Poucas coisas são mais humanas do que o medo. Um processo natural do cérebro, ele surgiu como mecanismo evolutivo de autoproteção, que nos ajudou a sobreviver aos inúmeros perigos de um planeta Terra ainda não domesticado pela nossa espécie.
O medo do escuro é uma proteção diante do desconhecido, o medo de baratas surgiu para evitar a presença em ambientes sujos, o medo de altura ajudava a evitar que seus antepassados ficassem caindo de bobeira do alto de qualquer árvore.
Grande parte dos medos são não apenas naturais e compreensíveis, como até mesmo bastante saudáveis – ter medo da morte, por exemplo, evita situações como aquele print com as últimas palavras de um homem que, logo antes de ser esfaqueado, disse pra outro homem, que portava uma faca, “o que você vai fazer? me esfaquear?”.
➕ JOÃO LUIS JR.: Nem mesmo a burrice e a covardia de Tite conseguiram eliminar o Flamengo
Mas ao mesmo tempo, como quase tudo nessa vida, medo demais acaba não sendo saudável. Existe uma diferença entre não querer entrar em ambientes escuros esquisitos por aí e não conseguir dormir com a luz apagada; tem uma distância entre evitar dar mole em lugares altos e não conseguir trocar as próprias lâmpadas; totalmente normal não curtir insetos mas o RH vai te chamar se aparecer uma abelha no escritório e você tentar esmagar com um teclado enquanto grita “NÃÃÃÃO, O FILME MEU PRIMEIRO AMOR NÃÃÃO”.
E aí surgem as fobias, de todos os tipos. Automatonofobia, o medo de bonecos de ventríloquo e outras estátuas; batracofobia, o medo de anfíbios; gefirofobia, o medo de cruzar pontes; isopterofobia, o medo de cupins; novercafobia, que é o medo de madrastas; e até mesmo fobofobia, que é o medo de fobias, entre outros. E existe, é claro, um medo bem específico e mais pertinente para o torcedor rubro-negro, que é a querofobia, o chamado medo de ser feliz.
Pertinente porque parece ser essa doença, o medo irracional da alegria, do sucesso, da felicidade, que aflige, de maneira cada vez mais grave, o nosso treinador, Adenor Leonardo Bachi, o famoso Tite.
Afinal, o que mais justificaria o Flamengo, dentro de casa, com seu time titular, contra o time misto do Palmeiras, precisando de uma vitória simples para assumir a liderança e afundar um rival direto na briga pelo título, adotar uma postura tão covarde? O que justifica, diante da necessidade de tirar de la Cruz, colocar um volante? O que explica a presença, mais uma vez, de Allan, que não marca, não arma, e já havia feito uma lamentável partida no meio de semana?
Por que posicionar de maneira defensiva um time que só sabe jogar ofensivamente? Como pode ser tão complicado resolver o problema da bola alta na defesa rubro-negra se ele já é tão visível durante tanto tempo? O que aconteceu de tão terrível na comemoração do título da Copa América de 2019 que Tite, totalmente traumatizado, agora parece trabalhar ativamente para sabotar qualquer nova oportunidade de conquista que surge em sua frente?
Seja o que for, é preciso que seja tratado urgentemente. Se na quarta quase fomos eliminados por pura e absoluta covardia de Tite, hoje jogamos dois pontos fora porque, mais uma vez, nosso treinador teve medo de atacar. E ainda que os danos não tenham sido irreversíveis, já que conseguimos a classificação na Liberta e ainda brigamos pelo título no Brasileiro, a verdade é que, com essa postura medrosa e absolutamente não condizente com a tradição e a qualidade do time do Flamengo, as coisas vão ficar, com certezas, mais e mais complicadas.
Afinal, se Nelson Rodrigues dizia que com sorte você atravessa o mundo mas sem sorte você não atravessa a rua, a verdade é que, sem um mínimo de coragem, você não vai conseguir nem abrir a porta de casa.