Téo Benjamin: Flamengo 4x1 Corinthians (análise da partida)
Um jogo para falar sobre domínio e propostas, para celebrar a vitória e para tranquilizar os desesperados: o Flamengo de Jorge Jesus ainda é bom demais
Vitória incontestável do Flamengo sobre o Corinthians em um Maracanã lotado e pra lá de quente!
Um jogo para falar sobre domínio e propostas, para celebrar a vitória e para tranquilizar os desesperados: o Flamengo de Jorge Jesus ainda é bom demais.
O Flamengo entrou no seu 4-4-2 de sempre. Reinier fazia a dupla de ataque com Bruno Henrique e Renê ocupava a vaga de Filipe Luís, poupado.
O Corinthians veio num 4-1-4-1 bastante defensivo, com Ramiro por dentro e Pedrinho fazendo o corredor direito. Gustavo jogava bastante isolado na frente, tentando disputar pelo alto os lançamentos da defesa para uma eventual casquinha.
A palavra que define o jogo é CONTROLE.
Os dois times têm propostas para controlar o jogo, mas partem de estilos completamente diferentes.
Enquanto o Flamengo controla o jogo pela bola, o Corinthians controla – ou tenta controlar – sem ela, pelo domínio do espaço. O que é, afinal, jogar bem no futebol?
Existem estilos que nos agradam mais, mas isso é diferente de jogar bem.
O futebol é, a meu ver, um jogo de imposição de modelos de jogo. Se você consegue condicionar o seu adversário a fazer o que você quer, poderá dizer que jogou bem. A ideia central do Corinthians de Carille é (ou era) se defender obrigando os adversários a jogarem de uma certa forma, criando armadilhas e saindo no contra-ataque. Não é muito agradável, mas pode ser eficiente.
Defender também é forçar o adversário a te atacar como você quer. O trabalho talvez tenha se perdido no excesso de preocupação defensiva, na falta total de ousadia e em uma insistência irritante por fazer cera e esfriar o jogo.
O Corinthians não vem bem, mas ainda consegue administrar bem os espaços e buscar o controle do jogo por aí. Apesar de o Flamengo propor o jogo, ter o domínio das ações e o controle do ritmo, o Corinthians ditava como o jogo acontecia.
Era o Corinthians que determinava como o Fla atacava e, assim, criava uma situação favorável para tomar poucos sustos. O 4-1-4-1 deles é bem compacto. As linhas jogam próximas e o time é “estreito”. Com isso, forma-se o que a gente chama de uma “zona de guerra” bastante congestionada pelo meio.
É muito difícil passar por ali. Tem muita gente e muito combate.
Assim, o Fla era obrigado a atacar sempre por fora. Chegava no fundo com jogadas interessantes, fazia o cruzamento e… nada.
A defesa corinthiana protege muito bem a própria área. Vieram preparados para receber uma chuvarada e cortar tudo pelo alto. Era o que Carille queria.
Foram 23 cruzamentos rubro-negros nos primeiros 30 minutos, sendo apenas um certo. Nesse período, o Fla teve apenas 2 finalizações, ambas erradas.
Mas aos 30 minutos veio a parada para hidratação. Jorge Jesus mudou o time e ganhou o jogo.
Era hora de entrar na zona de guerra. A formação mudou para um 4-2-3-1 com Everton flutuando pelo meio, bem dentro da guerra.
Os volantes (especialmente Gerson) passaram a jogar mais próximos do ataque, aumentando a intensidade da troca de passes e da pressão pós-perda (tentar retomar a bola logo depois de perder).
O Flamengo forçava o jogo pelo meio e literalmente pedia passagem por dentro da armadilha corinthiana, fatiando a zona de guerra. Perdia a bola muitas vezes, mas pressionava rápido e forçava chutões totalmente aleatórios para frente. RC e Marí ganhavam todas e o ciclo recomeçava. A prova disso tudo está nos números do jogo.
A posse de bola foi de 59% nos primeiros 30 min e chegou a 75% nos quinze minutos finais do primeiro tempo.
O número de cruzamentos caiu. Os 23 nos primeiros 30 minutos viraram 9 nos quinze minutos seguintes. As duas míseras finalizações antes da parada técnica se tornaram 5 nos 15 minutos finais.
No Blog do Téo: Goiás 2×2 Flamengo (análise do gol de empate)
O número de passes certos se multiplicou de 152 em 30 minutos para 115 em 15 minutos e o percentual de acerto foi de 90% para 96% Ou seja, o Fla arriscava mais e tirava o Corinthians do seu conforto, forçava o jogo onde Carille não queria. Com isso, tinha mais a bola, cruzava menos e finalizava mais.
A pressão aumentou até que se tornou insuportável. O pênalti saiu aos 42 e o Corinthians ficou tonto. O lendário Cláudio Coutinho dizia que quando você enfiava a faca no seu adversário, não era hora de tirar. “Enfia a faca e roda”, comandava ele.
Foi exatamente o que o Flamengo fez, marcando o segundo gol um minuto depois e o terceiro com menos de 30 segundos do segundo tempo. No segundo tempo, aliás, JJ mudou de novo. Trouxe uma espécie de 4-1-3-2 torto, com muita gente pelo lado esquerdo, criando sobrecarga por ali – exatamente onde saíram os dois gols.
Com o Corinthians agonizando, o ritmo baixou e o jogo virou protocolar. Só serviu para o olé.
Uma atuação segura de um time que conhece seu potencial e com um treinador que não tem medo de mudar e arriscar.
O Flamengo teve momentos brilhantes no jogo, mas o mais importante foi a consistência e segurança de uma equipe que sabe o que está fazendo no campo. O Flamengo oscilou nos últimos jogos e muita gente ficou preocupada.
Não há motivo para desespero! É absolutamente normal oscilar. Esse time ainda tem muito a evoluir, mas o caminho é extremamente promissor.
Como disse Jorge Jesus após o jogo: “voltamos a jogar como Flamengo”.
Escrevo as análises táticas do MRN porque futebol se estuda sim! De vez em quando peço licença para escrever sobre outros assuntos também.