RESUMO: Entrevista com Luiz Filipe Teixeira, vice de TI

11/02/2017, 17:23

O MRN publicou na quinta e na sexta-feira uma longa entrevista, dividida em duas partes, com o vice-presidente de Tecnologia da Informação, Luiz Filipe Teixeira. Se você tem tempo e quer se aprofundar em assuntos do Flamengo, sugerimos que leia a íntegra aqui e aqui. Mas, se está na correria e só quer saber o mais importante que ele disse, o MRN não te deixa na mão, e resume a entrevista em pontos-chave.
 
 

PARTE 1: O TRABALHO DA TI

 
TI no futebol
A TI quer analisar dados médicos, dados fisiológicos, e quer analisar todos os jogos do Flamengo e dos times que ele vai jogar. Os softwares em 2016 analisavam qualitativamente e quantitativamente os nossos jogadores. Esse era o mapeamento que a gente tinha de jogadores. A gente está melhorando para que se tenha integração dos softwares médicos, de análise qualitativa e o de de análise quantitativa, dentro de um ecossistema. O ERP (sistema integrado de gestão empresarial) entra consolidando essas informações inseridas no ecossistema. Pensa no seguinte: você tem o softwares específicos e você tem um software maior. Na hora que eu faço a interação de dados eu gero um motor de insights. É isso que a gente quer. Nós temos algumas opções de mercado. E esse ecossistema, esse motor de insights precisa se relacionar com o ERP, que traz informações de outras áreas do clube, como o financeiro, para auxiliar a gestão. Consigo fazer do futebol uma miniempresa e analisar o futebol só pelo futebol.
 
Centro de Inteligência de Mercado
Hoje o CIM e o CEP (Centro de Excelência de Performance) são responsabilidades minhas, dentro das vice-presidências. O CIM não decide que jogador vai ser contratado ou não. O CIM dá a informação para quem tem que tomar a decisão. O Flamengo estava atrás do Berrío e atrás de outros. E aí aquela coisa que dizem: "o centro de inteligência não viu". Você nunca vai trazer o jogador perfeito. Mas o CIM te dá muitas opções. Pô, mas o CIM não analisou esse cara? O CIM analisa todos os jogadores. O CIM tem que ter um banco de dados pra na hora que o Flamengo falar “esse jogador”, gerar uma análise do jogador lá. Todos os jogadores que estão em evidência são analisados.
 
Auxílio do CIM nas decisões
Dentro da análise do CIM tem a minutagem de um jogador. Teve um jogador que há pouco tempo muita gente falou “vai trazer o Rômulo e não vai trazer o outro jogador que todo mundo quer”. Ninguém olhou a minutagem desse jogador que todo mundo queria. E aí você tem que comparar minutagem com o que aconteceu na temporada, de contusão… O caso do Conca é muito interessante. Ele se machucou, só volta em maio. Mas as pessoas não analisaram o que aconteceu com o Conca antes da contusão. A minutagem que ele tinha no Brasil e a participação na China é a mesma. O mesmo resultado num outro mercado é sinal que ele não caiu. Agora, e um jogador que tá na Europa com uma minutagem muito aquém do que ele tinha? Você tem que começar a tomar decisões em cima de informações. E aí qual é a parte do CIM em cima disso? Colocar um ecossistema de software que entregue o máximo de informações possíveis para os decisores do futebol. Quando falam assim: o CIM decidiu entre o Berrío e um outro. Não. O CIM deu as informações do Berrío e as de mais uns seis ou sete. Mas passar por uma contratação não está só ligado ao CIM. Condições, negociação, valores….
 
Monitoramento da base
As informações hoje dão alguns insights se o cara vai virar jogador mesmo ou não. Se dentro do nosso patamar, do nível que a gente decidiu de atingimento de performance de jogador, que o lado físico e médico está envolvido, se ele não chegar nesse patamar, de repente ele pode ser um puta jogador nas divisões de base, todo mundo achando que ele vai chegar, e a gente já pode ter certeza que ele não vai. E aí o clube pode tomar a decisão de negociar o jogador. Tivemos um jovem da base que era visto de uma maneira muito boa mas começamos a ter um ranqueamento de dados deficitários. E ele foi negociado por um bom valor, não quer dizer que deu errado, mas as informações não projetavam um nível de excelência que o Flamengo hoje requer. O funil está muito mais apertado.
 
