Se estivesse vivo, o histórico zagueiro Reyes completaria 77 anos hoje

04/07/2018, 13:42

Definitivamente, marcar história no Flamengo não uma das tarefas mais fáceis, ainda mais em anos de "vacas magras". Mas esta façanha foi alcançada pelo paraguaio Reyes, símbolo maior de raça e categoria no meio-campo e, posteriormente, na zaga do Fla. Ele fez parte de um período conturbado e pouco vitorioso da história rubro-negra, o fim dos anos 60 e início dos 70, no qual Fluminense e Botafogo eram as principais potências do futebol carioca. A técnica exuberante e valentia incansável do zagueiro o transformaram no grande jogador do Mais Querido naqueles anos. Se estivesse vivo, Reyes completaria 77 anos nesta quarta-feira (04). Ele faleceu precocemente em 1976, vítima de leucemia.

Revelado pelo pequeno clube paraguaio Presidente Hayes, o garoto Francisco Santiago Reyes Villalba, ainda no meio de campo, logo chamou a atenção do poderoso Olimpia, para onde se transferiu em 1962. Por lá conquistou dois títulos nacionais e chegou à seleção de seu país - onde disputou partidas das Eliminatórias das Copas do Mundo de 1962 e 1966. Teve ainda passagem pelo River Plate (ARG), antes de ser contratado pelo Atlético de Madrid, em 1965. Na equipe espanhola, não teve muitas oportunidades, já que o Atlético contava com número excessivo de jogadores estrangeiro. Neste momento, o Flamengo entrou em sua vida.

Trajetória de Reyes no Flamengo

O clube da Gávea sempre manteve fortes laços com o futebol paraguaio, por meio de jogadores e treinadores que marcaram época (Fleitas Solich, Modesto Bria, Sinforiano García, Jorge Benítez e, posteriormente, Gamarra). Em 1967, o Flamengo excursionava pela Europa e tentava se reformular após uma fraca campanha no Torneio Roberto Gomes Pedrosa (como originalmente foi chamado o Campeonato Brasileiro). E acabou contratando por empréstimo o meia-armador paraguaio junto ao clube madrilenho para os jogos finais da excursão. Com ele, o time disputou o Troféu Ibérico, na cidade espanhola de Badajoz, perdendo para o Sporting Lisboa (1 a 2) e vencendo o Barcelona (1 a 0).

Reyes assinando contrato com o Flamengo

Mesmo sem ritmo de jogo, o gringo agradou e foi contratado em definitivo. Entretanto, os diversos problemas do time rubro-negro acabaram atrapalhando Reyes em seu início. A temporada de 1967 foi uma das piores da história do Mais Querido. Houve, porém, uma grande exibição do paraguaio no primeiro Fla-Flu do campeonato, vencido pelo Rubro-Negro por 3 a 1: Reyes marcou, deu passes, lançou em profundidade, fez o segundo gol do time pouco depois do empate tricolor e, sobretudo, demonstrou toda sua elegância e dinamismo em campo.

Em 1968, mais um problema: logo no início do ano, o jogador brigou com o então técnico rubro-negro, Aymoré, queria que Reyes atuasse como quarto-zagueiro. Mas paraguaio não gostou nada da ideia, jogou a camisa no chão e acabou ficando de fora da equipe titular até a saída do comandante, em março. Ironicamente, o atleta viria a se consagrar pelo Flamengo justamente na posição em que não desejava jogar. Em 1969, suas chances de atuar voltaram a ficar escassas. Ele acabou sendo emprestado ao Campo Grande, clube da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Mudança para a zaga e a volta por cima no Rubro-Negro

Ao final do empréstimo, em 70, retornou ao Flamengo, mas era peça quase descartada. Por muito pouco não deixou o clube em definitivo, seguindo o roteiro de vários outros gringos que por lá já estiveram.  Acabou incluído num time misto, formado por juvenis e reservas, que excursionaria pela Ásia. Este foi o momento chave para a volta por cima de Reyes. Jogando improvisado como zagueiro, recebeu muitos elogios e acabou ganhando mais uma chance no time principal. Após alguns jogos, agarrou de vez a titularidade na reta final da Taça Guanabara (conquistada pelo Fla) e não largou mais.

No segundo semestre, manteve o bom desempenho. Seu talento apareceu de vez no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, onde o Flamengo fez uma grande campanha. Reyes levou toda sua categoria de jogador de meio-campo para a zaga, aliando-as às recém-descobertas na nova função. O paraguaio apresentava um perfeito senso de antecipação e cobertura. Saía jogando da defesa para o meio com classe e tranquilidade, sem nunca recorrer ao chutão. Iniciava jogadas de ataque com lançamentos perfeitos. E ainda era bom no jogo aéreo. Não demorou muito para o reconhecimento chegar. Naquele mesmo ano, a recém-lançada revista Placar elegeu o atleta como o melhor da posição no "Robertão".

Na temporada seguinte, em mais um período de crise no Flamengo, num elenco física e mentalmente destroçado, Reyes era o único em alta. Com sua raça inesgotável e seu talento exuberante, estava presente em todos os setores do campo. Num dia, corria para salvar gols em cima da linha e evitar derrotas depois de o adversário ter driblado goleiro e tudo. No outro, desarmava o atacante rival em sua área, atravessava o meio-campo, driblava e lançava para um companheiro marcar um sofrido gol da vitória. Além disso, era um dos líderes do elenco, sempre sorridente e brincalhão com todos (ganhou o apelido de “paraguaio pura simpatia”). Neste momento, já era ídolo.

Em 72, embora já convivendo com problemas físicos, participou da conquista do Campeonato Carioca que tirou o Flamengo de uma incômoda fila de oito anos sem levantar o troféu.

Despedida e morte precoce

No começo de 1974, após 200 jogos pelo Flamengo, o paraguaio se despediu da equipe. Com passe livre, ele desejava voltar ao seu país para encerrar a carreira no Olimpia. Antes de partir, ganhou um jogo de despedida. O Rubro-Negro fez um amistoso contra o Zeljeznicar, da Iugoslávia, no Maracanã, vencido por 3 a 1 com dois gols de Zico e um de Arílson. Reyes deu o pontapé inicial e uma volta olímpica pelo gramado, saudado pelos Nação. Recebeu duas placas de prata e, chorando, afirmou: “Deixar o Brasil é uma coisa que sinto muito, mas saber que não vou mais usar esta camisa, ouvir os gritos desta torcida doerá muito mais ainda”. Ao contrário do que era praxe em jogos assim, quando a renda da partida fica para o homenageado, Reyes abriu mão do dinheiro, deixando-o para o clube “fazer o que quiser”.

Em outubro de 1975, uma notícia causou comoção no meio esportivo carioca: Reyes havia sido diagnosticado com leucemia, uma espécie de câncer no sangue, e teria apenas mais dois ou três meses de vida. Ao tomarem conhecimento do fato, alguns dirigentes do Flamengo trouxeram o paraguaio para se tratar no Brasil. Quando melhorou, ele retornou para Assunção, mas lá teve uma nova recaída, da qual não se recuperou. Faleceu na madrugada de 31 de julho de 1976, aos 35 anos. No dia seguinte, no Fla-Flu válido pelo terceiro turno do Campeonato Carioca daquele ano, foi respeitado um  minuto de silêncio em sua memória do ídolo.

Referência bibliográfica: Flamengo Alternativo


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