Foram muitas as matérias sobre a última reunião do Conselho Deliberativo. E foram muitas as manifestações de revolta sobre o parecer da Comissão de Estatuto.
➕ MARION KAPLAN: Inclusão e reação
Ao propor cotas para mulheres e pretos nas comissões, a Bancada Feminina do Conselho já sabia que seria derrotada. Afinal, em um ambiente onde 96% dos membros são homens, a emenda já nascia finada.
Mas a luta por inclusão e diversidade saiu mais forte do que nunca. Pois a repercussão foi imensa e o repúdio colossal.
Ao contrário dos inúmeros grupos políticos da Gávea que almejam o poder em prol do Flamengo, a Bancada Feminina procura resgatar a essência plural do Clube. E o primeiro passo é a conscientização.
O Conselho é soberano. É ele que decide o presente e o futuro do Flamengo. Mas seus 2400 membros não representam em nada a Nação. É um grupo homogêneo de homens brancos abastecidos do Rio em sua imensa maioria.
Como podem decidir em nome dos quase 50 milhões de torcedores, de todas as cores e diversas regiões do país e fora dele? Já é mais do que comprovado de que a diversidade promove um ambiente mais criativo e propenso a achar soluções.
Um meio hermético e uniforme apenas tende a criar uma ruptura com a torcida, maior patrimônio do Clube. Pois não há diálogo. A relação é vertical. As decisões se baseiam na experiências análogas dos mesmos atores políticos, que desconhecem a vivência da maioria dos torcedores.
E conscientizar esses atores políticos que estão em uma bolha há tanto tempo é extremamente árduo.
O parecer da Comissão de Estatuto é prova disso. Estipular que cotas para mulheres e pretos discriminam homens brancos, reflete apenas uma total cisão com o resto da sociedade, ou até mesmo do mundo. Como se a Comissão de Estatuto fosse um feudo alheio às mudanças do mundo moderno. Como se sofresse uma terrível ameaça ao conceder 10% de vagas para quem não é homem e não é branco.
Espero que depois daquela noite, daquela reunião, os conselheiros reflitam.
Espero que abram as janelas da Gávea, e ouçam os anseios do resto da sociedade.
Espero que saem de sua bolha e se movimentem para que outros e outras, menos parecidos com eles, entrem nas comissões.
Espero que entendam que a diversidade apenas enriquece e aperfeiçoa.
Afinal, como disse o Mario Filho, o Flamengo é belo e gigante pois “se deixa amar à vontade. Não impõe restrições a quem o ama. Aceita o amor do príncipe e do mendigo e se orgulha de um e de outro.”