Seis reforços para 2025 e trabalho em conjunto com rivais do RJ: entrevista com André Rocha

André Rocha, gerente de Futebol Feminino do Flamengo, concedeu entrevista a Beatriz Andrade e Lucas Alonso, administradores da página CRF Feminino e colaboradores do MundoBola Flamengo.
Figura importante no dia a dia da modalidade, André falou sobre suas responsabilidades e visões para desenvolvimento do Flamengo Feminino, com destaque especial para o trabalho na base, hoje resumida ao sub-20 após o clube acabar com o sub-17.
➕ 'Flamengo é uma potência do futebol feminino': Entrevista com Vitor Zanelli, vice-presidente da Base
Sobre o fomento, em especial no Rio de Janeiro, o dirigente fez questão de salientar o papel dos rivais e do trabalho em conjunto realizado no estado visando a melhoria do futebol feminino.
"O Flamengo, historicamente, é referência na modalidade no Rio de Janeiro. Hoje temos uma relação excelente com todos os clubes e estamos trabalhando juntos para a evolução da modalidade e para a melhoria da competitividade", salientou André.
Para ele, a prova está nos desempenhos recentes nas principais competições de base do país, decidida por clubes cariocas.
"Acho que isso tem ficado claro no cenário nacional, tanto que na primeira edição da Copinha a final foi entre Flamengo e Botafogo, assim como a última decisão do Brasileiro Sub-20. O Fluminense também já venceu um Brasileiro de base e por aí vai. Essa evolução do futebol feminino no estado é importante e, com toda certeza, o Flamengo está à frente liderando essa mudança no país", destacou.
O assunto da entrevista não se resumiu apenas à formação de atletas da categoria. André Rocha também falou sobre o trabalho no time principal, que em 2024 teve uma temporada aquém, amenizada pelo título do Carioca no final de novembro.
Para 2025, o gerente afirmou já ter seis reforços encaminhados, bem como algumas saídas certas. Ele, no entanto, não entrou em maiores detalhes pelo fato de as atletas ainda terem contratos com seus respectivos clubes.
"Temos algumas saídas confirmadas e lesões, o que nos fez antecipar algumas coisas da janela com destaques locais. Temos negociações também com uma goleira que está em outro estado. Teremos a chegada de aproximadamente seis atletas, além das saídas, é claro. Nas próximas semanas, a torcida vai começar a conhecer as caras novas do nosso elenco. Não seria profissional da nossa parte falarmos nomes, pois as atletas ainda não se despediram dos seus clubes", afirmou.
Veja abaixo a entrevista completa com André Rocha
Nos conte um pouco quem é André Rocha
Sou profissional de futebol com 21 anos de experiência e passagens em grandes clubes do futebol brasileiro, exercendo praticamente todas as funções do processo de formação de atletas e gestão de comissões técnicas e elenco.
Cheguei ao Flamengo inicialmente para as categorias de base no masculino em 2019 e em 2021 recebi da direção a missão de consolidar o futebol feminino do Flamengo como uma das principais equipes do país.
Qual balanço faz da sua gestão nos últimos anos? Você chegou em um ambiente onde pouco existiam contratos, mas como você enxerga todas essas mudanças?
Na verdade, o primeiro desafio foi entender o futebol feminino em nosso país. Na maioria dos clubes não existiam contratos profissionais e muito menos contratos com mais de dois anos de duração. As atletas não sabiam nem como era assinar um pré-contrato, elas tinham medo.
Hoje, o cenário é completamente diferente. Todas as atletas do clube possuem algum tipo de vínculo, seja profissional ou de formação, no caso da base.
Para um clube do tamanho do Flamengo, nunca estamos satisfeitos e sempre temos margem para evoluir em algo. Então, buscamos melhorar. Há muitas coisas para fazer ainda.
No universo do futebol feminino, como você avalia o trabalho dos treinadores? Você busca fazer algo diferente na pasta para alcançar as vitórias?
Sempre consideramos o DNA do clube, a forma de atuar e como as jogadoras se comportam em campo taticamente. Primeiro buscamos um treinador que entende o modelo do clube e depois construímos um elenco que tenha condições de executar as ações táticas e técnicas.
Precisamos entender que, em uma modalidade na qual o profissionalismo é recente e há carências, as mudanças são menores. A evolução do futebol feminino nos aspectos de formação começou mesmo nos últimos três anos e ainda é deficitária.
Acreditamos no trabalho a longo prazo, é claro. Já trocamos após títulos e depois de derrotas, mas nunca o resultado foi determinante para essas escolhas e, sim, o entendimento da evolução e a coerência do projeto.
E quando algo dá errado? Pois os contratos no feminino ainda são curtos, apesar dos esforços do Flamengo em tornar o ambiente profissional.
