Há jogadores que, de tão identificados com um clube, acabam por representar uma época. Renato Abreu, no Flamengo, é um desses exemplos.
Apesar de não ter feito parte de uma geração vitoriosa, simbolizou durante os anos em que defendeu o rubro-negro a garra, a vontade de vencer e o espírito de luta.
Poucos jogadores encarnaram tão bem a raça rubro-negra quanto Renato, que chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira em razão dos seus gols e grandes atuações.
É verdade que não era um craque, mas tinha futebol para comandar reações espetaculares e liderança de sobra para contagiar os companheiros de time.
E você, lembra dele quando atuava pelo Mengão?
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Quem é Renato Abreu?
A trajetória de Renato teve início em Santa Catarina, onde iniciou sua carreira como atacante no Marcílio Dias, de onde transferiu-se para o Joinville.
Em 2000, o jogador mudou-se para o futebol paulista, vindo a defender o União Barbarense, pelo qual marcou dois gols antes de se transferir para o Guarani em 2000.
Curiosamente, seus dois únicos gols pelo “Bugre” foram registrados em um confronto contra o Flamengo, em 4 de maio, no Maracanã, durante uma partida válida pela Copa do Brasil, que terminou em 3 a 3. O Flamengo jogou muito mal, apesar da classificação.
Em razão das suas destacadas atuações no Guarani, Renato foi contratado pelo Corinthians em 2001, clube pelo qual conquistou um Torneio Rio-São Paulo, uma Copa do Brasil e dois títulos do Campeonato Paulista.
Sem muito espaço no Corinthians, Renato aceitou a proposta do Flamengo, onde começaria uma nova trajetória na carreira a partir de 2005.
O momento não poderia ser pior, já que o time vinha de um péssimo campeonato estadual, em que nem nas finais chegou e, no Brasileirão, estava a um passo do rebaixamento.
Em um ano sem conquistas, Renato chegou ao final com uma conquista pessoal digna de nota: artilheiro do ano, com 14 gols, feito que se repetiria em 2006, quando marcou 19 gols pelo Fla.
Carreira no Flamengo, títulos e conquistas individuais
O que parecia ser o prenúncio de um período tenebroso felizmente não veio a se confirmar. Se em 2005 o Flamengo foi um time pífio e que lutou para não ser rebaixado, em 2006 a coisa mudaria de figura.
Com uma nova gestão, o Fla seguiu no jejum de títulos estaduais, mas, em compensação, voltou a ganhar um título nacional depois de 14 anos de seca, depois de bater o Vasco na final da Copa do Brasil.
Assim teve continuidade a trajetória de Renato Abreu na Gávea, ao longo da qual alternou períodos de escassez de conquistas e campanhas memoráveis em duas passagens marcantes.
2005 a 2007: vacas magras e muita superação
Ao lado de nomes como Léo Moura, Diego Souza e Souza, Renato foi um dos nomes mais importantes para evitar o rebaixamento do Flamengo em 2005, seu primeiro ano no clube.
Como vimos, ele terminaria uma temporada lamentável para o Flamengo como o maior goleador da equipe. Felizmente, no ano seguinte os ventos mudariam, com o Flamengo voltando a fazer boa campanha em uma competição nacional, com o título da Copa do Brasil.
Renato fechou a competição com a taça e com o posto de vice-artilheiro com seis gols, ao lado de Élber, do Cruzeiro.
Já no Brasileirão, se a 11ª colocação com 52 pontos não animou muito, pelo menos não fez a torcida sofrer tanto como foi no ano anterior.
Em 2007, último ano da primeira passagem de Renato pelo Flamengo, viria o primeiro título estadual, que o Fla não conquistava desde 2004. Aliás, a campanha não foi das mais tranquilas. Na final da Taça Guanabara contra o Madureira, por exemplo, o Fla perdeu o primeiro jogo por 1×0.
Na segunda partida, brilharia a estrela de Souza, que marcou dois gols e de Renato, que faria de pênalti o gol que selou a vitória por 4×2 no jogo decisivo.
2011 a 2013: o começo do fim
Depois de uma passagem pelo futebol árabe, onde defendeu Al-Nasr e Al-Shabab, Renato Abreu retornaria para o Fla em junho de 2010, contratado por ninguém menos que Zico, então diretor de futebol.
Como em 2005, Renato não chegou em um bom momento. Apesar de contar com Vagner Love no ataque, que formou no primeiro semestre uma dupla promissora com Adriano, o time foi mal em todas as competições que disputou. Perdeu até a final do estadual para o Botafogo, depois de emplacar um tricampeonato em cima dos alvinegros nos anos anteriores.
Em uma temporada turbulenta, o time trocou de técnico três vezes. Começou o ano com Andrade, que daria lugar para Rogério Lourenço, que daria lugar para Silas, que por fim seria demitido para dar sua vaga para Vanderlei Luxemburgo.
Renato, por sua vez, reforçaria o time apenas para o Brasileirão, no qual terminou na modesta 14ª colocação com 44 pontos, dois apenas à frente do primeiro clube rebaixado, o Vitória-BA.
O ano seguinte traria algum alento, com a contratação bombástica de Ronaldinho Gaúcho e o título estadual em cima do Boavista.
A propósito, o Flamengo tinha em 2011 uma equipe de respeito, que ficou 17 jogos invicta e que terminou o Brasileirão em 4º lugar, em um G-4 que tinha o Fluminense em 3º e o Vasco na sua tão familiar colocação de vice. O Corinthians foi o grande campeão.
A exemplo da sua primeira passagem, Renato viria a conquistar mais uma vez a Copa do Brasil em 2013, encerrando em definitivo sua passagem pelo Mais Querido.
O talento para cobrar faltas
Se individualmente Renato não se destacava pela técnica, em compensação seu talento para cobrar faltas de todas as formas só era comparável ao de Petkovic.
Mas, diferentemente do sérvio, o Urubu-Rei, apelido que ganhou por causa das suas comemorações usando uma máscara de urubu, Renato cobrava tanto colocado quanto com força. Confira no vídeo abaixo:
Eu diria até que ele é o último grande cobrador de faltas que passou pelo Flamengo, que há alguns anos sofre com a falta de jogadores com essa valência. Entre os seus muitos gols memoráveis, lembro com especial carinho os dois que ele marcou contra o Defensor do Uruguai na Libertadores de 2007.
Se não fosse a atuação desastrosa do juiz Hector Baldassi, certamente teríamos pelo menos descontado os 3×0 sofridos no primeiro jogo e teríamos avançado de fase.
Mas fica para a posteridade a grande atuação de Renato e do time, que foi inclusive aplaudido pela torcida, mesmo com a eliminação.
Foram tantos gols de falta, entre outros com bola rolando, que Renato, mesmo sendo meia, está entre os maiores artilheiros do Flamengo no século XXI, com impressionantes 73 gols.
E hoje, por onde anda Renato Abreu?
Renato voltou a ganhar destaque na mídia, depois de aparecer no treinamento do Flamengo em Orlando, onde a equipe se prepara para enfrentar o Orlando City.
Há alguns anos Renato Abreu vive nos Estados Unidos, a maior parte do tempo na cidade de Orlando, onde é treinador da escolinha do Orlando City em Celebration.
Embora não seja cria da Gávea, ele continua totalmente identificado com o Mengão, time pelo qual suas filhas torcem.
Renato Abreu é, com muita justiça, um dos ídolos rubro-negros que fizeram história no clube, principalmente pelos gols, raça e empenho que sempre deixou em campo. A Nação agradece!