Feedback para os jogadores
Hoje isso já acontece, mostramos para todos os jogadores como eles estão e o que deve ser buscado a mais. Antigamente o jogador subia na balança e via se estava no peso ou não. Era só isso. O que estamos trazendo é um outro software para que o jogador receba constantemente essas informações.
 
Escolha do ERP para o Flamengo
Eu posso desenvolver isso daqui ou eu posso comprar um módulo pronto. Também posso botar uma RFP (convite enviado a um grupo de fornecedores para apresentarem propostas de venda de produtos ou serviços) no mercado para que uma empresa se interesse em desenvolver uma plataforma. Hoje a gente fala de ERP com três empresas: SAP, a Totvs e a MXM, que tem um ERP menor, mas que tem grandes empresas no mercado que trabalham com ele.
 
O que falta para o Flamengo
O Flamengo não está no topo em relação ao ecossistema tecnológico mas podemos dizer que hoje o nosso processo de análise está à frente dos outros. O CEP, a parte de hardware, os equipamentos, o processo que o Tannure implementou, o que a Exos trouxe, a Double Pass para a base. Agora a gente tem que colocar as informações dentro de um ecossistema tecnológico responsivo. Hoje quando você tem que fazer análise de jogador, pega uma planilha aqui, uma planilha ali, uma planilha lá e tenta entender aquilo, e aí é uma análise humana. O cara vai entender e vai tomar as decisões. É preciso agora um machine learner, como se diz hoje, que dê insights. Por exemplo: um jogador se machucou em todos os jogos que correu mais de sete quilômetros e meio. Se você tiver em tempo real o que ele está correndo, tá na hora de tirar porque a probabilidade do jogador se machucar é muito grande. Agora imagina que, mesmo com com esses insights todos, você tira o jogador numa final? Não. Você corre o risco. O treinador sempre vai decidir. O que queremos é dar o máximo de suporte, e também em tempo real.

Papel humano continua
O CIM não contrata. Ele oferece as condições de análise para quem toma decisão. É a possibilidade do departamento de futebol decidir com mais segurança. Não dá para eliminar os erros. É apenas uma peça da engrenagem. A gente não vai botar um robô pra treinar o time, a gente não vai botar um robô para negociar o jogador. O que queremos é chegar num ponto analítico de um “Moneyball”, mas que você não tenha um nerd dizendo para o técnico o que ele tem que fazer. No futebol você tem que dar todas as possibilidades de vantagem para a Comissão Técnica tomar as melhores decisões. O lado legal é o futebol, mas não é o único. A área financeira afeta o futebol. O que a tecnologia tem que fazer dentro do Flamengo é prestar melhores serviços para os departamentos e para os sócios, e dar informações para melhorar o poder de decisão das pessoas.
 
Flamengo não tinha e-mail seguro
Algumas pessoas não gostavam de usar o e-mail corporativo com medo do nível de segurança. Então, TI foi lá, analisou os melhores players de mercado e fechamos com a Microsoft uma solução em nuvem para todos os funcionários. Uma coisa que me deixava muito chateado como vice-presidente era receber e-mail de um funcionário do Flamengo no Gmail, onde os dados do Flamengo estavam transitando por ambientes que a gente não tem ingerência. Outra coisa, agora todos os softwares usados por funcionários do clube estão regularizados. Ninguém usa nada que não esteja licenciado, sujeito à multa. Também não usávamos um firewall top. Fizemos uma parceria com a Palo Alto, que é uma solução de segurança de informação de altíssimo nível. O mais importante para mim é a segurança dos dados que estão no Flamengo. Até para você ter velocidade de dados. A velocidade de dados que a gente tem no CT era restringida por uma falta de infraestrutura de solução de segurança. Então quando você tinha que registrar um atleta do CT e a internet estava lenta. Um jogador contratado no último dia da janela e tem que registrar esse cara e não tem um ambiente seguro e veloz para fazer isso. A TI tem o peso de manter o valor da marca que poucas pessoas veem.
 
Por que só está implementando só agora?
A gente vai voltar ao que eu falei no começo. Se pagava uma parcela de dívida tão grande que só dava para montar um time mediano. Mas o planejamento financeiro do Flamengo de 2017, eu posso dizer que nunca teve igual na história do Flamengo. Porque todas as áreas estão sendo assistidas com dinheiro para ter desenvolvimento dos seus departamentos. Não teve orçamento zero em área nenhuma. Na hora que você tem um caos instalado, de 2013 a 2015, porque era caos, era dívida e time, e o que sobrava de dinheiro ia pra outra dívida também. Agora que o nariz já saiu, você já consegue colocar dinheiro em projetos estruturantes.
 
