Há tempos eu bato na tecla de que o Flamengo está preso em um feitiço no tempo que nos obriga reviver o ano de 2020 eternamente. Como afirmei após a derrota na semifinal do Mundial, a incompetência na hora de contratar faria com que o no meio do ano sairíamos desesperadamente atrás de um técnico no meio do ano.
Essa é a parte fundamental do ciclo, mas ele não se esgota por aí. Nossa torcida tem um ritual de linchamento de seus ídolos muito próprio. Aconteceu em 2020, quando eu ainda não escrevia neste site. Voltamos a ver isso no ano passado, quando comentei a respeito. E os que tacaram pedra, sumiram depois que os mesmos que acusavam de fazer corpo mole, deram dois títulos importantes ao clube. Ou talvez apenas tenham se escondido.
Leia mais do autor: Renato Veltri: O fim do pior Flamengo que eu já vi
Por fim, mais uma vez observei – dessa vez in loco- a torcida chamar de sem vergonha esses jogadores numa das cenas mais patéticas que já vivenciei. Naquele dia, que comentei aqui, os sem vergonhas com mais títulos do país de uma hora pra outra se transformaram em alvos do “vamos virar, Mengo!” quando saiu o empate com o Dell Vale.
Tudo isso decorre de uma campanha recorrente de propagação de ódio aos jogadores históricos ao menor sinal de crise. Enquanto vamos mal, jogadores que até ontem eram brilhantes, viram mimados, sem vontade, paneleiros. Ao vencerem posteriormente, os mesmos que atribuíram esses adjetivos a eles ficam quietos, ficam à espreita para eventualmente sacar o argumento “Fulano só venceu porque fez o que a panela quis”.
Renê, Arão, Diego Ribas, Diego Alves, Rodinei. Todos esses foram transformados em culpados pela má fase mesmo sem sequer entrar em campo. Apesar desse modus operandi, nunca esperei ver Gabigol nesse lugar.
Surpreendentemente, há uma campanha massiva contra o camisa 10 nas redes sociais. Gabriel inegavelmente está em uma má fase. E em um estalar de dedos, o homem que não poderia ser deixado de fora da Copa porque – segundo muitos – decide jogos, agora precisa sair campo.
Primeiramente, é bom que se diga que não estou aqui defendendo a titularidade irrestrita de ninguém. Entretanto, o escândalo feito pelo fato de o autor do gol da Libertadores não ter saído é estarrecedor. E meu espanto dobra ao perceber que faz mais barulho a saída de Pedro do que as escolhas do treinador para entrar.
Pedro saiu enquanto Marinho e Cebolinha entravam em campo. Enquanto alguns ainda têm alguma esperança no segundo, o primeiro simplesmente se provou como não tendo condições de jogar no Flamengo.
O perigo mora ao lado do Flamengo
O investimento da torcida nesse tipo de picuinha tem como consequência extrema deflagrar uma crise sem precedentes no elenco. Gabriel tem aceitado surpreendentemente bem quando é substituído, mas sempre fica a sensação de que isso não é muito sustentável.
Por outro lado, Pedro depois de longo tempo na reserva começou a adotar o lema “quem não chora não mama”, talvez com o próprio Gabigol. O camisa 9 vem dando declarações e demonstrando insatisfação em substituições até quando não está bem na partida, como no último jogo.
O buzz em rede social só contribui pra que os dois entrem em rota de colisão. Uma briga artificial e desnecessária que gera verdadeiras facções dentro das redes sociais.
Desrespeito patrocinado por “falsos rubro-negros”
Já seria ruim o suficiente se esse fosse um movimento espontâneo, mas fica ainda pior ao ver que é orquestrado. Aqueles que lá atrás estavam xingando os jogadores e que tiveram que engolir suas más palavras, se aproveitam da má fase para tentar retroativamente validar seu erro passado.
Esses “biltres” de microfone em mãos distorcem fatos, confundem conceitos e fazem insinuações para jogar torcida contra aqueles que quer detratar. Chega-se então ao absurdo de culpar o Gabigol por uma tomada de decisão errada de Cebolinha, atribuindo isto a uma reclamação do camisa 10 em outro jogo no qual Cebolinha também errou a escolha. Posteriormente essa falas se transformam em apelidos como Gabigordo, GabiNãoGol etc.
Veja bem, nós estamos dando apelidos pejorativos a um dos jogadores mais importantes da nossa história. Aliás, que fique claro: a faixa com a frase “Júnior Bailarino” utilizada para justificar esse tipo de tratamento, não é algo para se orgulhar e reproduzir. Muito pelo contrário.
Enfim, lembrem que Gabriel Barbosa é um aliado, não um inimigo. Trata-se de um jogador que vem sendo crucial para nós há 3 anos. Não deixe que a pilha daqueles que querem estar certos mesmo quando estão errados estrague essa relação.