Geraldo Farias
O título pode por parecer uma provocação ao rival, mas não vou empurrar bêbado em ladeira. Vou abordar um respeito real, que merece uma atenção maior de nossos dirigentes e adversários. No domingo passado estive na belíssima Arena Allianz Parque, do nosso rival Palmeiras. O jogo em si fica para outra oportunidade. O que quero abordar aqui é o quanto o torcedor do Flamengo é mal recebido pelo Brasil afora, enquanto na condição de visitante.
Que o Flamengo tem torcida gigante onde quer que chegue nesse Brasil, não é novidade pra ninguém. Onde o Flamengo chega, tem gente. MUITA gente. Capaz de, em algumas ocasiões, ser maior que a torcida local. E o rubro-negro, mesmo o Off-Rio, gosta de ir ao estádio, fazer festa, resenhar com os flamigos, relembrar as glórias do passado e APOIAR o time. Mas o tratamento que nós estamos recebendo dos adversários, é inverso ao que eles recebem quando vão na nossa casa. No Maracanã, o consórcio só falta estender o tapete vermelho e oferecer uma dúzia de pão-de-ló pro adversário. Não vejo problema algum nisso. Quem vai ao estádio, não importa de que lado esteja, tem que ser bem tratado mesmo.
Os fatos do domingo passado beiram a bizarrice. Vamos começar pela venda de ingressos. Venda antecipada? Conceito antiquado né? Para os rubro-negros do estado de São Paulo, mesmo os sócio-torcedores, não tiveram a oportunidade de comprar antecipadamente seu ingresso. Foi uma carga de ingressos destinada aos torcedores do Flamengo que moram no RJ e cruzaram a Dutra. Mas, e pra nós aqui? NADA! A venda de ingressos só aconteceria no dia do jogo. Eu preciso falar que é um cenário perfeito pra dar merda isso, capitão?
Vamos pro dia do jogo. Como já era de esperar e pode ser comprovado nas fotos abaixo, NÓS COMPARECEMOS. Eu tive a felicidade de conseguir meu ingresso com o amigo FlaDarfeiro e sócio-torcedor, Daniel, que ganhou 2 ingressos em virtude do Match Day do Nação Rubro-Negra. Mas muitos não tiveram essa sorte. Quem conseguiu ingresso, chegou no máximo 7 horas da manhã no estádio. Pra um jogo às 11h. A venda abriu somente às 9h, ao contrário do que foi prometido, que seria às 8. A fila se formou e o policiamento para proteger a nossa torcida? Onde estava? Inexistente em um primeiro momento. Esperaram a merda anunciada acontecer pra se fazerem presentes. A principal TO do Palmeiras passou pela nossa fila e como dizem por aqui “causou”. Muvuca, mulheres e crianças caindo no chão, chorando, a fila desfez-se e depois refez-se. Enfim, começou a venda. E logo de cara já dava pra perceber que a quantidade de ingressos seria insuficiente pra atender a Nação Rubro-Negra em São Paulo. Cheguei ao estádio por volta das 9h30m, depois de todo o ocorrido. Fora o fato que você tem que ir camuflado, por causa dessa rivalidade babaca entre Torcidas “Organizadas”, o caminho foi bem tranquilo. Cheguei bem lá. Encontrei com alguns amigos na fila, que já me relataram o ocorrido. Por volta das 10h30m, os portões foram fechados deixando centenas de rubro-negros sem ingresso. Incluindo, Theo, amigo meu de trabalho que estava na fila desde às 7h30m e ficou sem ingresso. E nem entrei no mérito do preço hein. Pro nosso setor, o ingresso era R$ 140, R$ 70 a meia.
Do estádio pra dentro, acabou o sufoco né? Que nada! Com o jogo praticamente definido alguns amigos deram a ideia de irmos mais cedo, se não teríamos de esperar algumas horas após o jogo pra poder sair. Tentamos sair aos 35 minutos do 2º tempo e fomos impossibilitados pela Polícia Militar. Já não daria mais tempo. Teríamos que ficar no estádio por pelo menos uma hora após o jogo. Você que está acompanhando toda essa jornada se deu conta de que o jogo foi no horário do almoço e que pra chegar lá, nem o café-da-manhã direito tomamos? Pois é. Só pra contextualizar. Ao final do jogo, mais uma bizarrice. Pra esperar a torcida da casa sair, eu entendo perfeitamente. Mas o que não consigo entender é: não ter acesso nem à lanchonete? Não ter um serviço ali pra termos alguma coisa pra “enganar o estômago” nesse tempo de espera? Pois é, meus amigos. E assim que foi. Esperamos cerca de uma hora e meia, em nossos lugares, sem poder ter acesso à lanchonete. Bola fora total. Sem falar na perda da oportunidade de renda com isso.
A saída foi tranquila. De volta à camuflagem, com uma camisa encobrindo a camisa dos FlaDarfeiros, fui tomar uma pra curar a ressaca moral pela goleada sofrida por um time perdido em campo!
Recentemente, fui em uma palestra sobre a MLS (Major League Soccer, maior liga de futebol dos EUA) do Thiago Viana (recomendo! Que puder ir, vá! Bom pra conhecimento e networking! Visite aqui) e ele fez o seguinte questionamento: por que uma liga recém-formada, em um país onde o Soccer não é o principal esporte, tem a média de público quase o triplo da nossa? Bem, acho que o texto acima fala por si só e responde parte dessa pergunta. A outra parte, responderei em um próximo post, falando do jogo!
Pra fechar, 3 recados:
1) Palmeiras, a sua arena é belíssima, mas o nível de serviço que você entrega pro seu visitante está aquém da sua história e da imponência do seu estádio. É nobre (aqui vai o trocadilho com o presidente palestrino) e diz muito sobre você também tratar bem quem vai na sua casa. Espero que na próxima vez que eu for aí, vocês já tenham corrigido esses pequenos problemas. Afinal, entendo que não é sempre que você recebe um visitante que, se lhe fosse dada a oportunidade, dividiria o estádio com você em termos de público! Tenho certeza que no jogo do returno, vocês serão muito bem tratados na nossa casa.
2) É o Vasco.
3) Flamengo, olhe para o seu Off-Rio com mais carinho. Relatei uma experiência que tive em São Paulo. Mas já vi jogos nossos em Manaus e em Salvador e SEMPRE tem dessas. Tenho vários outros relatos de amigos por esse Brasil a fora que falam o quanto não somos bem tratados por aí! Atente a isso! Já são tão poucas a oportunidade que temos de estar perto de você. Não deixe que esses fatores transforme um momento que era pra ser mágico em trágico, ok?
Saudações Rubro-Negras.
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