Autora de livro sobre tragédia do Ninho reclama de ausência em museu

07/02/2024, 11:28
Arbex diz que é 'emblemático' que museu do Flamengo não tenha ala dedicada à tragédia do Ninho do Urubu: 'É como se não tivesse existido'

A autora do livro “Longe do Ninho”, sobre a maior tragédia da história do Flamengo, que completa cinco anos nesta quinta-feira (8), Daniela Arbex, criticou a falta de uma ala dedicada ao episódio no Museu do Flamengo, inaugurado no ano passado.

“Uma coisa é emblemática. Quando um clube cria um museu, disposto a contar sua história, e nesse museu parte dessa história não é contada, isso chama a atenção, né? Como eu disse, se uma história não é contada é como se ela não tivesse existido”, afirmou ela ao ser questionada, em entrevista a “O Globo”, se o Flamengo tinha aprendido algo com a tragédia.

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Em 8 de fevereiro de 2019, um incêndio no Ninho do Urubu matou dez meninos com idades entre 14 e 16 anos que jogavam nas categorias de base do Flamengo. Arbex disse na entrevista que um dos motivos que a levou a escrever esse livro foi mostrar os meninos como heróis até o fim, contando histórias de como tentaram ajudar os amigos a escapar dos contêineres em chamas mesmo enquanto lutavam pelas próprias vidas.

“A gente sempre ouviu uma narrativa de que adultos foram heróis naquela cena. Mas acho que esse título tem que ser reservado aos sobreviventes. Eles foram capazes, até os que morreram, de mesmo no momento mais extremo pensar no outro. Acordaram um ao outro, chamaram quem dormiu de novo… Eles carregam traumas. Mas essa afetividade e a decisão de seguir jogando pelos dez é incrível”, comentou.

Para o livro, Arbex entrevistou as famílias de todas as vítimas e 8 dos 16 meninos sobreviventes. Ela conta que alguns dos sobreviventes, mesmo tendo vivido a situação, relataram que se surpreenderam ao ler o capítulo sobre o incêndio em si.

Mãe de vítima de tragédia do Ninho procurou repórter após entrevista sobre Brumadinho

Arbex, que nunca trabalhou com jornalismo esportivo, disse que decidiu escrever o livro quando foi procurada pela mãe de Bernardo Pisetta, uma das vítimas da tragédia do Ninho, após dar uma entrevista no “Fantástico” sobre o livro “Arrastados”, sobre a tragédia de Brumadinho. A repórter e dona Leda passaram a conversar por redes sociais, e da conversa surgiu a ideia do livro.

Arbex vê semelhanças entre a tragédia de Brumadinho, que também completou cinco anos recentemente, e a do Flamengo. Nos dois casos, ainda não houve punições da Justiça cinco anos após o ocorrido.

“Tem uma similaridade entre o que aconteceu no Ninho, em Brumadinho, na Kiss, que é a cultura da impunidade. Porque a falta de responsabilização alimenta a próxima tragédia. De 2012 a 2019, os órgãos públicos do Rio deram inúmeras chances para o Flamengo se adequar. Já os meninos não tiveram nenhuma”, disse.

Atualmente, oito pessoas são réus na Justiça no processo criminal sobre o incêndio: o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello, o ex-diretor financeiro do clube Antonio Marcelo Marotti, o engenheiro Marcelo Maia de Sá, o técnico em refrigeração Edson Colman e quatro representantes da empresa que forneceu os contêineres (Claudia Pereira Rodrigues, Danilo da Silva Duarte, Fabio Hilario da Silva e Weslley Gimenes).


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