A ESPN exibiu nos últimos dias uma triste série com o Deus do culto da religião rubro-negra, Arthur Antunes Coimbra, o Zico, na qual ele percorria um melancólico Maracanã, largado às traças, ou pior, à Odebrecht, enquanto rememorava dias de glória em que marcou 334 gols no ex-estádio, atual elefante branco.
Às voltas com uma ameaça de cassação, com um Estado que ajudou a falir enquanto seu padrinho político enchia as burras de joias e ouro na Suíça antes de se mudar para Bangu, o governador Luiz Fernando decidiu enfim lavar o Pezão, digo as mãos, e deixou a Odebrecht decidir para quem repassa a concessão do Maracanã.
De um lado, a GL Events e a CSM, verdadeiramente capacitadas para gerir o estádio e aliadas ao Flamengo. De outro, a Lagardère, com uma série de problemas nas arenas que administra no Brasil - Castelão e Independência - e sem cumprir as exigências mínimas do edital, e com o Flamengo afirmando terminantemente que não joga mais no estádio sob sua administração. Pezão não viu problema. Deixa a Odebrecht decidir.
A íntegra Odebrecht, protagonista dos noticiários policiais com suas escabrosas delações, acusada de ter pago propina para ter o direito de reformar o Maracanã e também para conseguir a concessão. Aliada a Eike Batista, que também passa uma temporada em Bangu, que também é acusado de pagar o seu quinhão de propina para conseguir administrar o ex-Maior do Mundo, antes de ver seu império de papel com X ruir e ser forçado a se desfazer da sua parcela do estádio bem antes da sua sócia tentar fazer o mesmo.
O atento leitor do Mundo Rubro Negro já conhece toda essa história de cor e salteado. O que talvez ele não saiba é que enquanto o Flamengo sonha em conquistar a Taça Libertadores da América sem poder jogar no palco onde se consagrou com mais títulos do que qualquer outra agremiação, a Odebrecht já conquistou outro título nas Américas: de campeã de exportação de corrupção. E é a detentora desse desonroso título que tem nas mãos o futuro do Maracanã, e, por que não dizer, do Flamengo.
O cartel da Odebrecht no continente, com o perdão do trocadilho, impressiona. O Flamengo trouxe da Argentina Mancuello, do Independiente, e Donatti, do Rosario Central. Já a Odebrecht mostra que a corrupção também não escolhe camisa: lida tanto com um fanático torcedor do Racing, como era o falecido ex-presidente Néstor Kirchner, quanto um ex-presidente do Boca, como o atual mandatário Mauricio Macri. Durante os 13 anos de kirchnerismo, segundo revelou uma investigação judicial, a Odebrecht pagou US$ 35 milhões em propinas ao governo hermano para obter contratos de US$ 278 milhões de dólares. Mas a turma de Macri não ficou fora da festa: o atual chefe de espionagem argentino, amigo e inquilino do presidente, já que se mudou para o apartamento de luxo que Macri deixou vago para ir morar na residência oficial, recebeu US$ 600 mil de Leonardo Meirelles, espécie de "Fernando Baiano" em versão portenha - não o atacante que deixou pouca saudade na torcida rubro-negra por sua passagem de poucos gols em 2003, mas o operador de propina do PMDB. O dinheiro seria uma propina por uma obra de trem comandada por um primo do atual presidente Argentino.
Na Colômbia, terra do atual campeão da Libertadores, a internacionalização da marca - de corrupção - da Odebrecht também se faz presente. Lá quem está enrolado é o presidente Juan Manuel Santos, Nobel da Paz no ano passado, que aparentemente não faz negócios só com as Farc. A Odebrecht já confessou ter pago US$ 11 milhões em propina no país. Parte desse dinheiro foi para o senador Otto Bula, como troca pela concessão da obra de uma estrada, e teria ido parar na campanha de reeleição de Santos. Mais indefensável do que uma cabeçada de Berrío.
O Peru de Paolo Guerrero e Miguel Trauco não poderia ficar fora do roteiro da ainda dona do Maracanã. Lá, o ex-presidente Alejandro Toledo é alvo de uma ordem de prisão sob acusação de receber US$ 20 milhões em propinas da Odebrecht para construção da rodovia interoceânica que liga o seu país ao Brasil. Em vez de pegar a estrada, Toledo preferiu fugir para Paris, onde Sérgio Cabral com certeza gostaria de estar. Também lá a corrupção da Odebrecht desconhece ideologia: opostos em ideologia, os sucessores de Toledo, Alan García e Ollanta Humala, também são suspeitos de receber dinheiro ilegal da construtora brasileira.
O Flamengo ainda não contratou nenhum equatoriano para a sua atual coleção de gringos, mas a Odebrecht não conhece fronteiras e também chegou ao país onde o Brasil atualmente busca uma vaga para o Mundial sub-20. Lá a propina passou de US$ 33 milhões nos dez anos de governo de Rafael Correa, que deixará o cargo após eleições na semana que vem.
Com a mudança nas regras da Libertadores, o México ficou fora da atual edição, mas a Odebrecht não costuma ligar muito para regulamentos. Lá a Odebrecht admitiu ter pago US$ 10,5 milhões em propinas a funcionários da petroleira estatal Pemex para obter contratos no quádruplo desse valor num momento de fim de monopólio da indústria de petróleo no país.
Um mexicano que não recebeu propina da Odebrecht, talvez porque a empresa brasileira ainda não tivesse sido fundada na época, o presidente histórico Porfirio Díaz cunhou uma frase que se eternizou: "Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos". Apesar da visita divina para a gravação da reportagem da ESPN, seria o caso de parafrasear o caudilho mexicano sobre o estádio Mário Filho.]
Pobre Maracanã, tão longe de Deus e tão perto da Odebrecht.
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