Desafio para o futuro
O desenvolvimento do Flamengo do futuro tem que vir de maneira estruturante, a longo prazo. Então isso depende de TI, depende de uma área boa de marketing, de comunicação, financeira. É preciso dar ferramentas de trabalho para todo mundo ou não vai além. Esse é o próximo desafio do Flamengo. Enquanto está todo mundo pensando no próximo jogador contratado, as pessoas que estão dentro do clube têm que tomar algumas decisões bem maduras, que contrariam o seu lado torcedor. Mas tem que tomar. Para doar esse tempo para o Flamengo, a gente não é mais rubro-negro do que ninguém, mas no mínimo está colado com os mais loucos rubro-negros.
 
 

PARTE 2: POLÍTICA

 
Fla em Dia
Eu entrei no SóFla nos 60 anos do Zico, em 2013. O Bruno Barki, virou e disse: você é um cara bom, a gente precisa de pessoas boas. Entrei. Pensei em fazer alguma coisa para ajudar, e surgiu a ideia do Fla em Dia, que arrecadou 700 mil reais. Me dava um prazer imenso. Paramos depois porque o Profut ainda não teve a consolidação final da dívida para ter o novo código de dívida e emitir os Darfs novos. O Fla em Dia vai voltar, é muito fácil de tocar hoje em dia, agora, a loucura do início, de noites mal dormidas passou.
 
Divisão das chapas em 2015
O SóFla sempre trabalhou muito para que não existissem outras chapas, que continuasse o mesmo Conselho Diretor de 2013. Não foi possível. E aí neste momento o SóFla tomou a decisão de continuar com o Conselho Diretor. A gente não apoiou A ou B, a gente apoiou exatamente o que estava sendo feito no clube. Não dava para apoiar uma pessoa que tava saindo. Não apoiamos pessoas e sim uma filosofia. Na hora que o Flamengo tiver as mesmas pessoas que estão lá e a filosofia mudar, retiramos o apoio. O SóFla não é o grupo do Bandeira. E não é um grupo que eu tenha liderança, que o Rafael (Strauch) tenha liderança, que outras pessoas tenham liderança. É um grupo que tem valores muito fortes e que todo mundo é escutado.
 
Caminho para a vice-presidência
No momento que a gente começou a falar de campanha, alguns vice-presidentes e presidentes de poder pediram que eu fosse o coordenador da campanha. Algumas pessoas tinham alguma restrições para serem coordenadoras da campanha da Chapa Azul, eu não tinha nenhuma. Eu acho que quando o Flamengo te pede algumas coisas você não pode dizer não. Quando o Flamengo pede e está necessitando, tem que se doar, mesmo que você não seja a pessoa mais adequada para aquele momento. Se amanhã o Flamengo tiver a necessidade que eu esteja em qualquer outro cargo, e for unânime, ou pelo menos a maioria acredite que eu posso ajudar daquela maneira, eu vou servir ao Flamengo como for. Depois da campanha algumas pessoas saíram e a gente foi recompor, estrategicamente, o Conselho Diretor. Quando o Pedro Almeida foi para a vice-presidência de Planejamento, o Eduardo me chamou para assumir a TI em seu lugar.
 
Vice-presidentes no Twitter
A gente está tentando organizar melhor. Eu não quero chegar ao ponto de não poder comemorar e fazer algumas brincadeiras no Twitter, mas a gente não quer atrapalhar o trabalho da Comunicação. Não quero atrapalhar nenhum profissional que esteja no Flamengo. Mas eu também não quero largar de fazer uma brincadeira, de falar alguma coisa, de colocar uma foto. Eu também sou torcedor. Eu sou uma pessoa física. Eu só tenho que tomar cuidado para não atrapalhar o que o Flamengo quer, não dar nenhuma informação. Comunicação tem que decidir o que comunicar, e não ter uma decisão da diretoria e as pessoas saberem pelo Twitter. O que a gente vem tentando fazer é não gerar polêmica. Algumas pessoas dizem que vice-presidentes não podem fazer determinadas brincadeiras no Twitter. Se alguma pessoa pensou daquela maneira você tem que prestar atenção no que ela está falando, mas a gente não pode ser um robô. Você não se relacionar com mais ninguém e não dar determinadas opiniões. Algumas perguntas são pegadinhas. A gente nunca responde. Na última reunião definimos alguns códigos de conduta. Nossa marca é muito forte e a gente tem que fazer de tudo para não prejudicá-la.
 
