No dia 6 de fevereiro publiquei texto em que dizia que o Flamengo poderia ou ter a sua maior glória ou passar por seu maior vexame. O que se anunciava aconteceu: a vergonha veio. O time de maior investimento do Brasil, em sua melhor fase da história, perdeu para um time de um continente periférico.
Para começar e ser honesto com os leitores, informo que devido a compromissos profissionais não pude ver o segundo tempo do jogo. Assisti o primeiro tempo no refeitório do trabalho onde muitos se reuniram para ver o primeiro culpado entregar o primeiro gol. Matheuzinho, que se sustenta no time apenas pela incompetência da Diretoria do Flamengo em encontrar um lateral-direito à altura, falha numa interceptação simples e em seguida todo afobado comete um pênalti diante dos olhos de um Santos que ao invés de atacar a bola, tentou cercar o atacante adversário.
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Nosso segundo culpado, o goleiro Santos que chegou custando um valor considerável e foi rapidamente alçado a um lugar que nunca fez por merecer, após optar por não ir de encontro a uma bola no gol do Palmeiras, decidiu cercar o atacante ao invés de atacar a bola e contribuiu pro erro de Matheuzinho. É claro, não se pode culpar um goleiro por não pegar pênalti. Santos até que foi bem no primeiro. Mas para quem se acostumou com Diego Alves virando sozinho disputas de pênalti a falta de eficácia e até de ação do arqueiro rubro-negro é pelo menos frustrante.
Frustrante também é o início da segunda passada de Gerson, nosso terceiro culpado. Volante é uma posição delicada. Exige que o jogador tenha presença à frente, mas que não deixe espaços atrás. E todo volante tem direito a um único erro por jogo, aquela entrada mais dura necessária pra parar um jogador insinuante adversário ou aquele agarrão no jogador mais rápido que ele e que aproveitou um espaço pra partir em direção ao gol. Toma-se o amarelo e bola pra frente.
Por isso é INADMISSÍVEL que um jogador da posição leve cartão amarelo em lances como reclamação ou numa simulação ridícula de um pênalti na era do VAR. Gerson decidiu fazer cosplay de Vinícius Pacheco e se jogar ao invés de tentar concluir a jogada. Cartão estúpido com 15 minutos de jogo. Primeiro passo para o que viria a ser sua expulsão em mais um pênalti corretamente marcado, ainda que sem querer.
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Era possível não dar segundo amarelo? Era. Mas também era possível dar amarelo pela falta. A culpa, portanto, é da ideia estapafúrdia de dar um mergulho na área. Gerson -que me emocionou ao voltar- atuou como verdadeiro vilão de histórias em quadrinho e deixou seus companheiros e clube na mão.
E por falar em mãos, esse vexame tem as digitais de Vitor Pereira. Apesar da tentativa reiterada de alguns de passar pano pelo “trabalho que está começando”, Vitor tinha total noção de que vinha para a disputa do mundial. Sabia que precisava ter um time pronto para esse evento, como pontuei anteriormente. Precisava de um time que não tomasse 4 gols e um jogo importante. Um time que em dois jogos que realmente importavam, concedeu 7 gols ao adversário, sem contar bolas na trave.
Vitor Pereira não entregou o mínimo que se esperava dele. E para completar, o treinador terminou o jogo sem o nosso grande diferencial: os meias. Ninguém no Brasil tem o privilégio de ter dois meias da qualidade de Arrascaeta e Everton Ribeiro, e nenhum técnico desde Domenéc teve a coragem de abrir mão dos dois em um mesmo jogo. Vitor Pereira não tem condições de ser técnico do Flamengo. Não importa se é bom, não dá. Não vai ter paz até que ganhe algo de relevante, e sem paz não ganhará algo relevante. Essa saída será adiada, como foi a de Paulo Sousa. Mas o trabalho de Vitor Pereira já morreu.
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E então chegamos ao grande culpado pelo vexame. O homem que tomou a decisão de tirar o atual vencedor de Copa do Brasil e Libertadores, sendo crucial nesses dois títulos e jogando um bom futebol para contratar um técnico perdeu para ele. Apostaram mais uma vez na grife ao invés de na qualidade comprovada e pagamos caro por isso.
E não fez sozinho. Boa parte dos torcedores endossou a troca absurda, todos esses têm suas digitais nesse início de ano ridículo. Utilizaram um jogo e meio ruim nas finais (que tem peculiaridades por serem finais) e jogos nos quais o time tava praticamente de férias, pra criar a fantasia de que “o time tava mal” no final do ano.
O grande culpado pelo vexame alardeou que traria ao menos 3 reforços para o mundial, sendo um deles um extraclasse e que mandou o time pro Marrocos apenas com a chegada de Gerson. O homem que deu quase 20 milhões de euros no Everto Cebolinha, gastando um valor indecente em um jogador que claramente não vale tudo isso. E que agora, pressionado, deve pagar 10 milhões de Euros em um moleque de 18 anos vindo do Santos que é uma verdadeira incógnita. O maior culpado se chama Marcos Braz.
Braz montou o time, demitiu e contratou treinador, fez o planejamento e falhou. E temos que apontar os dedos a essas figuras porque mancharam a história do Flamengo. Dada a atual conjuntura, eu diria que Vitor Pereira não durará muito e que Jorge Jesus terminará o ano como treinador do Flamengo. Longe de ser uma viúva do JJ, essa é minha previsão mas também meu desejo.