NÁYRA M. VIEIRA | Twitter @NayraMV
Review do Hangout com Wallim - Apresentado por @geraldobf em 22 de setembro
Não costumo escrever sobre eleições, mas nunca me abstive de discutir sobre e tenho acompanhado com bastante atenção os movimentos relativos a corrida presidencial. Contudo, mudei de opinião ao ver o clima que boa parte da torcida tem cultivado sobre as eleições, destilando agressividade, ofendendo pessoas só por pensarem diferente.
Quando a Chapa Azul surgiu em 2012 poucos “levavam fé” nos “paulistas” que achavam que poderiam administrar um clube de futebol como empresa, diziam que só quem frequentava o dia-a-dia na Gávea sabia o que era melhor pro Flamengo e quem era de fora não tinha chance. Mas com um discurso destoante, uma proposta revolucionária de gestão feita por um corpo técnico, Bap e Wallim foram virando o jogo, principalmente após suas entrevistas na TozzaCam e com a cobertura de suas apresentações para sócios. Quem se lembra do debate entre chapas também deve se recordar que a Chapa Azul discutia em um nível que não era do alcance das demais, havia um abismo evidente com direito a Patrícia Amorim sequer ir ao debate organizado pelo Magia Rubro-Negra.
Com o Eduardo Bandeira de Mello, que entrou aos 43 do 2° tempo, a Chapa Azul ganhou e começou a realizar aquilo que propôs em 2013. Grande parte das promessas feitas foram cumpridas, a imagem e as finanças do clube recuperadas, apesar do futebol não passar por boa fase. É impensável para qualquer um dizer que a administração dos últimos 3 anos foi ruim, teve problemas e cometeram erros, mas no balanço geral hoje o Flamengo é forte e um clube tido como exemplo segundo a imprensa e o mercado, não só para a torcida.
E, esse grupo que reconstruiu o Flamengo se dividiu, a grande maioria fundou um novo grupo que faria oposição ao atual presidente e, novamente, quem saiu ganhando foi o Flamengo. Pela primeira vez nas últimas décadas temos 2 chapas extremamente qualificadas em condição de discutir em alto nível, ambas tendo sido extremamente importantes para o Flamengo de hoje, inclusive mal dá para chamar a chapa verde de oposição, já que a maioria deles eram vice-presidentes até pouco tempo atrás e, portanto, tão situação quanto o Eduardo Bandeira de Mello.
Sendo assim, a troco de que, a torcida faz essa guerra estúpida? Por que comportam-se como aqueles torcedores organizados que torcem por si só e não pelo time, chegando a se unir com torcidas rivais pra brigar com outras torcidas?
Pela primeira vez podemos pressionar os candidatos, alimentar as discussões cobrando deles propostas, compromissos assinados, forçá-los a elevar o nível do debate e primar pela qualidade dos programas, mas para isso precisamos ouvir todos os lados, ler todas as propostas, ver o que um tem de melhor que o outro e cobrar para que seu candidato alcance aquela proposta ótima do adversário. Por isso, peço que por um momento parem de se comportar como crianças do primário em eleição de representante de classe e deem oportunidade para o Wallim e o Cacau mostrarem suas propostas e, com conhecimento destas, poderem fazer as críticas, sempre de modo respeitoso obviamente.
Feita essa longa introdução, vou abaixo comentar alguns pontos sobre o hangout em que o Wallim e o Bap participaram com torcedores OFF-Rio. As partes em vermelho são resumos do que o Wallim e o Bap disseram e abaixo farei meus comentários em preto.
Acordo sobre a Vice-presidência de futebol
“Meu acordo com Eduardo e com o grupo era ficar um ano no futebol… eu aceito mas vou ficar até dezembro de 2013”
Segundo Wallim, com confirmação do Bap, após vencerem a eleição foi perguntado quem teria disponibilidade para ser vice-presidente de futebol e quem poderia assumir a pasta e Wallim foi o único que se dispôs, contudo só poderia ficar no cargo até dezembro por compromissos profissionais. Com a classificação para a Libertadores, Eduardo Bandeira de Mello (EBM) pediu para que Wallim ficasse na vice-presidência de futebol, mesmo que o acordo fosse até dezembro. Mediante o pedido, Wallim explicou que precisaria se dedicar mais ao trabalho, estava com problemas familiares, mas diante da insistência decidiu por permanecer no cargo. Então, dois dias após a final do Carioca, Wallim enviou um sms ao Bandeira reiterando que precisava deixar o cargo por problemas profissionais e pessoais, ao que o presidente respondeu dizendo que não havia conseguido um substituto pro cargo e pedindo a permanência do Wallim, que diz se arrepender de ter aceitado ao invés de ter deixado a pasta e dito para o Bandeira acumular a função, posto que ele teve que de fato se dedicar mais ao trabalho e, sem uma presença mais firme no departamento, a situação iria se complicar como aconteceu.
