Do dia 4 ao dia 8 de Dezembro, Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco estão participando de uma campanha de conscientização e aderiram a um protocolo integrado para enfrentar casos de violência contra meninas e mulheres nos estádios.
Esse movimento nasceu levando em conta algumas datas históricas, referências no combate à violência de gênero, e a vontade de lutar contra o preocupante aumento de agressões contra mulheres nos estádios.
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No dia 6 de Dezembro de 1989, um homem ingressou na Escola Politécnica de Montreal, declarou estar "lutando contra o feminismo", e assassinou 14 mulheres.
Esse massacre chocou o mundo inteiro e provocou um forte debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres e a violência gerada por esse desequilíbrio.
Um grupo de homens canadenses se organizou, eles elegeram o laço branco como símbolo, e lançaram a primeira Campanha do Laço Branco (White Ribbon Campaign): homens pelo fim da violência contra a mulher.
- O Brasil passou a reconhecer a data oficialmente a partir de 2007, quando foi instituído o dia 6 de dezembro como o “Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres” (Lei 11.489/07).
- Esta data faz parte da campanha dos 16 dias de Ativismo que vai do dia 25 de Novembro (dia Internacional da Não Violência contra a Mulher) até o dia 10 de Dezembro (proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos).
- A partir de 2014, a ONU lança o movimento He For She, Eles por elas, que tem como objetivo engajar homens e meninos para novas relações de gênero sem atitudes e comportamentos machistas, encorajando eles a tomarem iniciativa e medidas contra a desigualdade de gênero.
- Em Outubro 2024, o Flamengo pede uma reunião com a Secretaria da Mulher do Estado do Rio de Janeiro, preocupado com o crescimento da violência contra mulheres no Estádio.
- A Secretaria decide então convocar os 4 maiores Clubes do Rio, e órgãos públicos para debater sobre o tema, e refletir sobre medidas efetivas.
- A Deputada Federal Soraya Santos, protagonista da campanha contra o feminicídio “Antes que aconteça”, do qual o Flamengo é signatário, também é convidada.
Em Novembro ficou então definido um protocolo integrado de atuação para enfrentar casos de violência contra meninas e mulheres nos estádios.
Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que, em dias de jogos de futebol, as agressões físicas às mulheres aumentam quase 21% e as ameaças também crescem em quase 24%. Os jogadores, como figuras públicas e admiradas, são agentes transformadores essenciais nessa causa.
Ou seja, por mais que o Futebol seja um ambiente machista e masculino, e um tanto hermético à mudanças, a sua projeção e suma importância na sociedade pode tornar ele um grande aliado no combate à violência de gênero.
Desta forma, um vídeo com jogadores do Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco, foi elaborado para conscientizar os torcedores, salientando que eles tem um papel também como homens, enquanto atores importantes nas mudanças em prol de uma sociedade igualitária.
É a campanha Todos por Elas.
Além do vídeo divulgado nos telões dos Estádios, e nas redes sociais, os clubes elaboraram um protocolo unificado em 4 etapas:
- -Ações educativas com desenvolvimento de campanhas de conscientização.
- -Protocolos de acolhimento e atendimento para mulheres vítimas de violência nos estádios, além de orientações sobre como proceder em casos de agressão.
- -Capacitação e treinamento para profissionais de segurança e atendimento em estádios.
- -Espaços de denúncia e acolhimento com a criação e sinalização de áreas específicas nos estádios para que as vítimas possam relatar suas experiências e receber apoio de forma segura.
A Campanha Todos por Elas é um marco, pois ela sinaliza que o combate à violência de gênero é muito maior que a rivalidade dos clubes, e que o Futebol pode e deve promover mudanças em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.
“A igualdade é uma necessidade vital da alma humana. Se trata do reconhecimento público, geral, efetivo, expresso pelas instituições e pelos modos, que deve se dar a mesma quantidade de respeito e atenção a todo ser humano, porque o respeito é devido a todo ser humano e não tem grau”. (Simone Weil)
Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72