Rossi brilhou, e no sofrimento "calculado", o Flamengo se classificou
Ninguém achava que ia ser fácil porque ninguém aqui é maluco. Um Flamengo desfalcado, sem seus principais jogadores, com Carlinhos no comando do ataque, indo até a Bolívia, decidir vaga da Libertadores na altitude?
O único jeito de ficar mais complicado é se o time, sei lá, estivesse falhando em todas as bolas altas e o técnico fosse um maluco que deixa em campo jogador que mal tá conseguindo respirar. Em suma, todo mundo sabia que ia ser bem difícil.
➕ Coluna do João Luis Jr. | E aí, Adenor, qual vai ser a desculpa dessa vez?
Ainda que no primeiro tempo não tenha parecido tão complicado assim. O Flamengo errava mas o Bolívar também, a altitude parecia afetar até mesmo quem estava acostumado com ela e não fosse o misto de preciosismo e confusão mental de Gérson na frente do gol, poderíamos ter saído na frente no placar e tornado bem mais confortável essa classificação. Mas é claro que a gente não fez isso, é claro que Gérson preferiu cavar o pênalti , é claro que fomos com o 0x0 pro segundo tempo.
O que não era ruim. Uma vantagem de 2×0 no agregado, precisando segurar apenas mais 45 minutos para garantir a classificação, qual era a pior coisa que poderia acontecer? Bem, talvez a mesma coisa que aconteceu diante do Botafogo, a famigerada bola ridícula cruzada nas costas do Ayrton Lucas, mostrando que a criatividade na nossa indústria de entretenimento está tão morta que até os gols hoje em dia são remakes de outros gols que já aconteceram.
Mas se nosso time todo era apenas desespero, ranger de dentes, medo e delírio em La Paz, um homem ousou ser diferente. Sim, ele, Agustín Rossi. Seja pelas defesas importantes nas horas mais complicadas, seja pela inédita atividade mediúnica de conseguir incorporar o espírito do ainda vivo Diego Alves e realizar um incrível espetáculo de cera, atraso e desperdício acintoso de tempo, o goleiro argentino foi o principal personagem da noite, mostrando que se do lado deles estava a altitude, do nosso estava a altíssima capacidade do camisa 1 de fazer passinho antes de cobrar tiro de meta.
E foi assim que a classificação veio. Não com um futebol de encher os olhos, mas com 4 zagueiros em campo estourando bola pra frente. Não com grande presença ofensiva mas com um time totalmente preso na defesa, que só teve alguma válvula de escape quando Bruno Henrique entrou e cavou uma expulsão no time boliviano. Não com o que o torcedor rubro-negro queria, mas com o que Tite planejava, que é aquele “saber sofrer” de quem já nem considera possível passar sem sofrimento.
Mas passamos. Não vem sendo fácil, muito raramente vem sendo bonito, mas o Flamengo chega nesta sexta-feira (23) vivo em todas as competições. Os sinais vitais são mais fortes em algumas do que em outras? Certamente.
A janela de reforços está muito próxima de fechar e até agora tudo que temos é Michael Robozinho Maluco chegando com ares de salvador da pátria? É verdade. Só Tite e a comissão técnica composta por familiares e amigos de Tite estão otimistas com o trabalho de Tite? Bastante provável.
Porém se o Flamengo chegou até aqui, é porque ele tem qualidade pra chegar mais longe ainda. Vamos precisar de ajustes, vamos precisar de reforços, vamos precisar que todas as orações diárias de Pedro façam efeito e ele receba uma cura milagrosa, porque Carlinhos é gente boa mas não tem condições. Vamos com certeza precisar que Tite desista de saber sofrer e tente aprender a ser feliz. Mas nós chegamos, e queremos mais ainda. Porque aqui é Flamengo, seja na altitude ou na baixaria, seja pra decidir contra o Peñarol ou brigar com o Criciúma.