Essa situação mostra que a acusação de abandono que a torcida faz ao Wallim é injusta, visto que ele tentou entregar o cargo algumas vezes e o EBM insistiu na sua permanência mesmo sabendo das consequências disto. Além de mostrar a incapacidade do presidente para arrumar um substituto para a pasta mais importante do clube, mostra certa covardia do Bandeira em não acumular as funções, o que é claro o impediu de virar vidraça já que eventuais fracassos sempre caíram ou na conta do VP ou do Conselho Gestor, nunca na conta do presidente. E, uma prova disto, é o sms que o Wallim tem em seu celular com a conversa sobre o cargo, além do que vimos depois quando demorou até Wrobel assumir a pasta e quando ele saiu houve muito tempo sem ninguém a frente até nomearem o Biscotto, com o presidente usando o Conselho Gestor como escudo ao invés de assumir o acúmulo de funções.
O futebol sob sua gestão
Wallim começa falando do estado em que o CT e o elenco estavam quando assumiu, muitos salários altos e atrasados, inclusive do treinador e contratos a terminar que não foram renovados ou direitos adquiridos, caso inclusive do Hernane. Esse caos inviabilizou investimento na aquisição de direitos e se focaram em jogadores que viriam “sem custo”, entre os quais destacou Elias e Carlos Eduardo, quem inclusive disse ter sido contratado por aprovação do Conselho Gestor e após pressões de um dos membros para não perder mais um jogador pro Fluminense, usando inclusive o argumento que o assédio de tantos clubes indicava que valia o alto investimento.
Achei extremamente corajosa a atitude de tomar a iniciativa de falar do Carlos Eduardo, poderia ter focado no Elias, no Paulinho que sobressaiu na Copa do Brasil, no Hernane que quase perderam por incompetência da gestão anterior, mas entrou logo no seu maior erro para de fato reconhece-lo e, não só isso, mas apresentar uma proposta de solução para minimizar a chance de outro erro assim acontecer, no caso o uso das informações do departamento de inteligência e observação de jogadores que foi criado na gestão dele e que deve ser melhorado e ganhar destaque daqui pra frente.
Importante evidenciar que a posição dele, e da chapa, é a de valorizar o departamento de inteligência e observação do clube. As contratações precisariam ser pautadas em informações estatísticas de desempenho do jogador para minimizar erros.
Ao falar sobre os treinadores, lembrou que Dorival não aceitou a redução proposta e, sem dinheiro para fazer grandes investimentos em treinadores, falaram do porquê trouxeram Jorginho que havia jogado no Flamengo, conhecia o clube e feito um trabalho de destaque no Campeonato Brasileiro, além de ter sido auxiliar de Dunga na Copa do Mundo. Ao terem certeza de que Jorginho havia perdido o vestiário, o demitiriam e buscaram investir no Mano Menezes que era apontado como treinador de primeira linha. Um momento de destaque desse relato foi a declaração de que Wallim usou o artigo do Renato Maurício Prado, criticando duramente os jogadores, para motivar o elenco após a saída do Mano Menezes e, após isto, Jayme aproveitou o momento de forte emoção para propor a união do time em torno de um objetivo e os jogadores tomaram a decisão de se dedicar mais nos treinos e dar 110% em campo como todos vimos principalmente na Copa do Brasil.
Não apenas nesse momento, mas durante toda a entrevista Wallim pôde mostrar o tipo de trabalho que um VP de futebol executa, o quanto aprendeu na função e, após olhar de fora, o quanto conseguiu avaliar seus erros e encontrar formas de evitar que estes se repetissem.
“Contratações de treinadores e de jogadores caros, como o Carlos Eduardo, foram tomadas em decisões colegiadas, nunca por uma pessoa apenas.” – Bap
De fato, todos os erros e acertos precisam ser divididos entre quem estava no conselho gestor e não atribuir apenas ao Wallim, que era o VP da pasta. As decisões grandes foram sempre tomadas em conjunto.
Aproveitando a questão, Wallim destaca que foi sob sua gestão no futebol, justamente no pior momento financeiro da atual gestão, que o time foi vitorioso ganhando a Copa do Brasil e o Carioca.
