Téo Benjamin analisa Inter e projeta como equipe enfrentará o Flamengo
MRN Informação | Yago Martins — Autor do livro ”Outro Patamar’‘, o escritor Téo Benjamin publicou em sua conta no Twitter, uma análise de como o Internacional de Abel Braga vem atuando nas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro, e projetou como os gaúchos devem enfrentar o Flamengo, pelo penúltimo e decisivo jogo do torneio nacional, na tarde deste domingo, no Maracanã.
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”O Inter de Abel Braga conseguiu uma sequência de nove vitórias consecutivas, assumiu a liderança goleando o São Paulo e chega à penúltima rodada mais vivo do que nunca. A final de domingo promete. O rubro-negro agora se pergunta: como joga o Inter?
Para começar, vamos olhar os números — sempre fazendo aquela ressalva importante de que as estatísticas são muito úteis para entender o jogo, mas precisam ser analisadas levando em conta o contexto de cada equipe e do campeonato. Já surgem algumas conclusões interessantes.
A começar pela posse de bola. O Flamengo é, ao lado do Atlético-MG, o time que mais gosta da bola no campeonato. O Inter aparece em quinto, quase empatado com o Grêmio, por exemplo, que é considerado um time de muito mais posse.
Mas existe um detalhe importante. Se fizermos um recorte usando apenas os 10 últimos e os 5 últimos jogos do Inter, veremos que ele tem uma das menores médias de posse do campeonato.
Assim como o Flamengo, o Inter trocou de treinador, mudou jogadores e alterou seu estilo ao longo do campeonato. Portanto, esse recorte será muito importante. A partir de agora, todos os números incluirão os 10 últimos e 5 últimos jogos dos dois times.
Um parâmetro interessante é o que costumo chamar de “Quebra da posse”. Ele mostra o quão picotada é a posse de bola do time. Afinal, você pode ter uma posse contínua de 1 min ou 12 posses de 5 segundos. O tempo de posse total será igual, mas o jogo será radicalmente diferente.
Dá para ver que o Inter não apenas tem cada vez menos a bola, mas também tem a bola de forma mais picotada. Sinais de um time que vem se tornando cada mais direto. A mesma conclusão pode ser vista no número de passes trocados por jogo.
Muito se fala na imposição física do time. De fato, é um time forte e intenso que, com esse jogo mais direto, coloca a bola em disputa lá na frente o tempo todo e depende dessa imposição para criar alguma coisa. Lembre-se que o Inter tem cada vez menos posse.
O jogo aéreo preocupa a torcida rubro-negra, mas é bom lembrar que o Fla é o time com o melhor aproveitamento no quesito, especialmente naquelas bolas lançadas e disputadas ali na intermediária. A diferença é que o Inter coloca a bola muito mais vezes em disputa.
Sem a bola, o Inter se consolidou como a defesa menos vazada do campeonato, tendo levado apenas oito gols nos últimos dez jogos. Conseguiu fazer isso casando seu estilo direto com a bola e uma defesa bem recuada. Um clássico time de contra-ataque.
Cada vez mais, o Inter se fecha bem, deixa o adversário trocar passes por fora do bloco de marcação e não força a quebra da posse. Enquanto o outro time tem a bola, o Inter espera o momento certo para o bote e se sente confortável assim.
E quando digo “espera”, é um pouco isso mesmo. A marcação é ativa e concentrada, mas aquela imagem de um Inter frenético que disputa cada bola e atropela os adversários fisicamente já ficou no passado.
O objetivo é fechar o meio e forçar o adversário a jogar por fora. A partir daí, encurralar o adversário pelo lado, com a saída do lateral, do ponta e do meia saindo para cercar e fechar o avanço, mas só tentar roubar se a situação for favorável.
Mesmo tendo cada vez menos a bola, o Inter faz cada vez menos tentativas de roubada e enfrenta cada vez menos duelos defensivos. Isso, somado aos bons resultados, mostra um time cada vez mais consciente na hora de se defender.
E aí chegamos na estatística mais impressionante do Inter desde o início do campeonato. É um time que simplesmente não deixa o adversário contra-atacar. Apenas 9% dos contra-ataques do outro time geram finalização e esse número vem caindo!
