Rodrigo Tostes faz revelações exclusivas sobre compra de clube europeu e garante: "Não consigo ver onde não vai funcionar"

14/02/2022, 18:04
Rodrigo Tostes Flamengo

Em palestra realizada na última semana, o vice-presidente de finanças do Flamengo, Rodrigo Tostes, falou sobre diversos projetos do clube para os próximos anos. Entre eles, a compra de clubes europeus, sem revelar nomes.

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Entretanto, não é mais segredo que o Flamengo planeja uma parceria com investidores para um aporte de 50 milhões de euros na compra no Tondela. Bastante empolgado com o tema, Tostes afirma que já fez mais de 100 reuniões com investidores e acredita muito no sucesso do projeto. “Não consigo ver onde não vai funcionar. Olho para todos os lados e as oportunidades são gigantes. É iminente”, disse.

O vice de finanças também aproveitou para listar alguns benefícios da compra de um clube no exterior. Tostes acredita que “valorizar e levar a marca para fora para valer mais como instituição e ganhar mais adeptos, produtos e portfólios” são só algumas das vantagens do projeto grandioso.

Há 10 anos, quando a gente dizia que ia reformular o Flamengo, fomos chamados de malucos. E agora a gente está falando que vai comprar um time na Europa e estão nos chamando de malucos também.

Rodrigo Tostes, vice-presidente de finanças do Flamengo

Projeções para o futuro

Bastante otimista com o projeto, Tostes também falou sobre a dificuldade em conseguir torcedores na Europa, da mesma forma que clubes europeus conseguem no Brasil. Para ele, um dos motivos é a falta de transmissão dos campeonatos nacionais no Velho Continentes. Sendo assim, a compra de um clube no exterior ajudaria nessa fidelização de novos torcedores.

“Está muito claro que precisa ser um dos próximos passos. Qualquer empresa tem duas formas de crescer: aumentando produto e portfólio ou aumentando o mercado dela. Então, os times de futebol não vão crescer sem sair do ecossistema do Brasil. Se perguntar no mundo inteiro no que o Brasil é conhecido, vai falar de três, quatro coisas e uma delas vai ser futebol. Então, é um potencial em um mercado espetacular”, analisou o vice de finanças.

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Além disso, Tostes também afirmou que o Flamengo é somente o pioneiro no processo. Isso porque ele acredita que daqui a alguns anos diversos clubes brasileiros vão ter times na Europa. O VP garante que a compra de um clube europeu está na realidade das cifras do mercado brasileiro.

“Eu acho que a discussão daqui a três, quatro anos é a quantidade de clubes que fizeram isso. E todo mundo espera o caminho inverso: um clube europeu vir para o Brasil. Nas cifras do mercado brasileiro hoje, é amplamente possível comprar um clube europeu e expôr seu jogador lá. Precisa do investidor e pessoas certas para fazer. Não consigo ver nenhum downside de um clube brasileiro não ter um clube em determinados mercados europeus para expôr os jogadores e oferecer outro portfólio para a torcida. Tem vontade e poder de consumo. É um caminho muito claro para os clubes brasileiros”, projetou o dirigente rubro negro.

Tem atleta do Flamengo que vale mais do que um clube de futebol.

Rodrigo Tostes

O envolvimento do futebol

No entanto, as vantagens do projeto também se entendem para dentro das quatro linhas. De acordo com Rodrigo Tostes, um clube no exterior também serviria para a formação de novos talentos e vitrine de exposição de jogadores rubro-negros.

“A formação de um atleta é muito importante. É diferente o que se passa e pede para ele, o que se exige dele. Então, se aquele clube compra (um jogador) por causa da formação, por que vou deixar de ter esse up side do meu atleta? Por que não tenho uma vitrine ou uma parceria? Por que não tenho um clube? Na minha visão, a gente ainda pensa muito pequeno”, opinou o vice.

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Contudo, vale ressaltar que o clube não será uma filial do Flamengo, segundo o próprio Rodrigo Totes. Em um documento que o portal ge teve acesso, o Rubro-Negro indica que pode ser um provedor de talentos para a equipe europeia. O dossiê mostra, por exemplo, as vendas de Lucas Paquetá para o Milan e Vinícius Júnior e Reinier para o Real Madrid.

