Torcida ou plateia? Parte 2: o efeito da elitização no apoio ao Flamengo no Maracanã

Atualizado: 12/05/2025, 12:41
Torcida do Flamengo assiste vitória sobre o Bahia no Maracanã

Faixa colunista Rico Monteiro

Como destaquei no texto anterior, com a mudança no perfil dos torcedores que frequentam o estádio, era nítido que haveria um efeito comportamental perceptível.

Esse efeito, infelizmente, não tem sido bom para o clube, para o time e para a própria torcida.

Se segue sem encantar, desta vez o Flamengo ao menos conseguiu vencer

Historicamente, a Nação Rubro-Negra sempre foi considerada uma das torcidas mais vibrantes, criativas e apaixonadas do país. Era conhecida por transformar arquibancadas em festas, com personalidade, irreverência e muito apoio.

Não custa lembrar: em 1992, a torcida do Flamengo chegou a receber um prêmio por sua criatividade e inovação durante a campanha vitoriosa contra o Botafogo.

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Hoje, no entanto, percebe-se uma desconexão dessa torcida com o clube e com o time. Muito disso se deve às decisões dos dirigentes, que - de maneira sistemática, seja por discurso ou por ação - afastaram a camada menos favorecida da arquibancada. Dito de forma clara: afastaram o pobre do estádio.

Essa mudança alterou a alma da arquibancada.

Hoje, muitos torcedores encaram o jogo como um espetáculo, uma peça de teatro, um show ou a estreia de um filme. Algo para ser apreciado em silêncio, com exigência estética. Nunca foi assim.

A torcida do Flamengo vibrava por cada chance de poder jogar a Libertadores do ano seguinte. Cantávamos “Libertadores qualquer dia tamo aí” ou “Rumo a Tóquio”, conscientes da importância de apoiar e obter uma vitória sobre qualquer adversário.

Hoje, uma parte considerável da torcida que está no estádio demonstra empáfia. Exige goleadas. Acha que o time tem obrigação de vencer por 4x0, no mínimo. Em jogos recentes, vimos jogadores sendo vaiados ainda no primeiro tempo.

Do apoio incondicional à cobrança como consumidor: o que perdemos no caminho?

Isso mostra a desconexão com a história do clube, do time e da própria torcida. Sempre exigimos um futebol bem jogado, é verdade. Mas jamais deixamos de apoiar. A cobrança existia, mas vinha junto da paixão.

Essa transformação se intensificou nos últimos 15 anos — e especialmente nos últimos seis, que estão entre os mais vitoriosos da história do Flamengo.

Por quê?

Porque o torcedor esqueceu seu papel fundamental: torcer.

Ele se vê agora como um consumidor. Um cliente. Acha que, por pagar caro, tem o direito de receber um espetáculo de gala. Ou de se sentir lesado, caso isso não aconteça.

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É a lógica do mercado: se o produto não entrega o prometido, reclama-se de falha na prestação do serviço. Esse pensamento chegou à arquibancada.

Hoje temos consumidores flamenguistas. Se o time não vence com show, se sentem vítimas de um vício no produto. A essência se perdeu.

Mas ainda dá tempo de recuperar.

Precisamos, todos nós que amamos esse clube, encontrar caminhos para reacender a chama que sempre moveu a torcida do Flamengo.

Esse é um trabalho coletivo. E inadiável.

 

Rico Monteiro é advogado - sócio do escritório Heringer, Monteiro e Curvelo Advogados. Pós Graduado em Processo Civil. Ex-Professor da ESA e da Estácio de Sá. Pai de duas Marias, apaixonado por música e pelo Flamengo.



Rico Monteiro
Autor
Rico Monteiro é advogado - sócio do escritório Heringer, Monteiro e Curvelo Advogados. Pós Graduado em Processo Civil. Ex-Professor da ESA e da Estácio de Sá. Pai de duas Marias, apaixonado por música e ...