Somos pioneiros em relação aos contratos de mais de dois anos com as atletas. Então nosso ambiente é 100% profissional. Ninguém está aqui para inventar a roda.
Haverá mudanças na comissão técnica, ampliando a divisão de trabalho no dia a dia ou cabe somente ao treinador e não a diretoria definir X preparadores, Y auxiliares?
Na minha gestão, todas as decisões foram compartilhadas. Ninguém tem carta-branca para decidir sozinho... Eu sempre serei o responsável pelas decisões, mas todas são tomadas com muito estudo, conhecimento e discussões internas. Minha formação é técnica e isso facilita muito a tomada de decisão em relação ao dia a dia.
Sobre o título estadual, o elenco contou com muitas atletas da base. Como fazer essa transição em um grupo forte e competitivo com atletas mais jovens vindas da base? E como isso afeta o mercado de transferências quando se ganha “reforços caseiros”?
O clube tem, em seu DNA, a frase "Craque o Flamengo faz em casa". Isso fala por si e, no início da nossa gestão, nós priorizamos o trabalho de formação. Todo mundo que trabalha no Flamengo pensa assim.
Primeiro por conta do histórico do clube como um todo e segundo pela ausência de atletas qualificadas no mercado. Temos uma demanda crescente de clubes investindo - dentro e fora do país - e um déficit de formação enorme.
Hoje, a conta ainda não fecha. Então as atletas da base terem bastante espaço é uma realidade. Enxergo como algo natural.
Em um “mercado” que ainda busca se enxergar como negócio, como a sua função de executivo ajuda aos processos seguirem no melhor interesse do Flamengo, sem o clube retroceder ao amadorismo? Qual importância de ter um executivo no dia a dia?
Acredito que saímos na frente, pois a experiência adquirida no futebol masculino serve de premissa para as nossas decisões no feminino. Então todas as ações que buscamos são pautadas em rotinas de sucesso do masculino e o Flamengo é referência em gestão.
Não existe a menor possibilidade de regredir o profissionalismo que temos no futebol feminino do clube hoje. Estamos em constante crescimento de projeto, receitas e processos.
Sob a sua pasta, em conjunto ao vice-presidente Vitor Zanelli, tivemos Copinha, Brasileiro, estadual, Ladies Cup, inter-temporada na Europa, títulos em todas as modalidades. Entre tantos, quais você mais se emocionou com a conquista?
Sem dúvida alguma o título mais marcante foi o Brasileiro Sub-20. Primeiro por ser clássico e depois pela maneira avassaladora como aconteceu: 7 a 0. Essa conquista consagrou o trabalho que acreditamos desde o início.
Vale lembrar que fomos muito criticados, pois entendíamos que o nosso investimento primeiro deveria ser concentrado na base e na estrutura e só depois no profissional. Agora demonstramos que, com a base sólida, teremos condições muito melhores de evolução técnica no profissional. Ninguém começa a construção da casa pelo telhado.
Com o projeto da Cidade do Futebol saindo papel, a ideia é integrar em definitivo todo o futebol do clube?
Com certeza esse é o objetivo do clube: manter o futebol na mesma estrutura, com as mesmas condições de trabalho. Mas sabemos dos desafios e do tempo necessário para executarmos esse projeto tão grandioso do clube. A cada dia que passa, estamos mais perto.
Em outras ocasiões você sempre citou fomentar e apoiar o futebol feminino. O quanto já avançamos nisso na sua gestão? O que deixará de legado?
Esse é o meu maior orgulho. O Flamengo é o único clube do país que realmente se dedica ao fomento do futebol feminino. Realizamos cursos de formação de treinadores exclusivamente para futebol feminino em várias regiões e temos o compromisso de formar profissionais qualificados para desenvolvermos a modalidade.
Nossa ideia sempre foi atingir o maior número de meninas que pudermos. Então o projeto é muito maior que só olhar para dentro do clube, cidade ou estado. É um compromisso com o Brasil e nós já iniciamos essas ações. Por onde passamos, já impactamos mais de 150 profissionais e a meta é chegar a 800 até o fim de 2025.
Renovações e saídas
Nosso elenco melhora a cada temporada. Temos um acompanhamento de mercado muito efetivo não só no Brasil, mas nas principais ligas do mundo. Buscamos, a cada ano, atletas com maior identificação com o clube e que apresentem números compatíveis com a expectativa da torcida.
Reforço, também, uma das principais características da nossa gestão, que é o planejamento coerente e profissional. Os reforços já estão confirmados há alguns meses.
Flamengo vence Alianza Lima e segue vivo na Adidas Cup Sub-16#BoletimMB #Flamengo pic.twitter.com/hKpZywUx1G
— Mundo Bola - Notícias do Flamengo (@Mundo Bola_CRF) December 12, 2024