Por outro lado, o clube mostra que esses casos são poucos. Isso porque de 40 atletas que cumprem toda a progressão nas categorias de base, somente cinco atuam no elenco profissional. Além disso, dez são emprestados e 25 dispensados todo ano.

Mercado da Bola 2.0

Em novembro do ano passado, o Flamengo lançou o fan token oficial do clube ($MENGO) na plataforma do Mercado Bitcoin. Rodrigo Tostes falou que o clube já trabalha nesse mercado digital, inclusive garante que o Rubro-Negro tem “tem um orçamento separado para essas novas receitas e estudos com previsão do quanto isso pode crescer nos próximos cinco anos”. No entanto, Tostes faz algumas ressalvas sobre o tema.

“Acredito que os clubes de futebol no Brasil estão em situações diferentes. Então, a gente olha esse mercado (digital) com uma visão de novos negócios. A gente precisa entender como funciona, a dinâmica do mercado. Mas não colocamos todas as nossas fichas nesses veículos. Mas acreditamos serem parceiros fundamentais do que estão vindo pela frente. Então, os clubes precisam se atualizar e entender esse modelo de transformação”, ressaltou Rodrigo.

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Quando eu vejo meu filho gastando mais tempo escolhendo a skin dele do que a roupa que ele vai para a escola, a gente cria uma preocupação para saber onde estamos indo.

Rodrigo Tostes

Além disso, o vice-presidente também listou algumas dificuldades nos clubes para realização de projetos. Tostes alega haver imediatismo devido aos curtos mandatos, “problema de entendimento desse caminho” do mercado digital e “risco da marca”. Ele também acredita que “os clubes não têm profissionais capacitados para entender esse mercado hoje”.

Por fim, o dirigente destaca a importância de “conseguir afastar o campo e bola da relação de negócio do clube”. Para Tostes, “paixão e dinheiro não funciona”. O vice-presidente lembra de uma história que colocou em prática a máxima: “Quando pediram para contratar um CFO, tinha três pessoas. Eu perguntei: ‘Qual deles não é Flamengo?’. Eu já sou Flamengo, não pode ter outro.”

A reestruturação do Flamengo

Rodrigo Tostes é um remanescente do grupo original da reestruturação financeira do Flamengo. Isso porque o dirigente também atuou como vice-presidente de finanças no começo do projeto, em 2013. No entanto, o profissional disse que precisou enfrentar várias dificuldades ao longo do projeto, inclusive preconceitos com o trabalho no setor do futebol.

“Em 2012, quando ganhamos as eleições no Flamengo, eu cheguei em casa e falei para minha mãe: ‘Ganhamos as eleições no Flamengo, vou ser vice-presidente de finanças do Flamengo’. E ela: ‘Você estudou para isso?’. Então, esse mercado ainda é visto de maneira amadora. A gente precisa criar uma conscientização base e gente profissional para fazer esse mercado funcionar”, ponderou Tostes.

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Além disso, o dirigente precisou enfrentar também discursos contrários dentro do próprio Flamengo. Quando assumiram o clube, o Rubro-Negro tinha uma dívida de R$750 milhões. Tostes garante que o Mais Querido só não faliu, porque era uma instituição sem fins lucrativos. Hoje a dívida do clube é de R$340 milhões e prevê diminuir para R$160 milhões até 2023. Ou seja, uma redução de quase R$600 milhões em dez anos.

“Eu me lembro que no primeiro debate da campanha de 2012, a opositora (Patrícia Amorim) disse: ‘Vocês vão vender o Flamengo’. E a gente: ‘Não, a gente vai recomprar. Flamengo já foi vendido e só não faliu, porque é uma instituição sem fins lucrativos. Senão já teria falido’”, confidenciou Tostes.


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José Mário Ferraz
Autor
Apaixonado por contar histórias. Profissional com facilidade na escrita e na comunicação. Atualmente, redator no Mundo Rubro Negro