Tite repete meio, mas muda para a tática que garantiu título brasileiro ao Flamengo
Noite de festa! Este ao menos foi o sentimento dos torcedores do Flamengo que residem na Cidade das Mangueiras, Belém do Pará. Grupo que este que este que vos escreve faz parte, mas por motivos que não me cabem aqui ser mencionados, não pôde estar presente.
Dentro de campo, a seriedade que tem caracterizado a forma como os comandados de Tite encaram qualquer adversário.
➕ Tempos diferentes simbolizam variedade de intenções de Tite para a temporada
Preocupados em manter a estrutura treinada e não sucumbir à tentação de simplesmente aproveitar as facilidades impostas pelos adversários cariocas, desta vez contra o Sampaio Corrêa, que basicamente praticam sparring durante as partidas, o Rubro-Negro trouxe novidades maiores do que a presença de David, Wesley ou mesmo a dupla histórica formada por Gabigol e Bruno Henrique.
O 4-1-4-1 inicial (figura 1) foi repetido, mas a partida foi até didática para demonstrar o quanto tal demonstração numérica diz pouco sobre sistemas táticos.
Figura 1 – Formação inicial do Flamengo contra o Sampaio Correa
Com bola, tudo foi diferente! Wesley já posicionado na amplitude e não atacando este espaço, Nicolás de la Cruz praticamente não ocupando o corredor lateral e com sua movimentação mais limitada, uma vez que Arrascaeta acabava executando função semelhante à esquerda, deixando Gerson mais à base das jogadas.
E alternando posição com Bruno Henrique, que estava posicionado como ponta, mas praticamente só participava das ações por dentro. A “Figura 2” retrata como o Flamengo construiu nessa partida.
Figura 2 – Estrutura do Flamengo em organização ofensiva
Se você observou bem a imagem, notou que a estrutura é ligeiramente assimétrica. E aí entram as “segundas intenções” de Tite.
A fixação de Pulgar e o congestionamento do lado esquerdo, deixam longo espaço entre David Luiz, De la Cruz e Wesley. Espaço existente a ser atacado pelo zagueiro e David sabe fazer isso muito bem, dando grande salto de qualidade na construção rubro-negra.
Você possivelmente se incomodou com um lançamento ou outro, mas saiba que aquilo foi treinado e os dois lançamentos que não deram certo, poderiam encontrar Bruno Henrique do jeito que mais gosta. Imaginando que Léo Ortiz vá mesmo chegar na Gávea, essa intenção fica mais clara ainda, e mais propícia ao “Camisa 10 da zaga” que é o atualmente (não por muito tempo!) zagueiro do Bragantino.
Wesley renasce com essa proposta, pois justamente por este espaçamento proposital existir se torna ainda mais importante o vigor físico. O garoto tem pulmões avantajados que o conferem uma capacidade de entrega física invejável e é o lateral mais rápido para realizar tanto as jogadas de linha de fundo, quanto as recomposições para a linha de defesa.
Figura 3 – Dupla de ataque histórica foi vista em vários momentos
Havia, porém, momentos de simetria. Especialmente quando as movimentações típicas de Gabriel Barbosa geravam espaços a serem atacados por seus colegas. Tanto Arrascaeta quanto Bruno Henrique usaram e abusaram da movimentação e entrosamento com Gabigol, que também se sente mais confortável quando tem companhia.
Defensivamente, a fixação de De La Cruz dada pela ocupação mais bem definida da meia-esquerda por Arrascaeta, trouxe simplificação importante nas transições defensivas, que agora contavam com o mesmo número de atletas apoiando em ambos os corredores, com participações defensivas importantes de De La Cruz e Arrascaeta.
Figura 4 – Posicionamento mais definido apresenta mesmas dobras em ambos os lados
Situação que contrastou com a exibida em Orlando, quando as dinâmicas mais “livres” entre os meias constantemente geraram sobrecarga no setor direito de sua defesa.
Figura 5 – dinâmica existente na partida diante do Orlando que gerou sobrecarga no setor direito de sua defesa
As mudanças geraram um time que talvez seja ligeiramente menos criativo, mas muito mais seguro e capaz de reter a bola, bem como lidar com os momentos sem ela. Após o jogo, Tite foi nessa linha ao falar para seus atletas: “esse time não finalizou uma bola no gol e nos outros jogos, em todos ele finalizou e teve chances…temos que dar valor a ser cascudo e não tomar gols, porque isso nos leva a grandes vitórias!”.
Estrutura idêntica à adotada diante do Sampaio Corrêa, foi anteriormente criada por Rogério Ceni na arrancada que gerou o título brasileiro de 2020. Aquele time se notabilizou por conceder poucas finalizações aos seus adversários e especialmente por reter demais a bola, não sendo tão objetivo quanto alguns torcedores gostariam. Se notabilizou também, por conquistar três taças em período curto. Dentre as famas, sinceramente prefiro me apegar à segunda.
No próximo domingo, o Fla voltará a campo para enfrentar o Vasco e ao apito inicial seremos capazes de compreender se Tite viu a mesma evolução vista por este humilde analista que vos escreve, ou se retornará com as dinâmicas da partida diante do Orlando.
Caso mantida a estrutura, pode ser bom para David Luiz, Wesley…e Gabigol!
A ver!