Imagem do presidente
Algumas pessoas tentam desconstruir a imagem do presidente. E eu costumo dizer que o presidente do Flamengo é a pessoa mais importante dentro do clube. Tira o nome do Eduardo aí. É o presidente, seja ele quem for, que venha de outra chapa ou não, esse presidente não pode ser atacado ao nível pessoal. Não falo de decisões, claro. Todos os rubro-negros deveriam ter isso em mente: na hora que você expõe o presidente do Flamengo, você expõe a instituição. O Eduardo não faz nada sozinho e nunca fará, só que eu costumo dizer que o presidente do Flamengo é 24 horas por dia, sete dias por semana. Imagina a doação que o Eduardo tem, a quantidade de paciência que ele tem, porque ele é uma pessoa pública que se ele estiver almoçando em um shopping e o Flamengo estiver bem o cara vai encher o saco dele, se o Flamengo estiver mal o cara também vai encher o saco dele! E aí, eu acho injusto com a figura do presidente a colocação de algumas pechas nele, e que não são dele. Ninguém hoje valoriza mais ou menos o Eduardo, a gente valoriza o presidente do Flamengo.
 
Maior pressão é a interna
A eleição passou há muito tempo e ainda falta muito tempo para a próxima. Temos que ganhar mais uns cinco ou seis campeonatos até lá. Quanto menos turbulência melhor vai ser para o clube. “Ah, não querem que a gente os pressione”. A gente se autopressiona. Não tem ninguém que pressione mais o clube do que a gente, que doa o nosso o tempo. A gente gasta dinheiro com o Flamengo, a gente viaja para ver o Flamengo jogar, a gente paga do bolso. A torcida pode ter certeza que não tem ninguém que faz mais pressão por resultados, não apenas no futebol, do que a gente.
 
Prisão de Godinho
Foi uma surpresa. Você não pensa que o cara que está ao seu lado será preso. As pessoas falaram: “ah, o Godinho foi coercitivamente conduzido e o Flamengo não tomou nenhuma ação”. Aí eu penso, vou me colocar na figura do presidente agora tá? Se eu tomo uma atitude naquele momento, eu estaria julgando a pessoa. Cada um tem que ter a sua responsabilidade de se tiver alguma coisa errada, tiver risco de expor o Flamengo, sair por conta própria. Eu consigo falar por mim. Mas eu não posso prejulgar determinadas pessoas. Eu não tiraria uma pessoa que foi testemunha em um processo, por mais que eu pudesse achar que essa pessoa poderia ter um envolvimento num crime, porque eu estaria fazendo um juízo de valor. É uma decisão muito forte. Surpreendeu sim e sempre vai me surpreender alguém que esteja fazendo alguma coisa de errado porque integridade é algo que não abro mão para a minha vida. Cabe ao Flávio se defender. Mas se existisse a hipótese de eu expor o clube como vice-presidente, pediria para sair antes.
 
Possível revisão das decisões de Godinho
Não. Porque as decisões do clube não estão delegadas totalmente aos vice-presidentes. Dentro do futebol você tem uma estrutura de profissionalismo muito forte com o Rodrigo Caetano, com o Marcos Biasotto, com o envolvimento do Fred Luz e com o presidente também. No Flamengo ninguém toma decisão sozinho. Para contratar uma empresa de cloud (ver primeira parte da entrevista na íntegra) eu cotei três. Todas as decisões do Flamengo ficam disponíveis no Conselho Fiscal , assim como os processos do Futebol.
 
Novo VP de futebpl
Não tem ainda decisão. O Eduardo disse que vai acumular. O CoDi ainda não entrou nessa discussão (até 6/02, data desta entrevista). Não há necessidade urgente hoje, por tudo isso que falei sobre a estrutura. Teremos um vice-presidente no momento correto. Essa falta de emergência é até um reflexo da organização que a gente conseguiu implementar no Futebol.
 
Reunião com vereadora sobre a Ilha
Tivemos uma reunião com a vereadora Tânia Bastos, foi muito boa a reunião, ela explicou que não é nada daquilo (veto aos jogos). Na verdade ela quer ajudar a fazer bons eventos na Ilha. É uma pessoa que disse que quer ajudar a organizar, que envolveu todos os órgãos governamentais para se fazer um evento ali, eu acho que acabou sendo benéfico para o Flamengo. Acabou nos ajudando.

 
 


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Notícia e opinião de qualidade sobre o Flamengo desde janeiro de 2015