E, querendo ou não, temos que admitir que o Flamengo de lá para cá tem folhas mais altas, jogadores de mais peso e nenhum título.
Estava tudo fechado com o Elias e o Sporting, 4 milhões de euros em 4 parcelas anuais, sendo 1 milhão de euros na primeira semana. Já havia passado pelo jurídico e financeiro. Foi então que numa escala da viagem para o jogo da Libertadores, Walim recebeu um e-mail dizendo que o contrato voltou com uma modificação incluindo Samir, Luiz Antônio e 3 jogadores da base a escolher. Em telefonema para Bandeira e outros do conselho gestor, o grupo decidiu que a negociação naqueles termos era inviável e o Eduardo Bandeira de Mello enviou um e-mail ao Sporting encerrando a negociação.
Eu sempre achei que o negócio não sairia, os portugueses são espertos e levaram em banho-maria até a véspera do período de transferência, fazendo uma contraproposta absurda no final, sem tempo de negociação, para pressionar o clube e o Flamengo fez bem em não aceitar. O erro, ao meu ver, foi o Flamengo aceitar que postergassem tanto a negociação e não ter um plano B, infelizmente vivemos novamente problemas semelhantes esse ano com Montillo, o que mostra que nem todos aprenderam com os erros cometidos.
Disponibilidade de tempo do Wallim para o próximo triênio
Wallim confirmou que se desligou da sociedade em que estava em dezembro de 2014 e desde janeiro deste ano tem mais tempo para se dedicar ao clube. Portanto, garante ter tempo para se dedicar devidamente a presidência do Flamengo caso vença.
Gestão da VP de Patrimônio
CT: 30 milhões para terminar as obras em 1 ano e meio.
Morro da viúva: O contrato feito na época da Patrícia não previa prazo de início, então a propriedade volta para o clube caso até o fim de 2016 não tenha terminado a obra.
Casa de São Conrado: Já há uma permuta acertada, restando ser levada para o deliberativo aprovar.
Piscina: apesar da alta do dólar afetar o material importado, já há o dinheiro disponível, recolhido via incentivo, para fazer a obra.
A canoagem e o remo teriam 1,8 milhões do BNDES a fundo perdido para reformas em uma linha relativa as Olimpíadas. Mediante o atraso na resposta do BNDES, Wallim falou com Eduardo sobre enviar um ofício do clube pedindo uma resposta. Ficou a cargo do Fred Luz, mas já na época da saída do Wallim da gestão.
Propostas para o próximo triênio
“Essa primeira gestão foi de arrumar a casa, mas a próxima será para dar foco no futebol” – Bap
A crise brasileira inviabiliza trazer jogadores de fora, a partir de agora o Flamengo precisará usar sua melhor situação financeira para trazer jogadores de grandes times do Brasil.
Manter a gestão responsável financeiramente, ampliar os investimentos nos esportes olímpicos e ampliar os investimentos no futebol. Reconhecendo que já há bons nomes no futebol como Guerrero, julga necessário trazer pelo menos mais dois grandes jogadores para efetivamente brigar em cima no campeonato brasileiro.
Ele não disse em que posições seriam, mas anteriormente mencionou o fato do Flamengo ainda não ter um armador, então talvez possa ser um dos focos.
O aumento do dinheiro da TV ano que vem é um bom começo, mas permanece o desafio de manter os principais patrocinadores e buscar outros. De toda forma o foco principal do investimento é o futebol, prioridade da chapa verde pro próximo triênio.
Revelação de jogadores passa pelo progresso da conclusão do CT não só por questão de equipamentos, mas principalmente pelos dormitórios, necessários para abrigar jogadores que venham de fora, hoje são cerca de 60 e quando concluída a obra serão 120 vagas. Necessidade de ampliar o investimento na base, projeção de subir de 8 milhões para 20 milhões. Implantar um programa transparente de remuneração para quem trouxer jovens jogadores pro clube com valores variando a depender da performance/potencial do menino. Planos pra ter Zico como coordenador da base e maior presença de ex-atletas no processo de formação, mas sem entregar a formação a eles excluindo os atuais treinadores.
Eu vejo com ressalvas o excesso de ex-atletas no clube, mas se não for na função de treinador e se estiverem ali para um programa especial focado em passar experiência, ensinar a história do clube e afins, pode ser positivo. Muitos desses garotos deixam a fama precoce subir à cabeça, fora a péssima influência de alguns empresários.
