Amnésia alvinegra: Torcida do Botafogo cantava música do Flamengo para ídolo

18/11/2021, 19:32

A música “Vou Festejar” gerou polêmica após ser cantada pelos rubro-negros na vitória do Flamengo sobre o Corinthians, na última quarta-feira (17). Torcedores do Botafogo lembraram que canção foi gravada pela alvinegra Beth Carvalho. Mas nos anos 90, eram os botafoguenses que cantavam “Fio Maravilha“, ídolo da Gávea, para o atacante Túlio.

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“Vou festejar” é de composição dos rubro-negros Jorge Aragão, Dida e Neoci. A música fazia parte do bloco Cacique de Ramos. No entanto, foi imortalizada na voz da Madrinha do Samba, Beth Carvalho e sua gravação de 1978.

Como era torcedora do Botafogo, alguns torcedores do rival do Flamengo não gostaram de ouvir a obra no Maracanã. De acordo com eles, a música tem ligação com o time alvinegro por este fato.

Entretanto, nos anos 90, era uma canção flamenguista que dava o tom da festa dos botafoguenses. Após a vitória do Botafogo por 6 a 0 sobre o América, pelo Cariocão de 1994, torcedores entoaram para o recém-chegado atacante do Goiás: “Túlio Maravilha, nós gostamos de você”.

Estreando no campeonato, Túlio fez três gols. Mas a adaptação foi feita em cima de “Fio Maravilha”, música composta pelo rubro-negro declarado, Jorge Benjor. A letra original é uma homenagem ao lendário atacante do Flamengo, artilheiro nos anos 70.

A versão fez tanto sucesso que o jogador ganhou um “sobrenome” por causa do refrão chiclete. Assim, o atacante sensação do futebol nacional virou Túlio Maravilha. O próprio ídolo do Botafogo contou o caso em entrevista, no ano de 2010.

Quem foi “Fio Maravilha”, artilheiro do Flamengo?

Mineiro de Conselheiro Pena, João Batista de Sales ganhou fama com o apelido Fio Maravilha. O jogador chegou ao Flamengo através do seu irmão Germano (ex-ponta-esquerda do clube, Milan e Palmeiras). E então começou a carreira na Gávea, aos 15 anos.

Atuou com a camisa rubro-negra entre 1963 e 1975. Chamado de “folclórico” e “desengonçado”, fez gols em jogos importantes do Flamengo na década de 70. Ganhou fama por driblar os zagueiros e goleiros, mas perder a finalização.

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Ídolo da torcida, acabou virando homenagem de um jovem compositor: Jorge Benjor. A canção homônima venceu o Festival Internacional da Canção de 1972. A obra fez um estrondoso sucesso nacional na voz de Maria Alcina.

O mais famoso trecho dizia: “Tabelou, driblou dois zagueiros / Deu um toque driblou o goleiro / Só não entrou com bola e tudo / Porque teve humildade em gol”. De acordo com Benjor, o gol aos 33 da segunda etapa, e visto por 44 mil pessoas no Maracanã, ocorreu em 15 de janeiro de 1972.

Entretanto, Fio Maravilha não gostou. Mal orientado, o caso foi parar na Justiça. O compositor ficou triste, mas modificou sua obra. A música alterou o título e letra para “Filho Maravilha”.

Em 2007, após anos de imbróglio, Fio disse em rede nacional que seu processo contra Jorge Benjor fora um mal entendido. Na mesma entrevista, declarou que autorizava o cantor a voltar a cantá-la da forma original.

Os botafoguenses, que acabaram aproveitando e adaptando a letra do Flamengo com “Túlio Maravilha”, talvez tenham esquecido. Mas o Fio Maravilha e os rubro-negros, não.

OUÇA “FIO MARAVILHA”


Bruno Guedes
Autor

Jornalista e Historiador, é apaixonado por futebol bem jogado. Já atuou na Rádio Roquette Pinto e como colunista no Goal.com. Siga no Twitter: @EuBrguedes