Em mais um grande momento da tradicional editoria “Crise na Gávea”, a semana começou com muita emoção no Flamengo. Depois de Marcos Braz marcar uma reunião entre jogadores e torcidas organizadas, aparentemente sem avisar os jogadores e depois desmarcar a reunião, possivelmente sem avisar as torcidas organizadas, um grande número de torcedores resolveu recepcionar os atletas da equipe rubro-negra ao vivo no Ninho do Urubu, para manifestar seu descontentamento com os últimos resultados do time.
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As cenas, como já era de se esperar, variaram entre o fascinante e o perturbador. Seja o grupo de torcedores que apontava para seus relógios sinalizando para o carro de alguns atletas que eles estavam chegando tarde, seja o protesto se transformando em cafuné durante a chegada de Arrascaeta, seja Gabigol chegando para apaziguar torcedores e encerrando sua fala com um não tão apaziguador assim “pega no meu piru”, o que se viu foi uma situação bizarra, absolutamente sem sentido e abordada pela diretoria da maneira mais amadora possível.
Mas mais do que bizarro, mais do que sem sentido, mais do que amador, a verdade é que o protesto dos torcedores nesta segunda parece ter sido, em termos de desempenho do time, absolutamente inútil.
Porque afinal, se os torcedores saíram de casa de manhã e foram até a Barra da Tijuca para reclamar que o Flamengo vinha atuando mal, de maneira confusa, sem articulação de jogadas, dependendo de espasmos de seus melhores jogadores e não transmitindo a menor confiança de que pode brigar por nada esse ano, é bom que eles estejam preparados para, amanhã de manhã, acordar cedo novamente e se dirigirem a um ponto de ônibus, uma estação de metrô, uma parada de BRT. Porque absolutamente nada mudou.
Afinal, o que tivemos nesta noite de sábado, diante do Atlético-GO? Tivemos um Flamengo que já começou errado pela escalação, com mais uma inexplicável oportunidade para o indecifrável Léo Pereira, desta vez improvisado numa improvável lateral-esquerda, além de outra chance para o já morto por dentro Andreas Pereira e um William Arão que parecia estar confundindo a si mesmo com David Luiz, acreditando que já estava indo na bola quando na verdade estava parado sentado no chão.
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O efeito em campo não poderia, é claro, ser diferente. Se o nosso lado esquerdo estava mais vulnerável do que uma criança gaga criada apenas pela mãe durante um jogral de dia dos pais do colégio, o nosso meio dependia basicamente de Arrascaeta e o nosso ataque via Bruno Henrique e Gabigol mais distantes do que Avril Lavigne nas fotos do meet and greet com seus fãs durante a turnê brasileira. Não é surpresa nenhuma então que não apenas o time de Goiânia tenha saído na frente do placar como também que, durante a maior parte da partida, a sensação fosse de que era mais fácil uma chapa Lula e Bolsonaro nas próximas eleições do que um gol da equipe rubro-negra.
Porém, ainda que não tenha organização, ainda que não tenha movimentação, ainda que não tenha lado esquerdo, ainda que não tenha cobertura, o Flamengo tem Bruno Henrique. E Bruno Henrique, um homem tão dissociado que possivelmente não sabe que o time está em crise e achou que aquele monte de gente na frente do CT era um bloco de carnaval, apenas deixou o seu, empatou a partida e permitiu que o Flamengo evitasse uma estreia ainda mais desagradável no Brasileirão 2022.
O fato é que a equipe de Paulo Sousa, e o trabalho de Paulo Sousa, ainda precisam melhorar, e muito, se a ideia for que a gente realmente conquiste algo nessa temporada. Seja na defesa, que parece absolutamente perdida, seja no meio, que é um deserto de ideias e intenções, seja no ataque, que cada vez mais depende de cruzamentos suspeitos e chuveirinhos esquisitos. E como ficou claro mais uma vez, não vai ser empurrando carro, não vai ser colocando dedo na cara de jogador, que nada disso vai acontecer. Não que, é claro, não dê vontade de apenas sair virando e empurrando o carro do Léo Pereira até ele ir parar de volta em Curitiba. Porque dá, admito, dá vontade mesmo.