
Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Porque hoje o Flamengo conseguiu, novamente mais na qualidade individual do que no mérito coletivo, muito mais na sorte do que no juízo, um empate fora de casa que pode até garantir a qualificação antecipada para as oitavas de final. Mas e depois disso?

O Flamengo vai parar de ter jogadores se lesionando em quase todas as partidas e demorando meses para voltar?

A defesa vai finalmente começar a funcionar?

A situação psicológica dos jogadores, que parece variar entre “bicho-preguiça dopado” e “pinscher sob efeito de anfetaminas”, vai melhorar?

O clube vai parar de manter no elenco jogadores sem a menor condição de vestir a camisa do Flamengo e começar a reforçar as posições carentes?

Os problemas são muitos, são visíveis e já passou da hora de serem resolvidos. Com esse tempo de clube Paulo Sousa precisa ser capaz de apresentar mais futebol, com esse nível de investimento o Flamengo precisa ser capaz de montar um elenco mais equilibrado, com esse nível de recurso o nosso DM precisa conseguir recuperar melhor os jogadores.

Ainda existe tempo pra que tudo isso aconteça, mas a cada jogo como o de hoje fica realmente um pouquinho mais complicado acreditar que vai acontecer.


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