Saída de Dorival é mais um show de amadorismo da diretoria rubro-negra

28/11/2022, 12:30
Dorival Júnior comemora no desfile que consagra os títulos do Flamengo em 2022

Poucas instituições brasileiras são mais confiáveis, regulares e tradicionais do que a crise na Gávea. Seja porque o Flamengo é um imã de crises, seja porque na Gávea tudo vira crise, seja porque o Rubro-Negro é um dos poucos clubes no mundo que, quando passa um determinado período sem nenhuma crise causada por fatores externos, se vê na obrigação de criar ele mesmo alguma confusão, para ter um problema pela frente. 

E foi exatamente isto que aconteceu nesta semana. O torcedor rubro-negro, com a temporada já encerrada, acompanhava a Copa do Mundo com a tranquilidade de quem já ganhou duas taças importantes e pode dedicar seu tempo a atividades mais lúdicas. Coisas como pedir Éverton Ribeiro na Seleção Brasileira, ou especular se Cristiano Ronaldo viria vestir vermelho e preto para enfrentar o Bangu em Moça Bonita. Tudo parecia tranquilo, tudo parecia seguro. Era nosso período de férias das preocupações com o Flamengo, que recomeçariam só ano que vem. Mas a diretoria rubro-negra não poderia deixar uma coisa dessas acontecer, é claro.

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E então começaram a sair as notícias. A renovação de Dorival Junior, que parecia se arrastar apenas por uma possível ida do treinador para a Seleção Brasileira, já havia sido atravessada por boatos do retorno de Jorge Jesus – o que é normal, vamos estar em 2060 e esse boato ainda vai existir – mas subitamente o nome do ex-técnico corintiano Vitor Pereira, surgiu na pauta. Em questão de horas, Dorival Junior gravou um vídeo se despedindo do Flamengo. Logo depois começam a surgir informações de que o português, que eliminamos duas vezes neste ano, pode estar chegando a qualquer momento.

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Você bagunçaria sua vida toda por este homem?
Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians

Obviamente são várias as possíveis análises do trabalho de Dorival Junior. É o técnico que resgatou um Flamengo desenganado após o trabalho de Paulo Sousa e levou a uma Libertadores e uma Copa do Brasil? Sim. É o treinador que levou o Flamengo pela terceira vez para a disputa de Mundial Interclubes? Sim também. É o mesmo treinador que comandava o Flamengo durante a visível queda de produção na reta final da temporada, com resultados constrangedores nas últimas rodadas do Brasileirão? É ele mesmo.

Da mesma maneira, são inúmeras as leituras sobre as qualificações de Vítor Pereira. Parece ser um treinador que levou o Corinthians mais longe do que se poderia esperar, dada a qualidade do elenco? Realmente. É um técnico que já conquistou títulos em outras ligas ao redor do mundo? Também é verdade. Mas é um cidadão que teve com o grupo do Corinthians problema parecidos com aqueles que Paulo Sousa teve com o elenco rubro-negro? Exatamente. E é um profissional que alegou problemas de saúde na família para não renovar com o clube paulista e teve esses problemas magicamente curados pela proposta do Flamengo? Ele mesmo.

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Flamengo Fotos: Gilvan de Souza/Flamengo

Então mais do que um debate sobre as qualidades de Dorival Junior em comparação com as de Vítor Pereira, cuja opinião pode variar de torcedor para torcedor, o grande problema acaba sendo, novamente, a maneira como a diretoria rubro-negra gerenciou a situação. Isso porque, por pior que seja a sua opinião sobre Dorival Junior, ele é um treinador que ganhou dois grandes títulos pelo Flamengo e mereceria mais respeito em sua saída. Assim como, por melhor que seja a sua opinião sobre Vítor Pereira, ele está longe de ser uma aposta tão certeira que justifique dispensar um treinador campeão com tão pouca consideração.

Só o tempo vai dizer se o Flamengo realmente deu um “balão” no Corinthians, trazendo um treinador de alto nível, ou se roubou o Fiat Marea do vizinho e estaremos trocando de técnico novamente já na metade do ano. Mas o que é possível avaliar hoje é que Dorival Junior, limitado ou não, futuro treinador da Seleção Brasileira ou não, merecia um pouco mais de respeito do que o Flamengo foi capaz de oferecer. Que seja feliz em seu próximo clube – ou na Seleção. E saiba que, mais do que chegadas ou saídas, o que realmente fica pra história são as taças, e essas ele conseguiu conquistar.


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