Necessidade de qualificar mais os profissionais que trabalham no clube, evitando um processo de aparelhamento. Não há ainda definição de quem ocupará as vice-presidências e nada impede que alguns VPs que vêm fazendo bom trabalho continuem. E, caso perca a eleição, ninguém do grupo deve trabalhar no clube, se dispõem a ajudar caso peçam, mas não aceitarão cargos.
Um dos poucos momentos de críticas diretas ao grupo que está na administração foi ao falar do aparelhamento, citando cargos dados a amigos que não estariam qualificados para ocupá-los. Mas a crítica só apareceu quando os entrevistadores perguntarem o porquê da resistência com alguns VPs e das diferenças que provocaram o rompimento com EBM.
Para o futebol, menor interferência do conselho gestor, planejamento do elenco feito no ano anterior para formar a base no início do ano reforçando pontualmente no meio do ano. Conselho gestor só interferindo em contratação de jogadores que exijam grande investimento de salário ou direitos.
Hoje tem mesmo muita gente no Conselho Gestor, apesar de haver pesos diferentes no poder de decisão de alguns. Muita gente dando palpite, amadorismo demais em um departamento que deveria ser profissionalizado ao máximo.
“Hoje o Flamengo tem dinheiro pra trazer um treinador mais qualificado. Treinador do Flamengo tem que ter ganhado título, tem que ter o respeito dos jogadores.”
Na entrevista dada anteriormente ao GE havia ficado com a impressão de que o critério para a contratação de treinadores era, principalmente, ser barato, com a exceção do Mano Menezes. Até Luxemburgo chegou barato e ganhou aumento depois com o assédio de outros clubes.
Percebi críticas contundentes a prática de contratações rápidas, sem um perfil definido de treinador, principalmente ao dizer que não pode pegar quem está disponível no mercado e sim quem for qualificado, mesmo que isso implique em manter um interino por algum tempo.
Treinador e diretor têm que ter metas definidas no início do ano e serem avaliados em relação a isso. Treinador não vai definir contratações, tem que haver justificativa para contratações e com palavra final do diretor e VP.
Sem Maracanã em 2016, procurar fazer os jogos médios no estado, procurar ver a situação do Caio Martins com o Botafogo. Jogos grandes em outras praças, mas racionalizando a logística para minimizar o desgaste. O Pacaembu aparece como o estádio mais próximo do Rio de Janeiro, assim seria uma maneira de contemplar a torcida carioca que poderia ir ver o time com certa facilidade.
Após esse assunto houve ainda algumas perguntas que não achei muito produtivas, assim como as respostas, assuntos relacionados ao sócio-torcedor e outros relacionados ao marketing só foram perguntados depois que o Bap saiu, então Wallim acabou respondendo de modo raso, dando algumas explicamos que já conhecemos sobre o preço dos planos. Houve algumas reclamações sobre como as embaixadas são tratadas e Wallim disse que há um projeto especial sendo feito sobre isso pelo Mário Cruz e, imagino, deva ser disponibilizado em algum momento no site da chapa.
CONCLUSÃO
O mais interessante dessa entrevista foi ver que não há arrogância da parte do Wallim que não teve problemas em reconhecer erros e dar explicações, assim como parece ter refletido sobre esses erros de modo a não deixar que se repitam. Uma postura que até então não vi no Eduardo Bandeira de Mello que nunca reconhece erros ou propõe mudanças de processos, pelo contrário, estamos vendo há 3 anos os mesmos erros se repetirem, inclusive após a saída do Wallim, inclusive com um elenco cada vez mais caro e menos vencedor, treinadores que continuam vindo e indo 3 meses depois, a exceção do último, que sempre cai em Maio do ano seguinte.
No plano das propostas as chapas azul e verde possuem muito mais semelhanças que diferenças, o que não poderia ser diferente quando uma é dissidência da outra, mas os pequenos detalhes que dizem respeito a mudança no comando do futebol, nos processos de condução, são muito interessantes e chamam a atenção para a chapa verde.
Esse review acabou sendo bem básico, mas em breve tentaremos entrevistas com as 3 chapas com as mesmas perguntas para que todos possamos comparar as propostas para o próximo triênio e ver quem se enquadra melhor naquilo que queremos para o Flamengo a partir do ano que vem.
Saudações Rubro-Negras!
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Náyra M. Vieira é integrante da equipe MRN Informação e também escreve no Blog Cultura Rubro Negra. O conteúdo dessa postagem não reflete necessariamente a opinião do site. Sobre a nossa cobertura eleitoral, leia nosso Editorial
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