Se o Carioca é um laboratório, a experiência rubro-negra começou muito bem
Seja por obrigação contratual, seja por insanidade das federações, seja porque alguém repetiu “campeonato estadual” três vezes na frente do espelho, o Flamengo iniciou, nesta noite de quarta-feira, a sua jornada no Campeonato Carioca 2022.
Um torneio sucateado, uma competição de regulamento confuso – dois turnos porém turno único, mata-mata porém pontos corridos – um campeonato local que está muito longe de ser o centro das ambições de um Flamengo que agora tem a obrigação de pensar em termos nacionais, continentais e mundiais. Mas por mais que seja fácil falar que o Carioca não importa, é muito complicado, como torcedor, não se importar com o Carioca.
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Então a boa notícia é que, ainda que não seja prioridade, ainda que só vá ter os principais atletas daqui a algumas partidas, ainda que até o Maracanã esteja em pré-temporada e a partida tenha sido disputada no estádio da Ilha do Governador, o Flamengo fez uma boa estreia neste estadual, com uma vitória por 2×1 contra a Portuguesa, numa partida que, se não foi exatamente o vídeo que você anexaria no verbete “futebol arte” da Wikipedia, contou com uma atuação consistente da equipe sub-21 rubro-negra, comandada pelo treinador Fábio Matias.
Já no começo do primeiro tempo, o resultado positivo começou a se desenhar na boa jogada de André, que resultou no pênalti convertido por Lázaro – já que desde a passagem de Jorge Jesus o Flamengo parece ter se transformado numa máquina de referências bíblicas – e que viu uma equipe rubro-negra um pouco afobada mas ainda assim consistente e perigosa.
Com uma grande defesa de Matheus Cunha, um dos quatro Matheuses relacionados para esse que possivelmente foi o Flamengo mais matheusado da história do futebol matheusista, a equipe conseguiu descer para o vestiário com a vantagem no placar.
No segundo tempo, a história foi parecida, com mais um gol de Lázaro logo no começo da etapa, ao menos uma boa defesa de Matheus e aí então o gol da equipe lusitana, que rapidamente transformou a partida em uma grande briga de foice no escuro, um belíssimo acidente de charrete na rodovia, um imenso bumba meu boi, com as duas equipes atacando da maneira mais desorganizada possível, o Flamengo por ser um time muito jovem e a Portuguesa possivelmente por ser um time não tão organizado mesmo.
Mas a verdade é que, apesar de qualquer precipitação ou afobamento, o expressinho rubro-negro, todo composto por jogadores abaixo dos 21 anos, não apenas deu uma demonstração de força diante de um dos mais perigosos times de fora do G4 carioca – em 2021 a Lusinha terminou em terceiro na fase de classificação, a frente de Botafogo e Vasco – como garantiu três pontos importantes para o Flamengo nesse começo de competição.
Com boas atuações de jogadores como Cleiton e Noga (que podem resolver o dilema rubro-negro de que zagueiros são bons de bola ou saudáveis, nunca as duas coisas), Matheus França e Yuri Oliveira, além dos já citados Lázaro, André e Matheus Cunha, o Flamengo que conquistou a vitória de hoje não apenas garantiu que o rubro-negro começasse o Cariocão com o pé direito como ainda deixou no ar a promessa de que talvez algumas das opções que o elenco vai precisar durante essa temporada possam já estar treinando no Ninho do Urubu.
Porque é aquilo, ganhar o Carioca pode não fazer toda a diferença do mundo, mas perder seria terrível e nada mal se ele for o laboratório onde vamos descobrir, agora, as soluções que vamos precisar para ganhar os títulos de amanhã.