Santos: um filme bastante repetido no gol do Flamengo
O Especial “Personagens do Semestre Perdido” apresenta 11 peças-chave para os resultados do 2023.1 do Flamengo. A maior parte desse elenco decepcionou, mas alguns se salvaram e outros contam com nossa certeza de que ainda podem muito em breve ajudar a reverter o quadro de vexames históricos que machucou a Nação nos primeiros meses desta temporada.
Há mais de uma década, os goleiros titulares do Flamengo passam por trajetórias semelhantes. Começam com uma trajetória ascendente até se consolidarem e serem reconhecidos pela torcida. Depois, caem bruscamente de desempenho até acabarem saindo do clube em desgraça e sem deixar saudades.
Até Diego Alves, embora não tenha esgotado o crédito de goleiro bicampeão brasileiro e da Libertadores, teve um último ano péssimo no gol do Flamengo. Com uma série de lesões e falhas incríveis quando entrou em campo, terminou a sua temporada derradeira como terceiro goleiro e com o clube sem vontade de renovar. Ganhou uma festa de despedida junto com o xará Ribas, mas não deixou de sofrer uma queda vertiginosa para quem começou a temporada anterior sendo herói no título da Supercopa contra o Palmeiras e terminou titular em uma final de Libertadores.
Sem terem o mesmo sucesso de Diego Alves, Felipe, Paulo Victor e Muralha chegaram a viver fases de “melhor goleiro do Brasil”, ou, no caso de Muralha, até convocação para a seleção. Todos deixaram o clube pouco tempo depois do auge sem deixar saudades na torcida. Já Hugo Souza viveu ainda mais rapidamente o processo de passar de “paredão” a “frangueiro” e, após passar o primeiro semestre inteiro encostado no Flamengo, aceitou um empréstimo para o modesto Chaves, de Portugal.
Seja qual for o motivo, o processo parece se repetir nesta temporada com Santos. Em 2022, o goleiro campeão olímpico foi a contratação mais cara já feita para o gol na História do Flamengo. E não se pode dizer que não correspondeu de início.
Após fazer parte de uma espécie de rodízio com Hugo ao chegar durante a gestão do técnico Paulo Sousa, assumiu o posto de titular absoluto na era Dorival Júnior e não decepcionou. Com segurança, foi titular da campanha do terceiro título da Libertadores e do quarto título da Copa do Brasil. Ao todo, foram 37 jogos e apenas 26 gols sofridos no ano passado.
Flamengo contrata, mas não traz, Rossi para disputar posição
Na virada do ano, porém, a carruagem de Santos começou a virar abóbora. E em outra repetição dos últimos anos, o processo pegou o Flamengo de calças curtas. Com Diego Alves aposentado e Hugo fora dos planos, o Flamengo precisava de um novo goleiro reserva, ou para disputar a posição. E foi atrás de Rossi, do Boca Juniors. O clube firmou um pré-contrato com o argentino, mas não chegou a um acerto com o Boca para sua liberação imediata.
Assim, ficou numa situação insólita, de já ter um goleiro contratado, mas no momento ter uma única opção para o gol. Não seria problema se Santos repetisse o desempenho de 2022, mas isso não aconteceu já desde a disputa do primeiro título. Santos levou 4 gols do Palmeiras na Supercopa, incluindo um estranho gol decisivo em que pareceu tirar a mão de uma bola defensável sem nenhum motivo claro.
A partir daí, começou a sofrer questionamentos da torcida, e acumular falhas com poucas atuações seguras.
Com Santos lesionado e Hugo encostado, Vitor Pereira chegou a recorrer ao então terceiro goleiro, o quase desconhecido do grande público, vindo da base, Matheus Cunha. Mas nunca pareceu desistir de fato do goleiro mais experiente. Esse status se manteve na chegada de Sampaoli, mas aí Santos teve um novo desafio que já havia derrubado outros goleiros que trabalharam com o técnico argentino, como o santista Vanderlei.
Foi instado a participar mais do jogo com os pés, de uma maneira que chegou a ser tragicômica no clássico contra o Botafogo, em que Santos, sem nenhum traquejo, apareceu mais no meio-campo do que dentro da sua própria área.
Média de gols sofridos disparou em relação ao ano passado
Ao todo, no ano, Santos atuou em 26 partidas e levou 35 gols. Ou seja, são 11 jogos a menos que no ano passado e 9 gols a mais sofridos. A média de gols sofridos mais do que dobrou, saindo de 0,6 para 1,3.
Atualmente, o goleiro perdeu completamente a disputa com Matheus Cunha, que se tornou o titular absoluto de Sampaoli. Com a chegada de Rossi, deve repetir o que aconteceu com Diego Alves no ano passado e se tornar o terceiro goleiro. A opção é ser negociado com outro clube. Há notícias de interesses do Grêmio e do próprio Athletico-PR, principalmente se o sucessor de Santos, Bento, for vendido.
Apesar do declínio de desempenho, porém, a notícia mais recente é de que Sampaoli não pretende abrir mão de Santos. Com contrato até 2026, Santos tem tempo para reescrever a história de seus antecessores e fazer um novo capítulo de ressurgimento e volta à boa fase inicial. É, porém, um desfecho que hoje parece improvável.
Temos que continuar trabalhando, independentemente do momento, para que a gente possa sempre dar uma resposta. E espero que daqui para frente possa manter o nível muito alto.
Santos, ao programa Os Donos da Bola, em março de 2023