Sem desespero: Rodrigo Dunshee não deve ser eleito presidente do Flamengo
As movimentações pré-eleitorais do Flamengo têm causado pânico em parcela expressiva dos associados e dos torcedores, apavorados com a possibilidade de que Rodrigo Dunshee seja o próximo presidente do clube.
De fato, “RD” reúne em si atributos aterrorizantes. Não bastasse ser uma pessoa cuja trajetória se resume ao envolvimento político no clube – e ainda assim graças ao fato de ser filho de um ex-presidente, o que lhe permitiu ainda bem jovem ser o vice-geral de Edmundo Santos Silva – “RD” encarna a revanche da velha política do clube sobre os ventos reformadores que desde 2013 reposicionaram o Flamengo como o time mais poderoso do país.
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É espantoso presenciar o final melancólico do presidente Landim. Eu o conheci em 2012, na onda azul que revolucionou o Flamengo. Landim era, até então, um expoente do grupo de gente bem-sucedida e bem-preparada, que traria ao clube modernos conceitos de gestão, austeridade financeira, expansão das receitas e planejamento estratégico. Deu certo, deu muito certo.
Landim passará para a história como o presidente que, sob a bandeira da modernização, conquistou os maiores feitos esportivos do século, comparáveis à Era Zico, com espaço para evoluir ainda mais. Além disso, deu ao Flamengo uma solidez financeira admirável, ampliando as receitas e controlando os gastos. Fosse um pouco menos soberbo e um pouco mais gentil, talvez fosse reverenciado como uma entidade, talvez fosse amado à exaustão, talvez fosse reconhecido como um exemplo para os demais clubes.
Porém, mesmo vitorioso, vitorioso como nenhum outro foi em tão pouco tempo, Landim está longe de ser uma pessoa querida e admirada. Pelo contrário, é constantemente vaiado pela arquibancada, não é visto como um dirigente exemplar por observadores externos, não se vê quem o admire espontaneamente e, como corolário disso tudo, chega ao final do mandato abandonado por seus principais VPs, mostrando que nem mesmo entre os que eram tão próximos conseguiu exercer uma liderança genuína.
Landim está só? Não, está apenas mal acompanhado. A esse respeito, espero que não me interpretem mal. Os que sobraram ao redor de Landim são tão Flamengo quanto eu e você, querem vibrar como nós vibramos, sentem o mesmo que sentimos.
O que realmente nos difere é a forma para chegar lá. Eles acreditam que o Flamengo se faz com amadorismo, favores e dívidas e, justiça seja feita, muitas vezes conseguiram. É uma volta acelerada a um passado que se imaginava sepultado.
Por isso, compreendo o pânico de quem atribui ao “RD” o favoritismo eleitoral. De certa forma, quem pensa assim não está errado. O apoio de Landim, como qualquer apoio de um incumbente, traz consigo uma penca de votos, mais ainda em uma instituição marcada pelo compadrio, característica que se acentuou nessa gestão.
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Além disso, “RD” tem aliados de peso nessa disputa. Tem Patricia Amorim, ex-presidente com forte apelo nos eleitores vinculados aos Esportes Olímpicos. Tem grupos que herdaram a ruidosa bancada do Capitão Léo, como os liderados pelos também ex-integrantes da TJF Marcelo Vargas e Cacau Cotta. Tem grupos que, à falta de melhor definição, vou dizer que são uma espécie de “Centrão’ da política rubro-negra, como a FAT. E tem grupos que ainda se conectam remotamente com o ideário da “Chapa Azul”, como o Sinergia. Tem bastante voto nessa mistura, é claro.
Apesar disso tudo, não acho que “RD” vá vencer e para isso me baseio no histórico. Em 2018, mais ou menos nessa época, dizia-se que o candidato então apoiado por Bandeira de Mello seria favorito na eleição do final do ano.
EBM tinha ao seu lado o reconhecimento da torcida pela recuperação financeira, tinha um grupo político extremamente combativo, numeroso e formado por gente de muito talento (o extinto SóFLA), tinha o peso da caneta a seu favor e tinha um ótimo candidato, Ricardo Lomba, jovem, desconectado da velha política e com grande potencial eleitoral. Apesar de tudo, Lomba perdeu – pagando a conta do famigerado “cheirinho”, o time que quase triunfava, que falhava na reta final.
No Flamengo, ao contrário do se diz, alianças com grupos políticos e grupos de pressão (o Tênis, a Natação, o Judô, o Remo, etc.) são importantes, mas não são decisivas. Algo como 2/3 dos eleitores são associados completamente desvinculados desses agrupamentos, que votam a partir de uma convicção própria do “estado geral das coisas”, vamos dizer assim. E que, visceralmente rubro-negros, sabem muito bem perceber o que – e principalmente quem – está em jogo em cada candidatura.
Nós, da “Oposição”, temos sido muito cobrados a encontrar uma saída que minimize os riscos de “RD” se eleger. Quero tranquilizar a todos: a eleição é em dezembro e, portanto, em dezembro a gente irá tomar a decisão necessária para evitar um desastre, se ele for iminente.
Mas esse risco só existe na cabeça de quem menospreza o rubro-negrismo do eleitor. Por mais gratos que muitos sejam ao Landim por seu inegável sucesso desportivo, ninguém vai fechar os olhos a ponto de ignorar o que exatamente representa entregar o Flamengo nas mãos de “RD”, o homem que não sabe sequer administrar um perfil fake em redes sociais, que dirá comandar uma Nação – e ainda mais ao lado de quem o cerca.
Tranquilizai-vos, pois!