Ultimamente tenho refletido sobre o torcedor e a forma como este se manifesta. Quem me conhece sabe que sou um defensor implacável do direito do torcedor de protestar, gritar, vaiar. Seja no estádio (inclusive durante o jogo), seja na rede social, na conversa de botequim, claro desde que não haja agressão física ou desqualificação verbal com xingamentos, por exemplo.
Ocorre que tenho notado que, de uns anos pra cá, com a proliferação de canais esportivos, inclusive no Youtube, programas de debate e transmissão de jogos do mundo todo, inúmeras pessoas se acham profundas conhecedoras dos meandros do esporte.
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Vejo debates no Twitter e em grupos de mensagens de pessoas que acompanham meia dúzia de jogos de campeonatos europeus e se sentem capacitadas para opinar se um jogador é bom ou ruim, como opção de contratação para um clube aqui no Brasil ou não, ou mesmo de técnicos que se atuassem aqui seriam isso ou aquilo.
Mas a maioria dessas pessoas são forjadas no tatiquês. Sequer estudaram tática. Acham que entendem de técnica e avaliação de jogador porque tem um aplicativo que dá os números do atleta. Ou seja, não possuem qualificação profissional alguma.
E isso se reproduz fartamente na imprensa, com inúmeros profissionais que seguem o mesmo modus operandi. São raros os que entendem do assunto, que sabem do que estão falando, que se preparam para o que estão se propondo a fazer.
Fico abismado quando um torcedor acha que entende mais de futebol do que um técnico que vive disso há 15, 20, 30 anos, profissional que se formou, estuda, e geralmente pensa o futebol na maior parte do seu dia, porque vive disso.
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É óbvio que trabalhos dão errado. Por vezes, em razão de escolhas erradas do técnico, elenco incompatível com sua ideia de jogo, e inúmeros fatores que poderia passar listando aqui.
De toda forma, mesmo quando estes trabalhos dão errado, entendo que é um erro repetir o velho chavão: “se fosse eu, faria melhor”. Não, não faria. Só no futebol isso é possível, porque ninguém que jamais estudou medicina vai se achar melhor que o médico e chamá-lo de burro. Só no futebol.