Isso tem a ver com a maneira de jogar, claro. Um time que se defende mais recuado tende a oferecer menos chances no contra-ataque. Mas também tem a ver com a forma como o Inter vem construindo a história de seus jogos.
Nos últimos dez jogos, o Inter só teve posse de bola maior que o adversário em dois: Sport (62%) e Grêmio (51%). Foram os dois únicos jogos em que o time comandado por Abel tomou o primeiro gol. Não é mera coincidência.
O Inter abriu o placar em 7 dos últimos 10 jogos. Em 4, fez o primeiro gol antes dos 10 min: VAS (10’), RBB (4’), SPFC (8’) e FOR (4’ e 10’). Nos 3 restantes, fez o gol no finalzinho do 1T ou começo do 2T: GOI (43’), CEA (53’) e BAH (45+1’ e 48’) (O outro foi 0x0 contra o CAP).
Ou seja, se não é mais ligado no 220v como era o time de Coudet, que chegou no campeonato fisicamente muito acima dos outros e jogava todas as partidas numa rotação acima do adversário, atropelando fisicamente, o Inter de Abel sabe usar sua energia.
Começa sempre com uma blitz alucinante. Se abre o placar, dá a bola para o outro time, se fecha e segura o resultado. Se não der certo no início, “guarda” (entre muitas aspas) energia para uma nova blitz no final do primeiro tempo/início do segundo ou para quando toma um gol.
Uma dinâmica mais ou menos parecida com o que vimos no jogo do primeiro turno. Mas ali, ainda com Coudet, o Inter foi muito mais incisivo na marcação-pressão ao longo de todo o primeiro tempo.
Há pouco tempo, esse seria um alerta vermelho gigantesco para o Flamengo. Afinal, o time parecia demorar para engrenar nos jogos e quase sempre tomava um gol cedo. Nos últimos tempos, no entanto, o problema vem se diluindo.
Com esses números gerais, dá para ter uma ideia bem razoável do modelo de jogo e do que Abel pode propor. A partir daí, podemos estudar as formações, escalações e mecanismos específicos de jogo.
A estratégia é um ponto interessante sobre esse jogo. Afinal, a vitória dá o título ao Inter, mas o empate não é nada mal. Será que o time colorado vai tentar sua blitz inicial — que naturalmente envolve algum nível de risco — ou vem fechado de início?
É bom lembrar que a defesa do Inter vai ao Maracanã bastante desfalcada. Isso seria um incentivo para sair mais para o jogo — não confiando em uma atuação defensiva tão sólida — ou se fechar ainda mais — tentando proteger mais a zaga?
Times que colocam a bola o tempo inteiro em disputa acabam deixando o andamento do jogo mais aleatório, mas os resultados mostram que não há muita aleatoriedade nesse Inter. O time sabe o que está fazendo e tenta se impor desse jeito.
Não é um modelo de jogo muito sofisticado. Não é um time que se propõe a dar espetáculo. O Internacional compete. E compete muito! Com o peso de 41 anos na fila, o time vem com sangue nos olhos. O Flamengo é melhor, mas vai precisar mostrar isso dentro de campo.”
Os dados usados são do InStat Football.
Ficha Técnica de Flamengo x Internacional
37ª rodada do Campeonato Brasileiro
Estádio e Horário
Maracanã – 16h
Provável escalação do Flamengo
Hugo Souza; Isla, Rodrigo Caio, Willian Arão e Filípe Luis; Diego, Gerson, Éverton Ribeiro e Arrascaeta; Bruno Henrique e Gabriel.
Provável escalação do Internacional
Marcelo Lomba; Rodinei, Lucas Ribeiro, Zé Gabriel (Pedro Henrique) e Moisés; Rodrigo Dourado, Edenilson, Patrick, Praxedes e Caio Vidal; Yuri Alberto.
Arbitragem
Raphael Claus – SP (FIFA)
Transmissão de Flamengo x Corinthians
TV Globo e Premiere.
Rádios Globo, Brasil e Tupi.
Jornalista (Unisuam), 27 anos, natural do Rio de Janeiro e trabalhando no MRN. Atuo na área da comunicação desde 2018 e já acumulei passagens pelo Jornal Ilha Notícias, TV Ilha Carioca, Rádio RPC e Urubu Intera...